Mulheres com histórico de depressão estão mais sujeitas a desenvolver a depressão pós-parto – e quem nunca teve episódios de distúrbios de humor também pode enfrentar esse problema. Segundo a ginecologista e obstetra Tayara Pigatto, os parceiros e os familiares devem ficar atentos à exacerbação de sintomas como irritabilidade, impaciência, choro fácil, privação de sono e falta de vontade de amamentar e cuidar do bebê.
A puérpera deprimida também pode evitar a criança e achar que não consegue amá-la.
– A família tem que tentar ajudar deixando a mãe descansar, favorecendo a conversa, permitindo que ela exponha que não está se sentindo bem. É complicado: ela tem que estar presente para o filho, para amamentar, limpar, amar, mas às vezes está tão cansada que não consegue – observa a médica.
A dificuldade de criar vínculo, aponta a psicanalista Mariana Steiger Ungaretti, não significa que a mãe não goste do filho ou que não seja uma pessoa boa.
– Naquele momento, as demandas estão tão fortes que isso acaba se expressando na relação com o bebê. A culpa é muito grande, e muitas vezes as pessoas ficam com vergonha de se expressar e procurar ajuda. Mas não tem como esconder. Algumas resistem em ter ajuda, pensar sobre a origem disso, encontrar recursos para lidar com isso – comenta Mariana, diretora científica da Sociedade de Psicologia do Rio Grande do Sul e mestre em Psicologia Clínica.
A psicóloga explica que a gestação e o nascimento de um filho são experiências tão singulares e intensas que podem acionar lembranças e sensações que estavam adormecidas:
– Quando a mãe depara com essa intensidade toda, isso acaba aflorando. Algumas vão deparar com situações da sua própria criação, da sua história. Algumas vão ver uma oportunidade para fazer diferente, dando diferentes destinos a isso que está sendo acionado.
A depender do nível de impedimento que os sintomas e o comportamento estão gerando – há mulheres que não conseguem nem segurar o bebê –, a família deve intervir. Quando a mãe não consegue se livrar da angústia e procurar ajuda por conta própria, um parente pode marcar uma consulta com um especialista e levá-la para o atendimento. Oferecer-se para conversar, sem fazer julgamentos, também é uma boa iniciativa.
– Que a mãe se sinta à vontade para compartilhar seu sofrimento, que tenha um espaço de escuta – indica Mariana.