Em 1995, a princesa Diana concedeu sua mais reveladora entrevista a um programa da emissora britânica BBC. O tema voltou aos holofotes nos últimos anos, já que a conduta do jornalista Martin Bashir para conseguir a "exclusiva" foi colocada em xeque. Após uma investigação independente, conduzida a pedido da própria emissora pelo ex-juiz da Suprema Corte John Dyson, relatórios apontaram que o repórter teria mentido para convencer Lady Di a participar da conversa.
Na ocasião, a transmissão teve 23 milhões de espectadores e tornou-se o programa de não ficção mais visto da história da televisão britânica. Diana abriu o jogo sobre vários temas polêmicos, como sua experiência com bulimia e depressão pós-parto, além de seu casamento conturbado com o príncipe Charles - o divórcio entre eles só foi oficializado no ano seguinte. O programa foi ao em novembro de 1995, pouco menos de dois anos antes do acidente de carro em Paris que tirou sua vida.
Para marcar os 25 anos da morte de Diana nesta quarta-feira (31), selecionamos, a seguir, cinco tópicos levantados por ela na famosa entrevista. Confira:
Bulimia
Foi a primeira vez que Diana confessou publicamente ter convivido com o distúrbio alimentar.
— Tive bulimia por vários anos. E é como uma doença secreta. Você inflige isso a si mesmo porque sua autoestima está em baixa e você não acha que é digno ou valioso. Você enche o estômago quatro ou cinco vezes por dia, alguns o fazem mais, e isso lhe dá uma sensação de conforto. É como ter um par de braços ao seu redor, mas é temporário. Então você fica enojado com o inchaço de seu estômago e traz tudo à tona novamente. É um padrão repetitivo, que é muito destrutivo — desabafou.
Questionada sobre a frequência que costumava enfrentar novos episódios de bulimia diariamente, respondeu:
— Depende das pressões que aconteciam. Se eu estivesse no que chamo de um dia ausente, ou estivesse em partes do país o dia todo, voltava para casa me sentindo um tanto vazia, porque meus compromissos naquela época tinham a ver com gente morrendo, gente muito doente, problemas de casamento das pessoas, e era muito difícil saber como me consolar por ter confortado muitas outras pessoas, então era um padrão normal pular na geladeira. Era um sintoma do que estava acontecendo em meu casamento — revelou.
Na conversa, Diana explicou que a bulimia era o sintoma de uma causa - sendo a causa a relação com o marido. A princesa disse que os dois tinham que manter as aparências porque "não queriam decepcionar o público, mas, obviamente, havia muita ansiedade dentro de suas quatro paredes". Ao jornalista, ela também admitiu não ter procurado ajuda de nenhum membro da família real para o problema.
— Você tem que entender que, quando alguém tem bulimia, fica com muita vergonha de si mesma e se odeia... E as pessoas pensam que você está desperdiçando comida, então você não discute isso — disse ela. — E o problema com a bulimia é que seu peso sempre permanece o mesmo, enquanto com a anorexia você diminui visivelmente. Então você pode fingir o tempo todo. Não há provas.
Traições
Primeiramente, Diana garantiu que considerava ter tido um casamento feliz. Mas a pressão da mídia sobre os dois como casal foi "fenomenal e incompreendida por muitas pessoas", argumentou.
— Eu acho que, como em qualquer casamento, especialmente quando você tem pais divorciados como eu, você gostaria de se esforçar ainda mais para fazer funcionar e não quer voltar a um padrão que viu acontecer em sua própria família. Quero garantir a todas as pessoas que me amaram e me apoiaram ao longo dos últimos 15 anos que eu nunca os decepcionaria. Eu queria desesperadamente que funcionasse, amava desesperadamente meu marido e queria compartilhar tudo juntos, e achava que éramos uma equipe muito boa — disse.
O jornalista então citou a biografia de Charles escrita por Jonathan Dimbleby, na qual afirma que o príncipe mantinha um caso com a ex-namorada Camilla Parker-Bowles - hoje sua esposa. Questionada se estava ciente do fato, Diana respondeu:
— Sim, mas não estava em posição de fazer nada a respeito — disse ela.
— Que evidência você tinha de que o relacionamento deles continuava, embora vocês fossem casados? — perguntou o entrevistador.
— Ah, o instinto de uma mulher é muito bom — rebateu Diana.
Em seguida, garantiu que pessoas que "se importavam com o seu casamento" também lhe informaram do que estava acontecendo. Sobre o efeito que a traição do marido teve em sua saúde mental, revelou:
— Muito devastador. Bulimia desenfreada, se você pode ter bulimia desenfreada, e apenas uma sensação de não ser boa em nada e de ser inútil e sem esperança e fracassada em todas as direções — desabafou.
Diana também garantiu que sabia que Charles não apenas se relacionava com Camilla, mas também a amava. Como ela sabia? "Pela mudança de comportamento do marido, por todos os tipos de razões que o instinto de uma mulher produz, você sabe", explicou.
— Já era difícil, mas foi se tornando cada vez mais difícil — afirmou ela, contando que as pessoas que estavam "do lado do seu marido" faziam com que ela parecesse "instável, doente e devesse ser colocada em algum tipo de 'casa' para melhorar".
