A atriz Juliana Lohmann, que recentemente publicou uma carta aberta na revista Cláudia relatando ter sido estuprada por um diretor quando tinha 18 anos, voltou a falar sobre o assunto em entrevista publicada nesta quarta-feira (5) pelo portal Universa.
Na conversa com a publicação, ela rebateu os comentários que recebeu depois de expor o ocorrido - muitas pessoas questionaram por que ela não citou o nome do cineasta no relato.
— Tem a Juliana que quer dar nomes. Só que eu não posso. Simplesmente porque os crimes prescreveram. Se eu der nomes vou ser acusada, por várias questões jurídicas. Não existe essa possibilidade — explicou ela.
Mesmo não podendo denunciar o agressor, ela conta que resolveu compartilhar sua história para incentivar outras mulheres a fazerem o mesmo.
— Então, se eu não posso expor meu relato, se eu não posso alertar outras mulheres para que se identifiquem e assim possam denunciar os seus abusadores, eu faço o quê? Isso é uma maneira de silenciar a mulher que já foi violentada — refletiu. — Se eu não posso fazer justiça, que outras mulheres façam. Se eu vivi o que vivi, que outras mulheres não vivam, ou, se viverem, possam identificar e denunciar, fazer valer a Lei Maria da Penha.
Na mesma entrevista, Juliana relata que ficou muito em dúvida de trazer à tona a história por medo de outros diretores não a chamarem para trabalhos.
— Não estou falando de uma pessoa específica que me violentou sexualmente, eu estou falando de um diretor. Quando você fala de um diretor, isso pode acabar incomodando os diretores, no geral, porque começam especulações, nomes são citados injustamente — disse ela. — Pensei muito sobre o medo de não ser mais chamada para trabalho, o medo de ser de alguma maneira rechaçada porque: "Ah, a Juliana é a feminista, é aquela que denuncia". Pensei até mesmo sobre a própria pessoa, que é muito conhecida, sobre de que maneira ela pode mexer os pauzinhos para acabar com a minha carreira. Porque essa pessoa sabe que eu estou falando dela. Ele é influente, até que ponto ele pode estar me prejudicando? Eu não sei.
Mas, no fim, decidiu seguir com o relato porque senão "a relação de poder se perpetua, e a gente não muda nada".
— Então pensei: "Tá bom, Juliana, o que você quer ser?" Uma profissional que está sempre botando o que sente que precisa colocar no mundo pra debaixo do tapete, por que tem medo desses homens poderosos e ricos e do que eles podem fazer com você ou alguém que tem coragem de dizer o que precisa dizer? Porque tem outras pessoas maravilhosas, que não têm rabo preso, que não vão se sentir ameaçadas. Então não vou me dobrar, ficar nesse lugar de querer agradar, de não querer prejudicar para não ser prejudicada, porque senão a relação de poder se perpetua, e a gente não muda nada — afirmou.
Depois de compartilhar o que aconteceu com ela, Juliana recebeu muitas mensagens de mulheres que passaram por situações semelhantes.
— Em algum instante, eu virei um porto seguro. Comecei a receber mensagens de amigas, uma delas aos prantos contando que entendeu ter sido abusada. Mulheres mais velhas da família do meu companheiro falaram sobre coisas que viveram antigamente e que nunca tinham debatido entre elas — contou. — Foi assustador porque a gente percebe que somos muitas que fomos abusadas e violentadas, que, infelizmente, acontece com muitas mulheres. Ainda não respondi, porque realmente quero saber o que posso fazer, com o aval delas, claro.
A ideia da atriz, agora, é criar um canal em que mulheres possam escrever esses relatos.
— Como posso prestar apoio, não sendo psicóloga e nem advogada? Como agir de forma efetiva na vida delas? Algumas escreveram coisas que não tinham contado para ninguém. Entendi que o processo de escrita da vivência é importante. Estou organizando porque as últimas semanas foram um vendaval, agora estou tentando aterrar — concluiu.