Considerando o estado de calamidade pública instalado em diversos municípios do Rio Grande do Sul, a atenção à alimentação de bebês e crianças torna-se ainda mais crucial. Em meio a desafios de acesso a recursos básicos e serviços de saúde comprometidos, garantir a nutrição adequada dos pequenos é essencial para o seu desenvolvimento.
A amamentação é uma das formas mais importantes de fornecer os nutrientes necessários aos bebês nos primeiros meses de vida. O leite materno é rico em anticorpos que ajudam na proteção contra diversas doenças, no fortalecimento do sistema imunológico, na prevenção de alergias e infecções, além de promover o desenvolvimento cognitivo e emocional. É importante que mulheres que amamentam também estejam bem alimentadas e hidratadas para garantir a produção de leite neste momento difícil.
A seguir, dicas que podem ajudar as pessoas que estão prestando assistência em uma das maiores correntes de voluntários da história do Estado.
Cuidados até os seis meses
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orienta que os bebês sejam alimentados exclusivamente com leite materno nos primeiros seis meses de vida. Ele é considerado o alimento mais completo nesta fase, sem necessidade de incluir demais alimentos, chás, sucos ou outros tipos de líquidos.
Importante: é contraindicado uma mulher amamentar o bebê de outra mulher. Isso é o que chamamos de amamentação cruzada. Essa prática aumenta o risco de transmissão de doenças infectocontagiosas. O ideal é sempre usar esse recurso quando vindo de banco de leites.
Mais foco na hidratação materna
É importante que a mãe tenha uma dieta saudável e equilibrada durante o período de amamentação, evitando o consumo excessivo de alimentos industrializados e cafeína, por exemplo. Nos abrigos, a hidratação é importante, mesmo quando a pessoa está passando por um momento de forte estresse. Os voluntários estão atentos a isso.
O uso das fórmulas infantis
Quando a amamentação não é possível, o Ministério da Saúde orienta o uso adequado da fórmula infantil, incluindo a preparação correta e a higienização das mamadeiras. Existem diferentes tipos de fórmulas, como à base de leite de vaca, à base de soja e especiais para necessidades específicas, como alergias ou intolerâncias alimentares. A escolha deve ser encaminhada pelo pediatra, levando em consideração as necessidades nutricionais do bebê.
Importante: a higienização e a manipulação das fórmulas precisam de cuidado redobrado, pois as crianças possuem menos imunidade do que os adultos. Pequenos com alergias alimentares devem, sempre que possível, ter um local separado de armazenamento dos seus utensílios.
Auxílios da prefeitura
A Secretaria Municipal de Saúde foi afetada com a enchente e atualmente está operando no auditório do Centro de Saúde IAPI (Rua Três de Abril, 90). Quem tem cadastro e já faz uso de fórmula nutricional oferecida pelo SES/RS poderá retirar o tratamento mediante documentação (recibo de dispensação da última prescrição, declaração de perda de terapias nutricionais).
Muitas fórmulas estão em falta, além da dificuldade de fazer cadastros para atender novas demandas. Com isso, a orientação da SMS para quem precisa de suporte é preencher o seguinte formulário: gzh.digital/FormulárioFórmulasInfantis.
As doações têm sido cruciais para suprir a necessidade de fórmulas nutricionais para tantas pessoas em situação de vulnerabilidade. A própria secretaria está administrando parte dessas doações. Para quem quer doar, a orientação é preencher o seguinte formulário: gzh.digital/FórmulasInfantisDoações.
Nutricionistas voluntários
Profissionais da nutrição visitam os abrigos para orientar e auxiliar em toda parte de alimentação, manipulação e distribuição das refeições não só das crianças, mas também dos adultos. Pessoas com necessidades especiais também recebem suporte e, assim, conseguem ter suas necessidades individuais respeitadas.
A nutricionista Allana Sulzback está à frente da administração e distribuição de fórmulas nutricionais em Porto Alegre e Região Metropolitana, junto a outras nutricionistas voluntárias. Por meio de doações, ela mapeia a carência dentro dos abrigos e atende essa demanda de pessoas não cadastradas ou que não conseguem sua fórmula alimentar pela rede pública. A partir disso, distribui ou faz a compra das fórmulas nutricionais e também dos materiais necessários.
Dentro dos abrigos, os voluntários podem ajudar a encontrar e direcionar para o cadastramento ou atendimento de nutricionistas também voluntários.
Paula Mar Pinto é nutricionista clínica por formação, mas se considera uma "facilitadora de experiências saudáveis". Depois de muito brigar com a balança, resolveu se aliar a ela. É autora do projeto E Agora, Nutrinha?.