Uma das comunidades mais movimentadas do falecido Orkut se chamava: "Eu abro a geladeira para pensar". Se identificou? Pois é, quem nunca foi comer porque estava estressada, ansiosa ou até mesmo entediada? Às vezes, podemos confundir a fome fisiológica com outros fatores e, dessa forma, descontamos as frustrações na comida. Para ajudá-la a identificar quando isso acontece, conversamos com a nutricionista Vanessa Leite, pós-graduada em Obesidade e Emagrecimento, e Ana Paula Portela, nutricionista com foco em comportamento alimentar.
Fome emocional?
Ana explica que a fome é um mecanismo fisiológico, e é por isso que o corpo dá sinais quando precisamos nos alimentar. É como se o organismo estivesse nos lembrando de que precisa de um aporte energético para manter suas funções vitais. Por isso, trata-se de um incômodo que sentimos fisicamente: a barriga ronca, pode dar dor cabeça e até baixar a pressão. Geralmente, quando temos fome, o alimento desejado não tem "cara", diz a nutricionista.
Mas também existe a chamada fome emocional. É aquela que acontece quando pensamos "que vontade de comer uma pizza", mesmo sem nenhum sinal físico disparado. Pode ter diversos motivos, entre eles o tédio e a comida vista como bonificação em um momento emocionalmente difícil.
— A vontade ou fome emocional surge para suprir questões mais emocionais do que fisiológicas. Não tem o contexto de alimentar o corpo, mas sim alimentar as emoções de alguma forma — explica a profissional.
Uma dica de Ana para saber diferenciar as duas é conhecer o próprio corpo, para assim entender quais são os sinais que você apresenta quando está com fome de verdade. Além disso, também é importante prestar atenção em quais momentos surge a vontade de comer sem razão.
— Muitas vezes, acontece de uma paciente não saber diferenciar se estava com fome física ou emocional. Quando vamos analisar o dia dela, percebemos que, quando estava fazendo uma atividade do trabalho, cansada, abriu a geladeira e decidiu comer alguma coisa. Provavelmente, essa paciente estava com tédio, querendo sair daquela atividade, dar um tempo, e utilizou a comida como uma opção — exemplifica Ana.
Vanessa acrescenta que é interessante procurar comer em momentos que você esteja mais relaxada, para não confundir o alimento com um acalento para uma situação estressante. Além disso, largar os talheres enquanto come e trabalhar a questão da mastigação lenta são boas pedidas. A nutricionista ainda reforça que, para quem busca emagrecer, é fundamental entender a relação da mente com a comida.
— Quando trabalhamos a questão da mente e do corpo, a chance da pessoa emagrecer e nunca mais voltar a engordar é enorme. O problema é que as pessoas pensam que é importante só trabalhar a dieta, e é por isso que a maior parte volta a engordar — afirma.
Fique atenta!
A situação pode ficar mais séria quando se trata de compulsão, um transtorno alimentar que precisa se tratado com o acompanhamento de nutricionista, psicólogo e psiquiatra - este último, inclusive, é quem faz o diagnóstico da condição.
Também existe o "comer transtornado", que é um pré-comportamento deste transtorno, quando o paciente dá sinais de que pode vir a desenvolver a compulsão, mas com menos frequência e intensidade dos sintomas. Nos dois casos, acontecem episódios de compulsão, quando a pessoa não tem o controle sobre o que come, explica Ana. O problema é multifatorial, e por isso o tratamento engloba diferentes profissionais.
— Muita gente confunde a compulsão alimentar com o comer emocional. Mas vale ressaltar que, em um episódio de compulsão, na maioria das vezes o paciente come diversos alimentos ao mesmo tempo, sem conseguir realizar uma escolha, muitas vezes comendo inclusive comidas congeladas ou cruas. Já o comer emocional é sempre estimulado pelas emoções, sejam elas positivas ou negativas, mas o paciente consegue escolher o que vai consumir, ainda que exista um exagero alimentar — ressalta.