Home office, cuidado dos filhos, limpeza da casa, refeições da família, passeio com o pet... Quem aí já ficou esgotada só por ler essa extensa lista de tarefas? Pois é, as pesquisas apontam que as mulheres estão dando conta de tudo isso durante o confinamento e mais: a maioria delas também bate o martelo sobre as decisões do orçamento doméstico.
Um levantamento da Federação Brasileira de Bancos, a Febraban, realizado em julho, mostra que 56% das mulheres entrevistadas administram as finanças da casa. Na pandemia, a vida escolar dos filhos também recai sobre 71% delas, além das tarefas domésticas - mais de 60% limpa a casa e prepara as refeições da família. Nesse cenário, o desafio de gerenciar o dinheiro em meio à crise econômica fica ainda maior.
— Notei um aumento de mulheres que tiveram a renda familiar reduzida e, por isso, precisaram olhar para esse assunto de outra forma. Antes, elas acabavam dando um jeito, empatavam no fim do mês, e agora não tem como. Estamos em um momento delicado e isso reflete também no dinheiro — avalia a consultora financeira Leila Ghiorzi.
Já a economista e educadora financeira Janile Soares identifica que o público feminino também tem demonstrado uma preocupação maior com os investimentos nos últimos meses. Na opinião da especialista, o foco de boa parte das mulheres é como se organizar para, mesmo com pouca grana, aplicar bem o dinheiro e colher os frutos no pós-coronavírus:
— É uma preocupação de saber se está indo para o lado certo. Muitas mulheres estão buscando auxílio de profissionais nesse momento para conversar e entender qual caminho seguir.
É possível manter as contas em dia mesmo com a sobrecarga de tarefas e, muitas vezes, com a renda reduzida? Dá tempo de fazer tudo isso? Posso dar o primeiro passo para organizar a vida financeira agora na crise? As especialistas Leila e Janile compartilharam algumas dicas para as mulheres não escorregarem no cuidado com o dinheiro durante a pandemia. Leia a seguir:
Fale!
Dinheiro não deveria ser tabu: coloque o assunto na mesa para a família, indica Leila. Expor a situação e encará-la de frente é o primeiro passo para organizar as finanças -principalmente em momentos de crise econômica. Janile ainda vai além:
— Para alguns casais, esse assunto é velado. Atendo mulheres casadas há anos que não sabem o quanto o marido ganha, ou que passam todo o dinheiro para ele gerir. A dica é: se não puder fazer o orçamento doméstico da família, faça o seu. Comece com a sua organização financeira.
Os fixos
Faça uma lista de contas fixas. Pode ser no computador - no Excel, para ficar mais fácil de calcular -, num papel, onde quiser. Liste as contas que sempre vêm todo o mês, como aluguel, condomínio, água, luz, telefone etc.
— O cartão de crédito geralmente vemos como uma conta, mas ele é um meio de pagamento. Tem aplicativos de streaming, de comida e de transporte, por exemplo. Precisamos ter um controle detalhado do mês para saber o que gastamos sempre — diz Leila.
Os variáveis
Depois, a consultora recomenda uma estimativa de gastos variáveis. Não consegue anotar tudo o que gastou no dia? Tudo bem, tranquiliza Leila. Estabelecer um limite de gastos variáveis pode ser o caminho. A dica é pensar nessa quantia por semana: por exemplo, R$ 200 para supermercado, gasolina e tudo o que não está nos gastos fixos. Fazendo isso, evita-se a surpresa do "não sei para onde meu dinheiro está indo".
Repense a rotina
E se você já tinha esses hábitos de organização das finanças, agora é a hora de um novo pente-fino nas contas, indica Janile:
— Ninguém está ganhando a mais para trabalhar em casa. No frio, você não vai deixar de ligar o ar-condicionado para se aquecer, por exemplo. Vai gastar mais luz, água, precisa fazer uma gestão que envolva esse novo momento da família.
Como gerenciar
Para administrar, principalmente, os gastos variáveis, há algumas alternativas. O cartão de crédito pré-pago, que funciona como uma conta de celular, é uma das opções.
Outro caminho é ter uma conta-corrente específica para os gastos variáveis, indicação de Leila para boa parte dos casais. Cada um mantém um cartão da conta-conjunta e, quando chegar na metade do mês, é preciso ter 50% do valor estipulado ainda disponível.
Fuja dos vilões
Identifique seus gatilhos de compras e tome medidas para evitá-los.
— Cartão de crédito ao lado do notebook? Nem pensar. As compras online desnecessárias são um dos vilões dos gastos agora — explica Janile.
Pagar no débito e no dinheiro ajuda a coibir mais a compra por impulso também, porque "dói" mais.
LEILA GHIORZI
CONSULTORA FINANCEIRA
Quer economizar dinheiro? Então, tente "dificultar" os gastos. Leila dá alguns exemplos: desinstale aplicativos de entrega de comida, descadastre os cartões de crédito das lojas que você já tem conta online, cancele os e-mails com promoções.
— São estratégias para pensar na hora de comprar, antes de tomar a decisão. Pagar no débito e no dinheiro ajuda a coibir mais a compra por impulso também, porque "dói" mais.
Invista - mesmo que pouco
Mesmo que seja um pouquinho, invista! Organize-se para fazer sua grana multiplicar devagarinho, mesmo na crise, indica Janile:
— Não vai te deixar rica, mas é hábito, vamos tomando gosto aos poucos. Ver um dinheiro crescendo, mesmo que pouco, ajuda a ter ânimo para planejar e se organizar.
Já está no vermelho? Não se desespere!
Para começar, Leila recomenda que você faça uma lista de todas as suas dívidas. Depois, veja quais de fato você não pode deixar de pagar, como aluguel e condomínio.
— Sei que não é fácil fazer essas escolhas. A questão é olhar o orçamento e pensar o que eliminar, focando em seus gostos e qualidade de vida — pondera a especialista.
O lazer não pode ficar totalmente de lado, alerta Leila. Ela ressalta que ser muito radical pode gerar um "efeito rebote":
— Por exemplo, "nunca mais vou comprar roupa". Daí a mulher entra no site e compra mais do que compraria antes dessa promessa. De repente, vale pensar na TV a cabo e no serviço de streaming, talvez eu não possa ter as duas opções nesse momento. Com esse tipo de análise, dá para reduzir os custos que não enxergamos, chamados de gastos fantasmas.