Todo mundo conhece alguma mulher que quer muito ter filhos - e, por algum motivo, ainda não conseguiu. Pensando em como agir neste momento delicado, perguntamos às leitoras de Donna no Grupo de Mães Donna no Facebook quais foram as piores frases que ouviram enquanto estavam tentando engravidar.
De "relaxa que dá certo" até "perder é normal, depois vem outro", elas construíram um pequeno manual do que não dizer para uma mulher nesta situação.
Confira:
"Por que não desiste? Vai estragar teu casamento"
"'O que tu tem? O que os bebês têm? Vai ver foi melhor assim... E se nascesse com problemas? Porque não desiste? Tu já és feliz, vai acabar estragando teu casamento...' Depois de uma gestação espontânea seguida de aborto espontâneo, aos 38 anos, fiz 10 fertilizações, uma na Espanha com ovodoadora. Tive cinco gestações e perdas consecutivas por 10 anos. Sofri com hormônios demais, tristezas demais, criei doenças em decorrência desse vazio até que a Assistente Social me ligou, e o Gabriel chegou. Hoje entendo que tinha que ser ele e tinha que ser eu depois de viver e aprender com isso tudo"
Dona de casa, 50 anos, de Novo Hamburgo
"Relaxa que vai conseguir"
"Tentei por dois anos e meio. O pior momento foi quando minha ex-cunhada ficou grávida depois de tentar por três meses. Quando ela anunciou, todos ficaram mudos e olharam pra mim. Acho que o pior era quando alguém falava: 'Quando tu relaxar, vai conseguir'. Eu estava relaxada, mas mesmo assim não conseguia. Depois de muitos exames, descobrimos que meu ex-marido tinha baixa concentração de espermatozoides. Fizemos fertilização e temos um filho lindo. Mas por que a culpa é sempre da mulher? Por que nós temos que sofrer tanto? Até nesses momentos, né?"
O pior momento foi quando minha ex-cunhada ficou grávida depois de tentar por três meses. Quando ela anunciou, todos ficaram mudos e olharam pra mim
BANCÁRIA, 36 ANOS, DE PORTO ALEGRE
Bancária, 36 anos, de Porto Alegre
"Esquece, tira da cabeça"
"A pior coisa que as pessoas podem dizer: 'Esquece, se você tirar da cabeça vai engravidar". Aí mesmo que você pensa. Eu tentei durante cinco anos e tive quatro abortos. Hoje tenho duas meninas amadas"
Psicóloga, 48 anos, de Porto Alegre
"Perder é normal, logo vem outro"
"Perdi meu primeiro bebê com 11 semanas em junho, estou perto dos 40 anos. Duro foi ouvir: 'É normal, logo vem outro bebê'. Mostra que ninguém se importa com tua dor, teu luto, teu corpo e mente transformados com a gestação"
Professora de Educação Física, 38 anos, de Caxias do Sul
"Tu não te cuidava?"
"Eu tive um parto prematuro com 25 semanas. Tive Síndrome de Hellp, minha filha ficou na UTI e faleceu quatro dias depois, era prematura extrema. Ouvi diversas coisas crueis, como: 'Tu não te cuidava direito?', 'Logo, logo, tu engravida de novo', 'Entrega nas mãos de Deus, ele que sabe' - como se um filho substituísse o outro. Hoje acredito que a minha primeira filha tinha uma missão, de me mostrar que a Síndrome de Hellp era só um sintoma da trombofilia. E hoje tenho a minha filha, meu bebê arco-íris com cinco anos, que ama a irmã e a nossa família"
Pedagoga, 37 anos, de Porto Alegre
Mas então, como ajudar?
Para a psicóloga Dalmara Fabro de Oliveira, o mais importante é que tanto grávidas quanto tentantes tenham uma rede de apoio - e não importa muito o que essas pessoas próximas digam, e, sim, que estejam por perto disponíveis para auxiliar e amparar quando necessário.
Mas, muitas vezes, na intenção de ajudar, amigos e familiares acabam por citar informações e dicas a partir de suas próprias experiências que podem contribuir para gerar insegurança e ansiedade no casal que está tentando engravidar. Então, a profissional aconselha que, além de acolher, é interessante evitar "pitacos" e comparações ao conversar sobre o assunto.
A psicóloga Natália Vargas Filomeno reforça ainda a importância de esse casal, em especial a mulher, que costuma ser o alvo das críticas, ter um espaço de escuta acolhedor, e não julgador. Para a profissional, é importante que a tentante possa falar sobre o que está passando porque, assim, consegue processar com mais facilidade os acontecimentos.
— Falas como as que vimos acima acabam virando um combustível para crítica e diminuição de troca afetiva. Neste momento, ouvir mais do que falar pode ser uma boa maneira de acolher quem precisa. Se coloque no lugar no outro, perguntando: "Eu gostaria de ouvir o que vou dizer?". Talvez esse exercício ajude na hora de levar mensagem de conforto ou crítica ao outro — indica.