A atriz Julia Konrad relatou ter sido vítima de estupro conjugal em um antigo relacionamento, descrito por ela como abusivo, em uma carta aberta publicada na revista Claudia nesta terça-feira (30). No início do texto, ela relata que, quando conheceu o então namorado, achou que ele era o "homem perfeito". Porém, logo no primeiro encontro, algo não pareceu certo.
"Lembro de ter sido surpreendida pela força. Fui jogada na cama. Tentei beijá-lo para acalmar um pouco aquela afobação toda, mas de nada adiantou. Segundos depois, minha roupa já tinha sido arrancada. Ele tirava as calças com uma velocidade absurda e, antes que eu pudesse pensar em reagir, fui penetrada. Tudo acabou tão rápido como tinha começado", relatou.
Na época, Julia relata que não entendeu a gravidade do que tinha acontecido, e se convenceu de que tudo "iria se ajeitar, que só havia sido um início conturbado".
"Eu, já isolada da minha família, afastada dos meus amigos, com dívidas de empréstimos para pagar nossas contas sempre feitos no meu nome, aprendi a ceder. Se eu não cumprisse meu dever de mulher, ele me deixaria. Eu cumpriria meu dever de mulher, por medo. Medo de ficar sozinha", escreveu.
Na carta, Julia reflete o significado de consentimento.
"Consentimento é um território nebuloso, especialmente quando se trata de um casal. Se eu deixei, é porque eu queria, certo? Foi consentido, apesar do sangramento que virou rotina pós-sexo. Aprendi a lidar com a dor ao urinar. O problema era meu, afinal, eu era frígida, teria algum bloqueio mal resolvido, insinuava ele", contou.
Essa coação psicológica que sofria para ceder meu corpo a esse homem se chama estupro conjugal, e é um dos principais tipos de violência doméstica sofrida por mulheres.
JULIA KONRAD
atriz
A atriz relata que passou a pensar que o problema realmente era dela, e pensou em táticas para suavizar a dor que sentia durante o sexo.
"Acabei acreditando na narrativa de que o problema era meu, de que o problema era eu. Criei táticas para tudo aquilo acabar o mais rápido possível – se eu ficasse de quatro e fingisse um orgasmo, ele gozava logo. E então poderia cuidar do meu corpo e mente dilacerados, e ganhar algumas semanas de sossego. Durante anos, fui estuprada sem saber, cumprindo meu ‘dever de mulher’", afirmou.
A ficha de que havia sido vítima de uma violência sexual só caiu anos depois do relacionamento acabar.
"Só fui entender anos depois do término desse relacionamento que essa coação psicológica que sofria para ceder meu corpo a esse homem se chama estupro conjugal, e é um dos principais tipos de violência doméstica sofrida por mulheres, que muitas vezes são incapazes de reconhecer a violação", escreveu ela, que afirma ter exposto a situação para alertar outras mulheres que possam estar vivendo a mesma coisa.
Por fim, diz que o processo de despertar sobre o que aconteceu tem sido "longo e doloroso".
"Nós, como sociedade, não entendemos o que é estupro. Que ele acontece diariamente dentro de casa. Que o estuprador, na maioria das vezes é o seu namorado, marido, parceiro. Que a vítima pode até acreditar ter consentido a sua própria violação. Que ela não sabe que está sendo violada, e acredita que está apenas cumprindo o seu ‘dever’", concluiu Julia.