Camila Maccari, especial
Laura* encontrou na massagem tântrica uma ferramenta para conhecer o próprio corpo e a própria sexualidade. O fim do casamento foi fundamental para que ela decidisse encarar um problema enfrentado nas últimas duas décadas: nunca havia tido um orgasmo com o então marido.
– Quando busquei a massagem tântrica estava me sentindo vazia, perdida e sem perspectiva. Já na primeira sessão descobri que tinha algo errado com a forma como me relacionava com a minha sexualidade – conta.
A terapeuta tântrica Paula Fernanda afirma que a experiência de Laura encontra eco na de muitas mulheres que buscam esse tipo de massagem:
– Não conseguir chegar ao orgasmo com o parceiro é uma das maiores queixas que recebemos, principalmente de mulheres que tem orgasmo na masturbação mas não conseguem com o parceiro. Muitas chegam com o problema de ter perdido a sensibilidade pelo uso excessivo de vibradores e tem, também, as que nunca tiveram um orgasmo. Sempre tentamos entender de onde vem essa dificuldade. Às vezes, falta atenção no toque, em outras, a mulher tem vergonha de se expressar sexualmente, ou ainda há algum trauma ali. São vários motivos que impedem que uma mulher chegue ao orgasmo. Dependendo do que ela trouxer, nós direcionamos a sessão – explica.
Pela primeira vez durante quase uma década fazendo massagens tântricas, Paula conta que os clientes se equilibram entre homens e mulheres – antes disso, os homens eram maioria.
– As mulheres estão buscando mais prazer sexual, não estão mais se satisfazendo em ver que o parceiro as deseja. A massagem tântrica é excelente para ensinar tanto a elas quanto a eles sobre os caminho para se libertar de si mesmo e das memórias que estão no corpo e sentir mais prazer – diz.
Mas não são apenas as questões relacionadas diretamente à vida sexual que levam quem experimenta a massagem tântrica a seguir investindo tempo e dinheiro – uma sessão custa cerca de R$ 350. A empresária Rossana*, de 44 anos, recebeu o convite para experimentar a massagem tântrica há sete anos, quando acabava de se recuperar de um tratamento de câncer na região isquiática.
– A primeira experiência já foi incrível: meu câncer foi em uma área que tem relação direta com a sexualidade e a massagem foi transformadora. A partir dela consegui me conectar com meu corpo novamente e ter consciência corporal. Depois disso, recebia massagens uma ou duas vezes por mês – conta.
Como funciona uma sessão
A massagem tântrica trabalha diretamente com a energia sexual e, para Paula, os resultados costumam ser sentidos de diversas maneiras.
– Quando você termina uma sessão, está tomado de hormônios que aumentam a sensação de bem-estar e alegria. Isso aumenta a criatividade, a vitalidade, a libertação do próprio corpo.
Sentimentos que foram percebidos por ambas e que transformam a massagem tântrica em ferramenta para expansão da consciência espiritual e corporal – cada vez mais em voga em quem busca alinhar corpo e mente para viver com harmonia e bem-estar. Tanto que, de acordo com Paula, muita gente procura as sessões sem um objetivo específico, mas em busca do autoconhecimento.
No meu caso, decidi experimentar uma sessão em um período de muito trabalho e insônia frequentes, onde era mais do que comum passar uma noite inteira sem pregar o olho. Procurava por qualquer coisa que me ajudasse quando li sobre o relaxamento que a massagem prometia.
Cheguei para a sessão em uma sala grande, separada em duas partes por uma cortina leve e transparente. De um lado, duas poltronas, onde você se senta diante da massoterapeuta (que pode ser mulher ou homem) para uma conversa tranquila, em que, entre outras coisas, vai ser lembrada de prestar atenção na própria respiração: é através dela que você vai se conectar com o toque e com o corpo. É nesse papo também que você explica seu objetivo, pode fazer e responder perguntas e alinhar as expectativas.
Se, por exemplo, não quiser receber a yoni, massagem feita no genital feminino e que promete liberar a tensão, fazer circular a energia sexual e trazer satisfação, pode avisar. É só depois da conversa que você pode se preparar, tirar a roupa e deitar para receber a massagem.
– Tem gente que chega com tanta vergonha que não quer tirar a roupa toda numa primeira sessão e não precisa se não estiver preparada. Tem sessões em que não ocorre nem a massagem e funcionam mais na conversa para a pessoa compreender o processo – explica Paula.
A experiência está em descobrir o caminho do orgasmo, é algo próprio de cada um, saber como cada corpo funciona
PAULA FERNANDA
terapeuta tântrica
Como acontece com frequência com qualquer coisa relacionada ao tantra, o imaginário tende a interpretar a massagem tântrica com uma massagem erótica. Tanto que, ela explica, muita gente ainda sente dificuldades de entender os limites da massagem:
– Acreditamos na massagem cocriada, onde quem recebe pode dizer o que gosta e o que não gosta, pode direcionar o toque do massoterapeuta. Mas vale lembrar que o toque é sempre unilateral, quem recebe não pode tocar o terapeuta. Não é uma massagem sexual, trabalha com a energia sexual, libera o potencial orgástico, mas não é uma massagem erótica, não tem sexo de nenhum tipo envolvido.
Daí a chegar ou não ao orgasmo vai depender da experiência de cada um:
– Pode acontecer, mas o foco não é nos orgasmos, e sim no autoconhecimento. A experiência está em descobrir o caminho do orgasmo, é algo próprio de cada um, saber como cada corpo funciona – diz.
Os resultados
Faz nove anos desde que Laura teve a primeira experiência com a massagem. Ela conta que levou um ano de sessões semanais até conseguir ter um orgasmo com o parceiro.
– Desde então continuo a enriquecer ainda mais a conexão com a minha sexualidade. Hoje tenho orgasmos fantásticos com meu companheiro e posso dizer que sou outra pessoa depois do tantra. Acredito ser a terapia mais completa porque acessamos muito além do corpo, nossas dores, os traumas e os bloqueios – acredita.
Para Rossana, as massagens entraram na agenda com uma frequência mensal e devolveram a consciência corporal. A experiência positiva a levou a participar de retiros e dinâmicas tântricas – onde, inclusive, conheceu o atual marido.
– Comecei a perceber meu corpo de uma forma diferente, percebê-lo energeticamente, escutá-lo. A gente cuida muito da mente, do cognitivo, do intelectual, ou cuida do corpo com alimentação e exercícios, e esquece da questão energética. Na minha percepção, o tantra dá a nutrição, o encaixe que os corpos precisam. Começamos a ler o corpo e atender as necessidades dele. É algo transformador.
Para quem quiser experimentar ou busca como forma de relaxamento, Paula afirma que uma sessão mensal já é suficiente.
– A pessoa vai dizer o que precisa para que sua intenção seja atingida. Mas uma coisa é certa: quando estamos tendo prazer sexual, o melhor do nosso corpo é ativado e é através do prazer que abrimos nosso coração. Nos tornamos mais amorosos, tolerantes, calmos, compreensivos e abertos para a vida – finaliza.
Uma coisa interessante é que, mesmo sem carga erótica alguma, a gente percebe o potencial de prazer constante que é o corpo – e que, muitas vezes, apenas não prestamos atenção. É uma experiência que vale a experiência. De qualquer forma, naquela noite eu dormi como anjo.
* Os nomes foram trocados a pedido das entrevistadas