"O contrário de Gilda Rubião" é uma boa forma de resumir Mariana Ximenes. Na entrevista à reportagem de Donna, chama atenção a positividade com que a atriz, que vive a vilã da novela das 18h da TV Globo, Amor Perfeito, leva os diversos aspectos da vida, defendendo que ela e sua personagem "não poderiam ser mais diferentes".
Para comprovar o ponto, explica ser uma pessoa que "preza o respeito, a honestidade, a lealdade, a amizade e o amor". Mas pontua que explorar a multiplicidade de Gilda, que ela descreve como "falsa, dissimulada e mentirosa", tem sido uma experiência interessante e que a instiga enquanto artista.
— A gente, como espectador, ama odiar as vilãs. Elas mexem muito com a gente, com o que consideramos certo e errado, com nossos limites morais. Para o ator, é o mesmo. Gilda faz com que eu me questione a todo momento sobre limites, ética, respeito, integridade. Ela é absurda, e é justamente aí que mora também sua irreverência e seu carisma. É quase como interpretar várias personagens dentro de uma — afirma.
O resultado do trabalho está explícito na boa recepção do público — e Mariana garante que se diverte com os memes da antagonista nas redes sociais, que costuma acompanhar simultaneamente à transmissão da novela.
Sobre a vida pessoal, aos 42 anos (com 25 de carreira), a atriz tem encontrado cada vez mais tranquilidade para ser quem é, sem precisar se justificar para os outros. É dessa forma que lida com os relacionamentos amorosos — que, atualmente, prefere manter discretos —, com a vontade de ser mãe, com a autoestima na maturidade, com a passagem do tempo (que chama de "dádiva") e com a necessidade de estar, de tempos em tempos, em contato com a natureza para recarregar as energias.
Aliás, um de seus segredos para manter o equilíbrio na vida é praticar ioga com regularidade. Há anos, a atividade a ajuda a sentir o momento presente e desenvolver consciência física, mental e espiritual. E assim Mariana se diz uma eterna apaixonada – por estar viva, por viver. Para ela, a fonte da juventude eterna não está na busca inatingível por uma aparência jovem, mas sim no entendimento de que sempre há algo novo a aprender.
E, como cantou Gonzaguinha, "na beleza de ser um eterno aprendiz" – música que a artista fez questão de citar ao argumentar que a vida é, sim, bonita.
Confira a íntegra da entrevista:
Como foi a chegada aos 40 anos?
Foi um marco. Não estava aflita ou ansiosa, mas estava em um momento muito reflexivo, introspectivo. Vivi meus 39 anos durante o isolamento da pandemia e foi um momento de colocar muitas coisas em perspectiva. Mesmo sem ser um movimento pensado, influenciou a maneira como cheguei aos 40: mais dona de mim, livre para ser quem sou, mais consciente dos meus limites e de que preciso respeitá-los, com ainda mais certeza de que sozinhos não somos nada.
Quero, cada vez mais, ser fiel a mim mesma
MARIANA XIMENES
Atriz
Nossa força está no coletivo, nas amizades, nas relações que construímos. Tudo isso me trouxe uma serenidade para os 40. Quero, cada vez mais, ser fiel a mim mesma. À medida em que amadurecemos, vamos aprendendo a filtrar as coisas, a não querer agradar a todo mundo, não viver a expectativa dos outros. Ao entender isso, vou abrindo espaço para mim e meus desejos. Me aproprio da frase da brilhante Clarice Lispector: “Ser livre é seguir-se afinal.”
O tempo é uma questão?
É uma dádiva. Enquanto o tempo passa, sou capaz de viver, recomeçar, aprender, trocar, aproveitar a vida. Como canta Gilberto Gil, “O melhor lugar do mundo é aqui e agora”. E neste presente tão precioso é que moram as possibilidades. Então, é normal que eu busque me planejar para o futuro, mas tendo uma relação saudável com esse sentimento. Pensar em cuidados, como fazer exercícios, me alimentar bem, dormir, sentir prazer, fazer exames periódicos, meditar – tudo isso contribui para uma vida boa no presente e prepara “a máquina” para o futuro. Por isso, não digo que é uma pressão. É mais uma expectativa, e com entusiasmo, sobre como quero viver os próximos anos, o que desejo fazer, onde quero estar. Cuido do corpo, que é a minha morada, da mente e do espírito para envelhecer bem, lúcida, com saúde para ser ativa, continuar trabalhando com o que gosto e manter a “chama acesa”, a curiosidade.
Hoje, falamos muito mais sobre o processo de amadurecimento da mulher, sobre a menopausa, seus efeitos e como podemos conviver com eles de maneira mais pacífica. É possível, com acompanhamento médico, prevenir-se e planejar-se para entrar de maneira mais tranquila nesta fase.
A menopausa não é uma sentença de que a vida acabou. Há muito para ser vivido. A sociedade precisa aceitar que a mulher continua potente depois da menopausa. A idade é um número, nada além disso. Não define quem somos.
