A tragédia climática que assola o Rio Grande do Sul nas últimas semanas tem mobilizado ações de solidariedade por todo o país. Entre as tantas demandas provocadas pelas enchentes, está a necessidade de roupas, especialmente as de tamanhos grandes.
Conforme indicado pelos abrigos cadastrados na plataforma SOS-RS, artigos de vestuário e peças íntimas no segmento plus size configuram itens de "necessidade urgente" para os acolhidos. Muitas roupas chegam a essas localidades, mas a maioria não contempla aqueles que vestem tamanhos acima do 46.
A situação impulsionou Viviane Lemos, coordenadora da BPSPOA Feira de Moda Plus Size, a começar uma campanha de arrecadação e compra de peças para serem destinadas aos pontos de acolhimento. Trabalhadora do setor há anos, a empreendedora passou a receber diversos pedidos. Algumas mensagens, segundo ela, vinham com relatos de pessoas que estavam há dias com a mesma roupa, enquanto outras citavam vítimas que precisaram se enrolar em lençóis pela falta de uma vestimenta que as servisse.
— Entendemos que teríamos que nos juntar para separar essas roupas, porque, caso contrário, não ia ter. Se não tem para comprar, imagina para doação. Então, passamos a arrecadar moda plus size feminina e masculina. Além disso, criamos um Pix para que pudéssemos comprar calcinhas e cuecas — diz.
Viviane passou a incentivar sua rede de contatos a realizar a arrecadação, disponibilizou um endereço em Porto Alegre para receber as doações e deu início às entregas. Para isso, a empreendedora criou um site para que os abrigos e outras vítimas manifestassem suas necessidades e também para que ela pudesse prestar contas do seu trabalho.
Através da chave Pix, ela vem somando recursos para a compra de peças íntimas e de vestuário masculino, já que são as que estão chegando em menor quantidade.
— A demanda está cada vez maior, assim como os pedidos de doações. Quero ver as pessoas abrigadas com roupas e não com lençóis, como vi em fotos. Essa iniciativa é para tentar proporcionar o mínimo de dignidade — ressalta.
Um trabalho de muitas mãos
A designer de moda Lethícia Fernandes também encontrou na arrecadação de roupas em tamanhos grandes uma forma de auxiliar os atingidos pelas chuvas. A gaúcha é estilista da Ashua, marca de moda plus size das Lojas Renner. Dessa forma, por estar envolvida no segmento, acabou tomando conhecimento sobre a crescente demanda no Estado.
— Passei a receber muitos pedidos no WhatsApp, no Instagram, de abrigos precisando. Naquele momento, o recado era que roupas não eram prioridade, mas, ao mesmo tempo, estava recebendo muitas mensagens de pessoas falando que não tinham o que vestir — conta.
Moradora de Porto Alegre, Lethícia está recebendo doações. Ela se uniu a Viviane e a outros voluntários para realizar a distribuição de forma efetiva em abrigos da cidade e na Região Metropolitana.
— A demanda é muito maior do que aquilo que temos. Tem sido uma situação mais urgente, principalmente porque as pessoas não estão tendo como lavar roupas. E nós temos recebido muitas mensagens. A minha dúvida é: eu não sei se estamos recebendo essas mensagens porque estão chegando mais pessoas nos abrigos ou porque as pessoas estão descobrindo o nosso trabalho.
Para possibilitar outra forma de contribuição, a designer também abriu uma chave Pix para a compra de peças de forma emergencial. Ela pondera que existe uma dificuldade nesse sentido, considerando que muitos comerciantes foram impactados pelas enchentes.
— Grande parte do movimento plus size está centralizado mais em São Paulo. Quando olhamos para cá, vemos que há muitas lojas pequenas, informais, de pequenos empreendedores, e muitos deles também foram afetados por essas chuvas. Nós mesmos estamos tendo dificuldades de comprar.
Um olhar para a confecção
Amanda Momente é CEO e fundadora da Wonder Size, marca de moda plus size. Referência no setor, ela trabalha há sete anos com tamanhos entre 42 e 66, e abriu o próprio negócio por entender a falta de oferta de vestuário de qualidade em tamanhos maiores.
Com fábrica em Santa Catarina, a empresária passou a receber inúmeras solicitações de novas peças com o início da tragédia climática no Rio Grande do Sul. A partir da doação de tecidos vindos de empresas e de pequenos empreendedores, ela começou, então, a produzir calcinhas, conjunto de moletons, leggins e tops para destinar às vítimas, com foco em tamanhos acima do 56.
A mobilização foi se expandindo até o ponto que ela optou por divulgar nas redes sociais as modelagens de seus produtos, para que costureiras e ateliês de todo o Brasil pudessem ajudar na produção. Uma das preocupações era de que os modelos fossem pensados para atender diferentes formatos e proporções de corpos.
— Eu estou disponibilizando as minhas modelagens, que é o meu capital intelectual. Isso deu uma escalabilidade absurda, porque vários ateliês que queriam ajudar, agora estão ajudando de forma correta, com modelagens certas. Conforme (as peças) vão ficando prontas, vamos enviando e distribuindo porque existe esse senso de urgência — conta Amanda, que acabou tomando a frente de uma grande rede de voluntários.
A primeira leva somou mais de 768 peças e foi enviada à BPSPOA Feira de Moda Plus Size, que ficou responsável por encaminhá-las aos abrigos. Amanda enfatiza a importância do trabalho em equipe nesse momento, pensamento que se estende a Viviane Lemos e a Lethícia Fernandes.
— Eu não estou fazendo nada sozinha. Eu consegui tudo isso por pura colaboração de uma comunidade que eu tenho, que é incrível. Todas essas pessoas se sensibilizaram e se colocaram no lugar daqueles que não tinham nem uma calcinha para por — reflete.
O engajamento com a pauta tem sido intenso nas redes sociais, com apoio de influenciadoras digitais, como Lettícia Munniz, Jéssica Lopes e Ju Romano. Amanda destaca que é importante que a contribuição da população continue, já que a demanda vai perdurar mesmo após as vítimas voltarem para casa, uma vez que muitas perderam tudo.
Como ajudar as iniciativas
Os Correios de todo o Brasil estão recebendo donativos, e roupas fazem parte dos itens que estão sendo recolhidos para distribuição. Para qualquer ponto de coleta, seja nas agências da entidade, em empresas privadas ou para arrecadação de voluntários, é importante que o doador embale e aponte o tipo de material que está entregando.
No caso de vestuário plus size, a identificação do tamanho e do tipo de peça presente na embalagem auxilia ainda mais na hora de encaminhar para o local com maior necessidade daquele item.
Para contribuir com as iniciativas citadas neste texto, entre em contato pelos canais digitais ou envie um Pix:
- BPSPOA Feira de Moda Plus Size (@bpspoa.feira): caso queira doar ou solicitar doações, acesse o site feirademodaplussizeportoalegre.my.canva.site/feiradoacoes. Para viabilizar a compra de peças para os abrigos, envie um Pix para a chave 26.423.527/0001-12 (CNPJ);
- Lethícia Fernandes (@lethisssss): para doações de roupas, entre em contato através do perfil @lethisssss no Instagram;
- Wonder Size (@wondersizebr): voluntários, costureiros, fornecedores e fabricantes têxteis que queiram doar tecidos ou auxiliar na produção, entrem em contato pelo Instagram @wondersizebr. As modelagens de peças foram disponibilizadas neste link. Doação de recursos podem ser realizada para a chave Pix 37.208.265/0001-90 (CNPJ)
*Produção: Carolina Dill