Levante a mão se você é mãe e está esgotada. Que tal tirar férias sem as crianças? Para algumas mulheres, o convite seria aceito com um largo sorriso no rosto. Outras não se veem sem a família completa nos períodos de descanso, nem por um final de semana que seja. Afinal, é legítimo reivindicar férias da maternidade?
Levamos a pergunta acima para as leitoras que integram o Grupo de Mães Donna no Facebook — e as opiniões sobre o tema foram divergentes (veja os depoimentos completos mais abaixo). Adê Valença, consultora de imagem e estilo e mãe de três, costuma reservar um tempo do recesso apenas para o casal, ou até mesmo para curtir sozinha. Ela diz que a decisão já gerou olhares tortos, intensificando o sentimento de culpa que acompanha muitas mães. Mas reforça que se esquiva do julgamento alheio:
— Não me deixo afetar. Temos que aprender e ensinar nossos filhos que precisamos de um tempo para nós.
Mãe de um menino de cinco anos, Elizangela Baumgratz defende outra posição. A auxiliar administrativa acredita que férias sem as crianças não é uma opção viável pois acaba sobrecarregando, normalmente, os avós.
— Penso que filho é responsabilidade dos pais. Então, temos que fazer algo que possamos ficar juntos.
Não há certo e errado, frisa a psicanalista Renata Aspar Lima, da Sigmund Freud Associação Psicanalítica de Porto Alegre. O que é preciso levar em conta, segundo a especialista, é a singularidade da dinâmica familiar, a disponibilidade da rede de apoio, como a mãe lida com a pressão social e a própria culpa que deve aparecer em maior ou menor grau após decidir tirar um tempo para si.
— Antes de ser mãe, ela é uma pessoa, uma mulher. É saudável fazer viagens sozinha, mas não adianta ir viajar e sofrer o passeio inteiro, não se sentir confortável. Pode ser uma oportunidade do casal se reconectar, por exemplo. E se separar dos filhos por um período ajuda a mostrar que eles podem ser independentes — explica.
A conhecida Síndrome de Burnout, associada ao estresse crônico no ambiente profissional, também pode se manifestar na rotina das mães. Para Rafaela Schiavo, psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline, a maternidade é uma função exaustiva que impacta na saúde mental da mulher.
— Momentos de lazer e descontração ajudam a evitar que ela fique sobrecarregada e venha a adoecer. Acreditar que uma mulher tem a obrigação de estar com seu bebê o tempo todo, custe o que custar, pode colocar essa mulher em risco. É saudável prestar atenção aos seus limites e perceber que pode precisar de um tempo — avalia.
Como o meu filho vai lidar?
E a culpa que pode tomar conta apenas por cogitar uns dias para si? É um sentimento muito comum, defendem as especialistas. Está vinculada às expectativas sociais sobre as mães, às pressões para se anular em prol da maternidade e também às vivências singulares de cada mulher. É preciso aprender a lidar com esse sentimento para curtir um momento só seu. E mais: o período longe dos filhos contribui para as próprias crianças desenvolverem sua autonomia.
— Se tudo for bem pensado, organizado e conversado com a criança, não é prejudicial. Isso pode ajudar a criança a trabalhar a confiança em si e no outro. Não é só o pai e mãe que sabem cuidar. Isso ajuda a criar adultos que se relacionam melhor com os outros. Diria que não é prejudicial, mas, sim, necessário — afirma Renata.
A psicóloga perinatal Rafaela destaca ainda a importância dos filhos entenderem que os pais têm uma relação amorosa entre si, uma conexão própria para além do núcleo familiar:
— A criança ver os pais bem, com amor e interação própria, isso é um sinal positivo. Ela entende como algo bom, que traz estabilidade e respeito à individualidade do casal.
Tem vontade de sair de férias sem os filhos, mas não sabe por onde começar? Veja a seguir algumas dicas para se sentir mais segura:
- Planeje tudo e tente deixar a rotina da criança o mais organizada possível.