Em seguida, Diana afirmou que "não há melhor maneira de desmantelar uma personalidade do que isolá-la". Questionada se Camilla Parker-Bowles foi um "fator de colapso" em seu casamento, proclamou a famosa frase:
— Bem, éramos três neste casamento, então estava um pouco lotado.
O herdeiro da coroa britânica casou-se com Camila em uma discreta cerimônia civil em 2005, oito anos após a morte de Diana. Por fim, Lady Di também admitiu ter traído o marido posteriormente com James Hewitt.
— Sim, eu o adorava. Sim, eu estava apaixonada por ele. Mas fui muito desapontada — resumiu.
Depressão pós-parto
Mãe dos príncipes William e Harry, Diana relatou que a gravidez do primogênito foi muito difícil – e que, embora o nascimento tenha sido um grande alívio, logo em seguida encarou um período difícil.
— Eu não estava bem com depressão pós-parto, que ninguém fala, você tem que ler sobre isso depois, e por si só foi um período um pouco difícil. Você acorda de manhã sentindo que não quer sair da cama, se sente incompreendida e muito, muito deprimida — contou ela. — Nunca tive uma depressão em minha vida. Mas então, quando analisei, pude ver que todas as mudanças que fiz no ano anterior me alcançaram, e meu corpo disse: "Queremos um descanso".
Sobre o tratamento, disse que sabia por si que "o que precisava era de espaço e tempo para se adaptar a todos os diferentes papéis que surgiram no seu caminho". Questionada sobre como foi a reação da família real à depressão pós-parto, respondeu:
— Bem, talvez eu tenha sido a primeira pessoa nesta família que teve uma depressão ou chorou abertamente. E obviamente isso foi assustador, porque se você nunca viu isso antes, como você apoia?
Já para o seu casamento, a condição trouxe para ela o rótulo de "instável e mentalmente desequilibrada".
— Infelizmente, isso parece ter permanecido intermitente ao longo dos anos — acrescentou.
Em seguida, confirmou os boatos de que, nesta época, tentou se machucar fisicamente.
— Quando ninguém escuta você, ou você sente que ninguém está te ouvindo, todo tipo de coisa começa a acontecer. Por exemplo, você sente tanta dor dentro de si que tenta se machucar externamente porque quer ajuda, mas é a ajuda errada que está pedindo. As pessoas veem isso como um lobo chorando ou em busca de atenção, e pensam que porque você está na mídia o tempo todo, tem atenção suficiente — disse ela.— Mas eu estava realmente chorando porque queria melhorar a fim de seguir em frente e continuar meu dever e meu papel de esposa, mãe, princesa de Gales. Então, sim, eu infligi a mim mesma. Eu não gostava de mim mesma, tinha vergonha porque não aguentava as pressões.
Questionada sobre o que exatamente fez consigo mesma, revelou que "machucou os braços e pernas".
Pressão da mídia
Outro tema recorrente da entrevista foi o interesse da mídia sobre sua vida particular. Diana revelou então que não gostava de ser o centro das atenções.
— Ainda hoje acho o interesse assustador e fenomenal, porque, na verdade, não gosto de ser o centro das atenções. Quando tenho minhas funções públicas, entendo que quando saio do carro estou sendo fotografada. Mas, na verdade, agora é: quando saio pela minha porta da frente, estou sendo fotografada. Nunca sei onde uma lente vai estar. Em um dia normal, sou seguida por quatro carros, em um dia normal volto para o meu carro e encontro seis fotógrafos pulando ao meu redor — contou. — Eles decidiram que ainda sou um produto, depois de 15, 16 anos, que vendo bem, e todos gritam comigo, me dizendo: "Ah, vamos Di, olha para cima. Se você nos der uma foto, posso levar meus filhos a uma escola melhor". E, você sabe, você pode rir disso. Mas é o tempo todo. É muito difícil.
O jornalista então perguntou se Diana se sentia responsável pela forma como a imprensa se comportava com ela, já que nos primeiros anos do seu casamento com Charles ela parecia "estimular o interesse" da mídia.
— Nunca incentivei a mídia. Houve um relacionamento que funcionou antes, mas agora não posso tolerar porque se tornou abusivo e é assédio. Mas não quero ser visto como alguém que tem pena de si mesma. Eu não tenho. Eu entendo que eles têm um trabalho a fazer. Você poderia realmente comparar isso a uma novela. E continua e continua, e a história nunca muda. (...) Mas sou um espírito livre - infelizmente para alguns — afirmou.
Causas sociais
Por fim, Diana também comentou sobre sua dedicação às causas sociais.
— Fiquei muito confusa sobre a área em que deveria entrar. Então me vi cada vez mais envolvida com pessoas que eram rejeitadas pela sociedade - com, eu diria, viciados em drogas, alcoolismo, espancados por isso ou aquilo, e encontrei uma afinidade aí — disse ela. — E eu respeitei muito a honestidade que encontrei com as pessoas que conheci, porque nos hospícios, por exemplo, quando as pessoas estão morrendo, elas são muito mais abertas e mais vulneráveis, e muito mais reais do que outras pessoas. E eu apreciei isso.
Questionada se teve algum tipo de orientação da família real sobre o papel que deveria exercer como esposa do herdeiro da coroa britânica, resumiu:
— Não, ninguém me fez sentar com um pedaço de papel e disse: "Isso é o que se espera de você". Mas aí, novamente, tenho a sorte de ter encontrado meu papel, estou muito consciente disso e adoro estar com as pessoas — concluiu.