O puerpério, período inicial da vida pós-gestacional, começa com o nascimento da criança e dura aproximadamente 42 dias (seis semanas). O corpo da mãe, que abrigou o feto, vai se transformando outra vez, agora para voltar aos padrões anteriores à gravidez e também para atender ao bebê: os níveis de hormônios se alteram, o útero começa a diminuir, há descamação da decídua (camada que reveste a parte interna do útero durante a gestação) e consequente sangramento vaginal, as mamas aumentam a produção de leite, podem ocorrer problemas no trato urinário. No caso de mães de primeira viagem, essa fase tende a ser ainda mais marcante devido à enxurrada de sensações e novidades simultâneas.
Conheça as três fases que caracterizam esse período.
Puerpério imediato (1º ao 10º dia)
- São os primeiros 10 dias após o nascimento do bebê, por parto vaginal ou via cesárea. Tem início com a expulsão da placenta.
- Imediatamente depois do parto, a mãe perde, em média, de cinco a seis quilos. A diminuição do peso continua conforma ele vai amamentando.
- Nas primeiras horas, é recomendado que a paciente se levante e caminhe, medida que ajuda a evitar a ocorrência de trombose e auxilia no bom fluxo intestinal.
- Algumas gestantes desenvolvem anemia, quadro que tende a ser revertido depois do nascimento da criança.
- Começa uma série de alterações hormonais, incluindo a produção de ocitocina, estimulada pela amamentação. A ocitocina é conhecida popularmente como hormônio do amor, que auxilia na criação do vínculo entre mãe e filho.
- Por até cinco dias, em média, o leite que alimenta o bebê é o colostro — o líquido parece mais ralo, mas não é menos nutritivo do que o leite que sairá das mamas depois. Rico em anticorpos, o colostro é importante para fortalecer a imunidade do recém-nascido. Em seguida, começa a descer o leite mais branco e gorduroso, também fundamental para aumentar as defesas da criança contra a Escherichia coli (bactéria causadora de infecções neonatais), rotavírus, broncoconstrição (doença respiratória típica do bebê) e dermatite.
- Ocorre um sangramento, semelhante ao da menstruação, que pode ser de fluxo bastante intenso. Esse sangue resulta da descamação da decídua (camada que reveste a parte interna do útero na gestação).
- O sangramento vai mudando de cor com o avançar dos dias. Nos primeiros dois ou três, o sangue é de um vermelho intenso (loque-os rubros). Do quarto ao décimo dia, tem um tom mais amarelado (loque-os serosos). Depois de 10 dias, o sangue vai clareando mais, assemelhando-se à tonalidade de um corrimento (loque-os brancos), até cessar.
- A mãe precisa de cuidado hospitalar nos primeiros dias. Na maior parte das vezes, a evolução do quadro é tranquila, mas, no caso de ocorrência de um sangramento muito forte, por exemplo, talvez seja necessário tomar alguma medicação ou até mesmo fazer um procedimento, como curetagem.
Puerpério tardio (10º ao 45º dia)
- As alterações hormonais continuam em andamento.
- O aleitamento protege a puérpera contra câncer de mama e doenças coronárias. A produção de leite aumenta progressivamente, podendo chegar a 600ml ao dia.
- Quando o bebê tem dificuldade para pegar o peito, a mãe pode sofrer com pequenas feridas no mamilo, que podem ser porta de entrada para bactérias que provocam infecções nos ductos mamários, onde o leite é produzido.
- Na gravidez, o sistema urinário costuma ser afetado — a bexiga pode ficar superdistendida, e a mulher urina com mais frequência. Depois do parto, a puérpera pode ter incontinência urinária e sensação de esvaziamento incompleto da bexiga.
Puerpério remoto (a partir do 45º dia)
- A duração desta etapa é imprecisa, dependendo da amamentação. Mães que oferecem exclusivamente o peito podem não menstruar por mais de um ano. Quem não amamenta menstrua outra vez em um prazo de cerca de seis a oito semanas. Mulheres que não praticam a amamentação exclusiva têm o retorno da ovulação e da menstruação antecipados, podendo engravidar. Mães que não podem ou não querem amamentar desde o parto (estas, via de regra) não ovulam/menstruam nos primeiros 42 dias de puerpério.
Fonte: Tayara Pigatto, ginecologista e obstetra