- Busque um cuidador que já tenha relação prévia com a criança. Isso facilita a interação.
- Fale abertamente com a criança, independentemente da idade, sobre o que você vai fazer, quanto tempo vai ficar e porque precisa desse tempo sozinha ou como casal.
- Faça testes. Saia uma vez na semana por algumas horas. Depois, aumente para um fim de semana, por exemplo. Assim, pais e filhos podem se sentir mais seguros.
- Não há idade proibida para deixar os filhos sozinhos com algum cuidador. Cada caso é um caso, dependendo da rede de apoio disponível e da dinâmica familiar.
- Se sentir culpada ou estranha é normal! Respeite seus limites. Se você não consegue dormir fora, tudo bem. Tente encontrar formas de ter um tempo só seu sem pressões e regras.
O que pensam as mães
Ana Paula Moreira Pinto
42 anos, autônoma, de Porto Alegre, mãe do Thomaz, 11 anos, e Lorenzo, sete anos
As mães podem tirar férias sem os filhos, claro, até sem o marido se assim desejarem. Eu, particularmente, não vejo sentido, gosto de viajar justamente para que meus filhos aproveitem o passeio, conheçam lugares diferentes. Não vejo graça em fazer isso sem eles perto de mim. Pode dar um trabalho imenso, mas eles são o meu sentido de viver. Nunca fiquei longe dos meus filhos, nem uma noite sequer, nem quero.
Andrea Rodrigues
43 anos, quality assurance, de Porto Alegre, mãe da Alice, sete anos
Nunca cogitei essa opção. Para mim, que trabalho, é o período em que mais posso ficar próxima da minha filha e com ela descobrir coisas novas. Mais uns anos ela vai estar voando as tranças sozinha, tenho que aproveitar enquanto ainda a tenho debaixo da minha asa.
Paula Rizzon Basei
36 anos, publicitária, de Canela, mãe do João Pedro, quatro anos
Já viajei duas vezes sem meu filho, uma semana cada vez, e ele ficou com a avó. Não levamos ele junto porque tínhamos compromissos noturnos que não caberia ele ir, uma vez foi a trabalho e na segunda foi passeio mesmo. Na época que fomos ele não entendia muito bem sobre a viagem, mas hoje já entendo que ele vai fazer questão de ir nas próximas, quando pudermos retomar as viagens. Nunca vi mal em viajar sem ele, tenho certeza que na memória dele vai ficar os dias divertidos na casa da vó e não a semana longe dos pais.
Alba Rosana de Souza Chaves
33 anos, autônoma, de Nova Petrópolis, mãe de Pedro, 14 anos, Sophia, seis anos, e Olivia, um ano e oito meses
Meu sonho é sair de férias alguns dias sozinha. Sem marido e filhos. Já até planejo começar a juntar uma grana pra isso. Quero tentar engajar minha irmã, que é mãe de três também. E, de repente, minha mãe também. Meu marido me apoia - inclusive, fizemos uma aposta esses tempos e o meu prêmio seria essa viagem. Não consegui ainda chegar no objetivo.
Bruna Martins de Campos
34 anos, bancária, de Porto Alegre, mãe de Lis, cinco anos, e Olívia, três anos
Claro que pode tirar férias sozinha. As minhas filhas são pequenas ainda, então, nunca dormiram longe da gente. Mas, se tivessem esse costume, acho que é ok. Em outros anos, não cogitaria sair sem elas, porque, entre trabalho e estudo, ficava muito tempo longe, então, qualquer folguinha do trabalho era para elas. Agora, depois de quase um ano em home office com as duas em casa direto, acho que poderíamos ter uns dias separada.
Adê Valença
45 anos, consultora de imagem e estilo, de Canoas, mãe da Laura, 22 anos, Victor, 18, e Davi, 11.
