Muitas famílias ativaram o “modo de sobrevivência” para dar conta de todas as demandas que, de uma hora para outra, passaram a entrar na rotina diária.
Mas, antes mesmo de encarar home office e aulas das crianças em casa, as autocobranças em relação ao que sempre idealizaram para a educação dos filhos afligem as mães. E nem sempre é fácil desapegar dessas culpas.
Por isso, levamos a questão para o Grupo de Mães Donna no Facebook: afinal, você já “pagou a língua” em algo que sempre imaginou que não faria com seu filho? Por lá, as mamães abriram o coração e conversaram sobre algumas situações que tentam evitar no dia a dia com os pequenos. No bate-papo, muitas desabafaram sobre a frustração de não conseguir evitar que as crianças assistam TV por tanto tempo – sobretudo no último ano. Para dar conta da reunião online, a saída era, muitas vezes, a maratona de desenhos animados.
A seguir, veja outras situações lembradas pelas mães:
Hora de largar o bico
"Pagar a língua é o que mais tenho feito desde que engravidei pela primeira vez. Foram muitas coisas idealizadas e não colocadas em prática. A mais icônica foi o bico, que jurei de todas as formas que jamais daria, mas depois de 10 noites sem dormir, exausta, implorei para o meu marido pedir na telentrega da farmácia de madrugada porque não aguentava mais. A prática é totalmente diferente, então hoje não julgo absolutamente nenhuma mãe. Cada uma faz o que está ao seu alcance dentro da própria realidade.”
Semadar Jardim Marques, 40 anos, de Porto Alegre. Mãe do Samuel, nove anos, e da Alice, de 10 meses.
“Dizia: ‘Bico é só para acalmar. Resultado: meu filho chupou bico até os cinco anos.”
Charline Raskopf, 36 anos, de Canoas. Mãe do Matheus, seis anos, e grávida da Nicole.
Na cama dos pais
"Sempre dizia que, aos três meses, minha filha iria para o quartinho dela. Doce ilusão. Aqueles três meses se foram, e ela era tão pequena, acordava muito para mamar, nunca pegou chupeta e acabou fazendo meu peito de ‘aconchego’. Outros meses passaram e novas “desculpas” chegaram. Com quase dois anos, ela ainda dormia comigo e com o pai. Quando nos mudamos, fizemos um quarto com princesas e bailarinas e aí ela quis dormir lá.”
Alexandra Turella, 36 anos, de Canoas. Mãe da Carolina, três anos.
TV em excesso
"Expectativa: ‘Meu filho nunca vai fazer refeição mexendo em tablet. Meu filho só vai olhar telas depois dos dois anos’. Realidade: ‘Filho, pega aqui esse tablet para a mamãe poder tomar café da manhã’. Teve um tempo em que me culpei, depois entendi que minha saúde mental importa muito e tomar café da manhã quente e de forma tranquila, para mim, é importante. Resolvi aceitar que todas nós erramos em algumas coisas e que estava tranquila quanto às minhas escolhas.”
Carina Alves Prola, 32 anos, de Santana do Livramento. Mãe do Arthur, três anos, e da Isabela, cinco meses.
“Na pandemia, para ter um pouco de tempo, seja para respirar ou trabalhar, chegamos a colocar uma das gurias em cada TV. Maratonaram todos os desenhos da Netflix... Não me orgulho, mas não me culpo também. Fizemos o melhor que podíamos com as condições que tínhamos. “
Juliana Canozzi Bittencourt, 38 anos, de Porto Alegre. Mãe da Catarina, seis anos, e da Cecília, de três.
Mochila com “coleirinha”? Jamais!
"Achava o fim aquela mochila com ‘coleira’, mas fazendo o enxoval já mudei de percepção. Imaginava uma criança correndo para o meio da rua, saindo de perto de mim no shopping. São tantas histórias assustadoras. Não vejo ninguém usar e, quando minha filha usa, principalmente os mais velhos acham estranho. Já ouvi: ‘Coitadinha, parece um cãozinho preso’. Mas não ligo, penso na segurança. Ela também se sente mais livre do que quando anda em um carrinho, por exemplo.”
Camila Brodbeck, 33 anos, de Porto Alegre, morando em Portugal. Mãe da Luísa, de dois anos.
Nada de açúcar
"Sempre evitava o açúcar e, até hoje, deixo ela comer pouco. Mas, em alguns momentos, quando a minha filha estava com a avó, sabia que ela dava. Acho absurdo refrigerante ou balas, e isso não deixo de jeito nenhum. Mas açúcar em um bolinho feito em casa, fui deixando, mesmo antes dela completar um ano. Claro, com moderação. Na época, rolou uma culpa, mas hoje minha filha come de forma tão saudável e equilibrada que acho que tudo bem. O negócio é o caminho do meio.”
Ana Meinhardt, 42 anos, de Porto Alegre. Mãe da Bibiana, de quatro anos.