Sente alguma pressão para manter uma aparência jovem?
Há uma expectativa sobre isso, o que acaba gerando julgamentos dos outros. A gente acaba internalizando essa pressão externa, porque cresceu com a ideia de que precisa corresponder às expectativas dos outros. Quando finalmente entendemos que não é assim, os processos começam a ficar mais leves. Não quero parecer ter 20 anos. Quero ser o melhor que posso com a idade que tenho. Essa busca pela eterna juventude não nos leva a nenhum lugar saudável.
Mas existe trabalhar a favor da idade, alimentando nosso bem. Fazer skincare diariamente, tendo a orientação de um dermatologista. Dormir bem, ter tempo para descansar, ler um livro, ver um filme, conversar com os amigos, dar uma volta ao ar livre, contemplar, dar um mergulho no mar ou em uma cachoeira, sentir a natureza. Estou mais preocupada em alimentar bem meu corpo, minha cabeça e minha alma, em vez de parecer mais jovem.
E há cobrança sobre maternidade? Tem esse desejo?
Tenho esse desejo e sei que vai acontecer na hora em que tiver que ser. Não estou com pressa. Quando falam sobre isso, busco não fazer da ansiedade de outra pessoa algo meu. Fiz escolhas conscientes ao longo da vida, assim como estou consciente dessa vontade.
Uma coisa curiosa quando nos perguntam sobre maternidade é isso: “Você não tem vontade?”. Sim, tenho, mas é preciso ter várias outras coisas também, como tempo, suporte, rede de apoio. Para mim, é uma escolha que precisa ser muito bem pensada.
Em que a Mariana de 2023 se diferencia daquela de 17 anos, que iniciava uma carreira nas artes?
O caráter não muda, mas o resto mudou tudo (risos). É aquela máxima de que nunca mergulhamos duas vezes no mesmo rio. Essa ideia de que nunca somos a mesma pessoa, estamos em constante processo de mutação, evoluindo, adoro isso. Estar aberta para a vida, os mistérios, os encontros, as surpresas. Tudo ao meu redor me afeta: as pessoas, as situações, o ambiente.
Para mim, a fonte da juventude é essa: saber que sempre há algo a aprender
MARIANA XIMENES
Atriz
Sendo assim, não tenho como ser hoje a mesma que era aos 17. Sou mais madura, mais segura, mais experiente. Ao mesmo tempo, sigo curiosa pela vida, interessada pelas pessoas, tendo fome de viver, trocar e aprender. Para mim, a fonte da juventude é essa: saber que sempre há algo a aprender. Não vivemos tudo, não sabemos tudo. Somos eternos aprendizes.
Você está em um relacionamento?
Sim, estou. Mas sou muito discreta, porque, mesmo sendo uma pessoa pública, há coisas que gosto de manter reservadas. Sou assim com meus relacionamentos de maneira geral. Quem me acompanha e me segue entende muito isso, o que me deixa feliz. No momento, a verdade é que estou em um relacionamento seríssimo com a Gilda. Ela ocupa todos os meus dias. Quando não estou gravando, estou estudando.
Paixão e namoro são importantes?
Paixão é vital. Namoro é opcional: se quiser, se encontrar alguém com quem queira manter essa relação. Mas a paixão é o que move a vida. Sou uma eterna apaixonada. Amo estar viva. É esse sentimento que me alimenta, que me move.
Alguma mulher em especial é uma inspiração para você?
Nossa, muitas. Minha mãe, Fátima, sem dúvida, é uma grande inspiração. Fernanda Montenegro é outra mulher que me inspira profundamente, tanto na arte quanto na vida. Marielle Franco, Michelle Obama, Carolina Maria De Jesus, Gloria Maria, Chimamanda, Maya Angelou. Tenho a sorte de conviver com muitas mulheres que me inspiram, como Zezé Motta, Claudia Raia, Djamila Ribeiro, Heloisa Buarque de Hollanda.
Como é sua relação com o Rio Grande do Sul?
Tenho muitas lembranças especiais do Rio Grande do Sul. Gravei vários trabalhos aí, como a série A Casa das Sete Mulheres (2003) e a novela Chocolate com Pimenta (2003), por exemplo. Filmei o longa-metragem Prova de Coragem (2016) em Porto Alegre e em Farroupilha, no belo Parque Salto Ventoso. Também apresentei a peça Os Altruístas (2012) no belíssimo Theatro São Pedro — lembro que foi uma das melhores plateias que tive na vida. Jamais esquecerei a honra que senti ao pisar naquele palco histórico. Sem falar de ter dona Eva Sopher (1923-2018, guardiã da casa por mais de 40 anos) na plateia. Foi um momento mágico.
E não posso deixar de citar uma das maiores alegrias da minha vida, que foi ganhar o Kikito, em Gramado, pelo filme O Homem Só (2016). É um lugar em que sou sempre muito bem recebida e de onde trago recordações lindas. Além de ser pé quente: todos os trabalhos que gravei por lá fizeram sucesso.