Mães devem tirar férias dos filhos. É bom para o relacionamento entre as mães e filhos. Meu marido fica com eles quando opto por férias sozinha. E, quando saio em férias com o marido, achamos alguém de confiança para ficar com os filhos. Várias vezes já saí de férias com o marido ou amigos. No início a experiência é estranha, as pessoas tentam te impor culpa por sair sem os filhos, mas não me deixo afetar. Temos que aprender e ensinar aos nossos filhos que todos precisamos de um tempo para nós.
Elizangela Baumgratz
42 anos, auxiliar administrativo, de Porto Alegre, mãe do Miguel, de cinco anos
Avós não tem dever de ficar com as crianças, também têm a vida deles. Há um mês estou direto em casa convivendo mais tempo com meu filho. Não tínhamos esse tempo desde o quinto mês dele. Penso que filho é responsabilidade dos pais, então, temos que fazer algo para que possamos andar juntos.
Gabriela Maestri
35 anos, de Viamão, mãe do André Inácio, três anos e oito meses
Com certeza, mães têm esse direito. Eu não cogito essa possibilidade no momento, porque, além de amar estar com a minha família, também não tenho dinheiro e nem tempo para tirar várias "férias" por ano. Logo, no período em que posso viajar, a graça, pra mim, é estar com o marido e o filho.
Laura Milano
39 anos, administradora, de Porto Alegre, mãe de Rafael, de 10 anos, e Natália, de oito anos
Viajei a primeira vez sem meu filho quando ele tinha um ano e dois meses. Meu marido e eu ficamos 12 dias longe. Eu já estava grávida de sete meses e achamos importante sairmos uns dias antes de recomeçar a função com bebê pequeno. Ele ficou na praia com a babá, meus pais, meus avós, tios, primos, dindos, pois todos veraneiam em casas próximas. Fiquei morrendo de saudade e, quando chegamos de volta, ele estava no banho, sentado na banheira, e só nos mostrou um livrinho, como se não tivéssemos saído dali. Depois, saímos em algumas ocasiões por uma noite deixando eles com a babá. Quando eles tinham dois e três anos ficamos duas semanas longe. Eles ficaram em casa com a babá, e meus pais acompanhando. Depois, aconteceram outras fugidas, mas não passaram de uma semana. Adoramos viajar só nós dois, é muito importante para o casal e têm programas que não são para crianças, como ir mergulhar com cilindro, por exemplo, que amamos, assim como ir em um bar e não ter hora pra voltar. Hoje, eles têm oito e 10 anos, são independentes, fazem a mochila sozinhos pra ir dormir na casa dos avós ou dos amigos e não têm problema de dormir sem a gente e em outras casas, inclusive adoram! E acho importante eles passarem uns dias com os avós também, são memórias que são construídas. Assim como eu viajava com meus avós quando era criança e tenho ótimas recordações, eles viajam com meus pais e tenho férias deles em casa.
Gabriela Niederauer
30 anos, pedagoga, de Porto Alegre, mãe do Miguel, seis anos, e Samuel, um ano e cinco meses.
Então, mães devem tirar férias. Mas não tiram. Eu, realmente, não consigo tirar férias e deixar meus filhos. Me sinto como se estivesse "pecando", embora ache necessário um momento de relaxamento para mãe e, sem dúvidas, para a mãe curtir com seu companheiro. Liberdade! Beber sem culpa, dormir até a hora que quiser, comer besteira. Ainda não criei coragem para tirar férias sozinha sem meus dois filhos. Já quando saio, em passeios curtos, parece que falta uma parte de mim. Ou fico sem saber o que fazer, por onde começar, como me divertir. Quando saímos com as crianças estamos sempre envolvidos em cuidados, o foco são elas. Pensar em tirar férias, até já pensei, mas nunca consegui dar o próximo passo. Até porque alguém tem que aceitar a assumir essa responsabilidade que é o papel de mãe, enquanto a mamãe se diverte. Ou ter alguém em quem confiar. Não me sinto a vontade de terceirizar os cuidados, eles são pequenos, crescem rápido. Tudo tem o seu tempo de acontecer.
