Da Região Metropolitana ao Vale do Rio Pardo, mulheres e crianças vítimas das enchentes que castigam o RS nas últimas semanas agora têm direito a espaços de acolhimento exclusivos. A proposta é garantir mais segurança e privacidade às acolhidas individualmente ou com seus filhos.
É o caso de Ingrid Gonçalves Nunes, 22 anos, mãe da pequena Angel, de apenas 17 dias, que nasceu prematura, na 37ª semana de gestação. A jovem morava com a família, no bairro Várzea, em Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo. Eles ainda estavam no hospital quando souberam que a casa havia sido alagada. Ela recebeu alta e não tinham para onde ir.
O acolhimento ocorreu na Casa de Passagem, onde ela e o bebê receberam quarto privativo com berço, roupinhas, fraldas e demais itens necessários. A mãe de Ingrid, o padrasto e três irmãs estão no Parque da Oktoberfest, onde as famílias são acolhidas pela prefeitura.
Foram as assistentes sociais do município que identificaram a necessidade de um local privativo e encaminharam a jovem para o abrigo, que fica em uma localidade sigilosa, pois também recebe mulheres com medida protetiva e foi aberto excepcionalmente para as desabrigadas.
Em Porto Alegre, foram montadas três estruturas com o mesmo objetivo. As iniciativas partiram da prefeitura, do Ministério Público, da Defensoria Pública, do Tribunal de Justiça do Estado e da Assembleia Legislativa, com apoio das polícias Civil e Militar.
No bairro Cristal, na Zona Sul, o local escolhido foi a Paróquia São Martinho, onde foram disponibilizadas 60 vagas para mulheres e crianças. Meninos são aceitos até 12 anos.
Outro abrigo foi montado no prédio do antigo Foro Regional do Partenon, na Zona Leste. Segundo a promotora Ivana Battaglin, que participou do planejamento da iniciativa, o espaço foi montado nos andares superiores e conta com cerca de cem vagas.
— Neste local, ficarão apenas mulheres que estão sozinhas, devido às estruturas que não estão adequadas para as crianças — explica a promotora.
A terceira opção na Capital, o Espaço das Aliadas, fica no Square Garden da empresa Melnick, na esquina das ruas Silva Só e Felipe de Oliveira, no bairro Santa Cecília. No local, serão disponibilizadas 98 vagas. Há agentes da Brigada Militar e da Polícia Civil fazendo a segurança. Os encaminhamentos para acolhimento são feitos pela prefeitura.
Em Viamão, na Região Metropolitana, também há acolhimento para mulheres. Segundo a delegada Marina Dillenburg, titular da Deam da cidade, as mulheres são recebidas no abrigo Flor da Maçanilha, na RS-040.
Foco na prevenção
Segundo a delegada Cristiane Pires Ramos, diretora da Divisão de Proteção à Mulher de Porto Alegre, os locais não substituem os abrigos para mulheres vítimas de violência doméstica, que permanecem em funcionamento em paralelo a essa ação. Além disso, a delegada esclarece que não há ocorrências policiais de casos de assédio ou violência sexual contra mulheres abrigadas na Capital, mas que o foco é justamente a prevenção.
— Esses abrigos surgem para prevenir. Tem muita fake news circulando, muitas denúncias falsas, o que atrapalha o nosso trabalho. Temos já estruturados locais para receber mulheres com medidas protetivas. Elas seguem tendo esses locais. Com essas novas estruturas, podemos oferecer um pouco mais de dignidade e segurança às desabrigadas — pontua.
A defensora pública Paula Simões Dutra de Oliveira destaca que a ação iniciada na Capital pode se expandir para outras cidades. Ela pontua que os defensores públicos em atuação nas cidades menores com volume expressivo de abrigados, onde não há este tipo de espaço, receberam orientação para entrar em contato com as prefeituras para tratar sobre o tema.
— Essa é uma preocupação que, desde o início desse cenário que tomou conta do nosso Estado, a Defensoria tem demonstrado em relação à preservação das mulheres e das crianças, que são grupos vulneráveis, ficam muito expostos a riscos em ambientes improvisados, coletivos, em que pessoas que não se conhecem acabam sendo alojadas num único espaço de compartilhamento que vai se estender a prazo indeterminado — diz a defensora.
Segundo Paula, a próxima medida que está no radar da Defensoria Pública é a criação de espaços voltados a gestantes e puérperas.
— Proporcionar um ambiente acolhedor, protetivo, que essas mães, dentro do caos que se estabeleceu, possam prestar os cuidados básicos para esses bebês é fundamental. Então esse hoje é um objetivo da Defensoria. E já te adianto que a gente está em articulação nesse sentido.
Abrigos exclusivos para mulheres
Porto Alegre
- Paróquia São Martinho: Rua Coronel Claudino, 220 — Cristal, Zona Sul
- Foro Regional Partenon: Rua Coronel Aparício Borges, 2.025 — Partenon, Zona Leste
- Espaço das aliadas: esquina das ruas Silva Só e Felipe de Oliveira — Santa Cecília, região central
Santa Cruz do Sul
- Casa de Passagem: fica em local sigiloso, pois, além desabrigadas, também recebe mulheres com medida protetiva
Viamão
- Abrigo Flor da Maçanilha: RS-040, km 15, Passo do Vigário, Viamão
Como pedir ajuda
Em situações de abuso ou importunação sexual, as mulheres podem pedir ajuda pelos seguintes contatos:
- Emergências: 190
- Disque Denúncia SSP: 181
- Disque Denúncia Polícia Civil: 197
- WhatsApp Polícia Civil: (51) 98444-0606
- Delegacia Online: www.dol.rs.gov.br