Ainda pequena, Cecília Dassi encantou os brasileiros ao dar vida à personagem Sandrinha, que tentava ajudar o pai alcoólatra Orestes (Paulo José) a superar o vício na novela Por Amor, um dos maiores sucessos da Rede Globo. Era 1997 e a gaúcha tinha apenas sete anos.
O folhetim ganhou reprise no ano passado no Vale a Pena Ver de Novo, trazendo lembranças a muitas pessoas e apresentando a doçura da personagem para outras tantas. Na época, Cecília recebeu muitas mensagens de fãs, alguns pedindo para que ela voltasse a atuar. Hoje com 30 anos, a gaúcha nascida em Esteio, na Região Metropolitana de Porto Alegre, é psicóloga e apaixonada pela profissão.
"Sou muito mais feliz com meu trabalho hoje, na clínica e na internet. Sou realizada e orgulhosa, enxergo com brilho nos olhos meu futuro profissional e tudo que quero realizar...", esclareceu ela em março de 2019, em um texto publicado em seu perfil no Instagram, que soma mais de 243 mil seguidores.
Depois da trama de Manoel Carlos, a ex-atriz mirim atuou em outros projetos na Rede Globo e praticamente cresceu em frente ao público. O último papel foi em Viver a Vida (2009).
Dois anos antes, com 17 anos, Cecília decidiu cursar Psicologia. Inicialmente, não tinha intenção de abandonar o trabalho na TV, até porque, explica ela, "todo o entendimento do ser humano é um enriquecimento na carreira de atriz". Mas ao longo do curso, a jovem acabou se identificando mais com a nova profissão e a troca de carreira foi inevitável:
— Estava me percebendo menos conectada com a carreira de atriz. Ao mesmo tempo, fui me encantando pela psicologia e percebendo que fazia muito mais sentido para mim. Foi uma transição natural. Quando o meu contrato na Globo acabou, eu não tinha mais interesse em continuar nessa carreira, já tinha terminado a faculdade, estava ansiosa para poder realmente investir na carreira da psicologia. Estudar mais e começar a atender, a atuar mesmo como psicóloga. Então acabou sendo bem natural — contou ela em entrevista exclusiva à Donna.
Sobre a curiosidade das pessoas a respeito da troca de carreira, Cecília diz que entende bem e não se incomoda, mesmo com mensagens mais invasivas:
— Eu entendo como um sintoma social. Nossa sociedade dá muito valor para a carreira de ator e atriz, essa coisa glamourosa que as pessoas enxergam. Então, para muita gente, não faz o menor sentido eu largar uma carreira que tenha esse status e querer mudar. Às vezes, a gente tem mesmo dificuldade de lidar com as escolhas das outras pessoas. Eu enxergo isso mais como um movimento social, me chama a atenção como um fenômeno. Então não me incomoda — explica.
Atualmente, Cecília mora no Rio de Janeiro, onde tem um consultório - que, no momento, está fechado por tempo indeterminado em função da pandemia de coronavírus. Ela está fazendo consultas online e não pretende voltar a atender presencialmente tão cedo, mesmo com as flexibilizações do isolamento:
— Eu tenho essa possibilidade, meu trabalho me proporciona essa opção, então vou desfrutar disso. Sei que muitas pessoas precisam se expor na rua, e eu vou fazer a minha parte enquanto isso — afirmou ela.
Psicologia nas redes
Cecília usa seu perfil no Instagram para abordar temas que envolvem a saúde mental. Para ela, a melhor coisa que a plataforma proporciona é poder derrubar o tabu de assuntos como a importância de fazer terapia - segundo ela, ainda vista por muita gente como "coisa de doido" - e o debate sobre transtornos mentais, como ansiedade e depressão.
— Tem uma certa falta de entendimento sobre o que é um processo terapêutico, do que é uma terapia, e do que são transtornos mentais. Tem dúvidas muito básicas, que dentro da bolha de pessoas que fazem terapia, ou já fizeram, temos a impressão de que todo mundo já sabe, que são óbvias. Mas quando fiz esse perfil, fui percebendo que não é bem assim, as pessoas têm dúvidas muito básicas, porque é um assunto muito tabu — diz ela, que também aborda assuntos como autoestima e amor próprio.
Para Cecília, o maior desafio desse trabalho de comunicação nas redes sociais é conversar com muita gente diferentes sobre assuntos em comum, em que cada um tem uma demanda individual e subjetiva.
— É bem desafiador, demanda muita paciência para não agir por impulso, muito estudo, pesquisa, reflexão, atenção às reações, responsabilidade, ética. É bem difícil, mas eu acho que compensa — conclui.
Saúde mental na pandemia
Muito se tem discutido sobre o aumento dos sintomas de ansiedade e estresse nos últimos meses em função da pandemia. Para Cecília, o momento é de investir no autoconhecimento para lidar de forma saudável com medos e frustrações, prestando ainda mais atenção nos comportamentos de compensação não-saudáveis, como por exemplo o aumento do consumo de álcool.
— Precisamos compreender que é um momento de adaptação, de flexibilização, para poder lidarmos com as muitas limitações que nos estão sendo impostas. É natural que fiquemos mais ansiosos, mas também podemos aproveitar tudo isso que surge da melhor forma. Não que seja bom, não é. Tem muita gente morrendo e não tem nada de "que bom" isso. Mas, já que essa realidade se impôs, podemos usar essa experiência da melhor forma possível aprendendo sobre a gente no processo — reflete.
A pedido de Donna, Cecília deu cinco dicas para viver esse momento com um pouco mais de tranquilidade. Confira:
- Seguir produtores de conteúdo que abordem o tema de autoconhecimento nas redes sociais;
- Ler livros sobre o assunto;
- Dosar o consumo de notícias de um jeito que você fique informado o suficiente para se proteger e tomar medidas responsáveis, mas que não aumente o sentimento de ansiedade e desespero;
- Meditar;
- Buscar atendimento psicológico online, se as demandas se intensificarem.
E a relação com o Rio Grande do Sul?
Quando se mudou para o Rio de Janeiro, ainda criança, a mãe de Cecília a acompanhou e, mais tarde, o irmão também. Mas aqui no Estado continuam o pai e o restante da família. Por isso, ela afirma que visita o Rio Grande do Sul com frequência, embora não tanto quanto gostaria. Em 2016 ela postou uma foto com o pai, vestindo a camiseta do Inter.
— Eu gosto muito, tenho muito carinho, me sinto bem na cidade. Adoro passear, conhecer lugares, comer fora, ir visitar os pontos turísticos em Porto Alegre. Esteio não tem muita coisa para fazer, né? (risos) Embora seja um lugar de memória afetiva, vou mais a Porto Alegre e arredores, eu gosto muito — diz ela.