Jaqueline Palma Camara
41 anos, professora, de Porto Alegre, mãe de Isadora, oito anos.
Depende de cada mãe, de cada casal. Aqui em casa eu e meu esposo casamos e decidimos ter um tempo só para nós antes de ter filhos. Saímos e viajamos muito nesse período. Quando decidimos engravidar, pensamos que tínhamos um problema pra resolver: fazer nosso filho também gostar de viajar. E assim foi: com 30 dias levamos ela pra Torres; com 5 meses, fomos de carro pro Uruguai e de lá, de Buque para a Argentina. A partir de então, nunca mais paramos de viajar. Quando ela tinha três anos, achamos que já dava pra ir pra outro continente. E fomos pra Europa, aí sim tivemos um problema: nossa criança ama viajar, talvez mais do que nós. E acha que qualquer lugar do mundo é logo ali! Se ela era pequena? Se não aproveitaria? Nunca cogitamos. Sempre amamos fazer nossas viagens em família, planejar, conversar, saber onde voltar ou que lugares novos devemos conhecer. Ela participa de tudo, vive sonhando, planejando e a cada descoberta pensa num novo destino. Isso pra nós é só alegria. Temos a nossa pequena viajante ao nosso lado. O que ela ganha com isso? Entende as diferenças geográficas, culturais, de idioma, de moeda, de gastronomia. O que a gente ganha? Vivemos aprendendo uns com os outros, entendendo nossos limites, nossos gostos, nossos desejos, nossas experiências, o que nos faz bem. A cada viagem, muitas conversas, muitos sorrisos, muito conhecimento. Pra gente, férias são isso. Em família! Nunca pensei em tirar férias dela! Afinal de contas, nós quisemos ter um filho pra fazer parte da nossa vida.
Daniele Ribas Pilau Christensen
49 anos, administradora de empresas, de Santo Ângelo, mãe da Ana Alice, 10 anos.
Aproveitamos muito em dupla antes de casar e depois de casados. Só então decidimos ter um filho. A partir daí, somos sempre os três em viagens, ou com minhas irmãs, cunhados, sobrinhos, pai e mãe. Mas, sempre com ela. Com seis anos, nossa filha conhecia 13 países. Até a museus ela vai desde pequena (programa que geralmente criança detesta). Nossos irmãos já têm seus filhos. Nossos pais já nos criaram, portanto, já cumpriram suas funções de pai e mãe. Com outras pessoas, não cogitamos deixar, até porque se acontece algo, nós seremos os responsáveis, não importa o que ocorra ou a desculpa que dermos. Nunca nos perdoaríamos (ainda mais uma menina com outras pessoas... achamos muito arriscado). Decidimos que nossa filha é nossa responsabilidade com ou sem férias. E nada melhor do que mostrar o mundo pra ela, junto com ela. São memórias que nunca se apagarão. Logo ela cresce (hoje tem 10 anos) e terá sua vida e, encaminhada, poderemos decidir com tranquilidade quem irá conosco. E, se ela ficar, saberemos que conseguirá se defender sozinha porque ensinamos isso a ela.
Jéssica Vasques Gonçalves
29 anos, esteticista, de Porto Alegre, mãe da Maria Sophia, 11 anos
Não tiro férias da minha filha porque não é nenhum trabalho estar com ela ou exercer a responsabilidade da maternidade, então, não me vejo na necessidade. É nesse momento que podemos aproveitar mais ainda juntas. Claro que hoje ela tem quase 12 anos e é inevitável momentos em que ela vai dormir na casa de amigas, da avó, dos tios, e eu acabo ficando sozinha, mas não é uma coisa que eu sinta necessidade ou que cogite, é uma escolha dela. Quando era menor também nunca senti falta disso, talvez porque sabia que esse momento iria chegar.