O cenário incerto tira o sono das mães. Para que a participação das mulheres não diminua mais no mercado de trabalho, confira ações para construir um caminho que beneficie empresas e mães.
Flexibilidade
Consultora em desenvolvimento humano, Crismeri Delfino afirma que as organizações precisam virar a chave: não se pode cobrar uma produtividade que não é viável – e isso vale para diferentes casos. É hora de empresa e colaboradora abrirem o jogo.
– Se ela produzirá melhor em determinado momento, fora do horário comercial, é preciso negociar. A nova realidade não pode ser tão engessada. Não é apenas a carga horária, é a entrega combinada. Não consegue entregar 10, mas só 8? Seja sincera. E o olhar da empresa precisa ser mais empático na prática, combinando metas possíveis. Realinhar os objetivos e cobranças sistematicamente deve fazer parte do processo agora – sugere a presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RS).
Espaços de diálogo
Criar espaços de conversa dentro da empresa é essencial para deixar todos confortáveis a se manifestar. Muitas mães não se sentem à vontade em sugerir um novo formato de trabalho e negociar mudanças. Para ajudar, um dos caminhos é oportunizar rodas de conversa, diz Mariana Gabrijelcic, cofundadora do MamaJobs :
– Já vi mulheres pedindo demissão antes de buscar o diálogo. Às vezes, simples mudanças já ajudam. Cuidar do horário das reuniões, horário de almoço diferenciado, poder entregar um projeto até tal horário porque terá um cuidador para o filho.
Ajuda especializada
Para construir novos processos e um ambiente saudável de trabalho, buscar auxílio especializado pode ser um caminho. Assim como as mães estão lidando com uma situação inusitada que deve se arrastar por mais tempo, as empresas também estão em adaptação. O MamaJobs, por exemplo, lançou o projeto Mama Office para ajudar nesta transição, explica Mariana:
– Falamos de ferramentas de gestão, autocuidado, desafios específicos dependendo da idade dos filhos, para entender o momento e saber como lidar, como conduzir, quais as saídas. Percebemos que há empresas olhando para isso.
Home office como aliado
Crismeri defende que o formato híbrido de trabalho, que mescla home office e presencial, é uma das fortes tendências para 2021. Mariana vai pelo mesmo caminho: acredita que, em condições adequadas, o trabalho em casa pode se tornar um aliado para as mães:
– Em tempos normais, o home office é uma alternativa para ficar mais próxima dos filhos, levar, buscar da escola, almoçar junto, coordenar o horário de outra forma. A pandemia ajudou a destravar essa migração do escritório para casa. Esperamos que isso se torne um benefício e uma opção para mais mães num futuro próximo.
Diversidade nas empresas
Diretora-executiva na Maternativa, Vívian Abukater destaca que o empresariado brasileiro é composto majoritariamente por pequenas e médias empresas – e isso traz limitações quando se pensa a diversidade no mundo corporativo:
– Onde a conversa de igualdade e inclusão acontece? Numa pequena fatia de empresas, normalmente multinacionais. Quando falamos de diversidade e inclusão no Brasil, isso ainda é uma conversa localizada.
O olhar da empresa precisa ser mais empático na prática, combinando metas possíveis. Realinhar os objetivos e cobranças sistematicamente deve fazer parte do processo agora.
CRISMERI DELFINO
consultora em desenvolvimento humano
Ela ainda defende que é preciso uma mudança de perspectiva capaz de impactar toda a sociedade.
– Temos uma oportunidade das empresas reconhecerem seu papel numa construção social diferente. Uma baixa participação das mães no mercado de trabalho e uma redução de renda das mulheres, muitas vezes as únicas responsáveis pelo sustento do lar, leva a um empobrecimento geral da população e do acesso à educação das crianças. É uma consciência do processo, do futuro da sociedade – reflete.
Organização do tempo
Para otimizar a rotina, é preciso encontrar meios de organizar seu tempo e elencar prioridades. Claro que não é tão fácil assim e, por isso, muitas empresas investiram em cursos e palestras sobre gestão do tempo justamente para ajudar casos individuais dentro da empresa.
– Rotina e organização ajudam na produtividade. Definir o que vai fazer primeiro já no dia anterior, aprender a abrir mão de algumas coisas. Esse é o lado individual e pode ser fomentado também com ajuda da empresa e disposição da funcionária – diz Mariana.