Tempos atrás, pense algo em torno de 30 anos, existia uma forte concepção de que nada poderia ser feito com um filhote de cachorro ou gato antes de tomar todas as vacinas. Isso valia para viagens, passeios ou até mesmo pessoas, no caso, parentes que não podiam pegar esses filhotes no colo sob risco de morrerem em função desse contato. E, antes de dar início ao calendário de vacinação, existia também uma crença paralela: a de que nenhuma vacina podia ser aplicada no pet antes de ele ter tomado todas as doses do vermífugo.
Essa ideia passou de pais para filhos e, por conta disso, ainda perdura em algumas localidades, quando, não raro, escutamos que o animal vai "pestear" se for pego no colo antes de estar vacinado. Outra concepção que se tinha era a de que ele morreria se tomasse vacina antes de ter recebido vermífugo.
O que ocorre é que, antigamente, as pessoas moravam mais em casas do que apartamentos, e isso refletia não apenas no modo de vida do animal — passeando livremente na rua — mas também do local onde ele nascia. Os mascotes, em geral, proviam de ninhadas que simplesmente "apareciam" em casas de vizinhos e até mesmo de cadelas e gatas abandonadas na rua. Logo, a atenção sanitária desses animais era praticamente nula.
Na outra ponta, as lojas que vendiam animais não eram as megashops veterinárias que temos nos dias de hoje. Comprar um animal de estimação de uma agroloja da década de 1980 era bem diferente se comparado aos controles que se têm na atualidade. Hoje, você comprar um bichinho que não esteja bem cuidado é um "tiro no pé" da própria loja, uma vez que o negócio terá curta duração em função, até mesmo, dos órgãos fiscalizadores do município.
Tal cenário do século passado era o responsável pelos animais já nascerem com vermes no intestino. Alguns parasitas são transmitidos de mãe para filhos ainda na gestação e, por esta razão, os filhotes em pouco tempo de vida apareciam com aquelas barrigas enormes, cheias de vermes. Essa realidade se replicava de casa em casa, então o primeiro cuidado a ser tomado era mesmo acabar com a verminose, esta com potencial de matar o pequeno animal em poucas semanas. Depois disso, livre dos vermes, ele poderia ser vacinado. A explicação é que vacinar filhote com vermes não é tão eficaz porque a verminose por si só tem o poder de debilitar a saúde do animal. Portanto, o mais sensato a fazer era, de fato, acabar antes com os vermes, e só depois iniciar a vacinação.
Naquele tempo, após receber as três doses de vacina, estava tudo liberado na vida do animal. Hoje a situação que vemos é outra. Muitos canis e gatis levam a sério a criação de seus animais, e vermes intestinais já não têm mais livre acesso no local. Ainda que seu mascote seja pego de uma Organização Não Governamental, algumas conseguem recursos para atender a esta finalidade, a de acabar pelo menos com a verminose dos animais.
E, por fim, os cuidados com os pets ganharam dimensões consideráveis, o que permite aos tutores levarem seus mascotes com mais segurança de um lado para o outro, estendendo esse contato com outras pessoas e animais ainda em tenra idade.
Cuidado com animais adultos não vacinados
Sendo assim, aquela ideia de que o animal pode morrer se sair de casa sem estar com o esquema de vacinação completo já perde força em nossos dias, até porque eles não têm mais aquele contato direto na rua com outros animais.
O perigo ronda os filhotes que têm acesso a animais adultos não vacinados, mas dependendo da localidade em que ele está inserido, o contato se restringe ao cachorro da sogra, filhos e sobrinhos, e esse universo reduzido tem impedido o acesso não apenas à verminose, mas também aquelas famosas doenças respiratórias e intestinais que têm o poder de acabar com a vida de um filhote em poucos dias.
Aquela insegurança que pairava sobre a vida dos filhotinhos décadas atrás está a quilômetros de distância das chances de vida que eles têm hoje. Parentes e amigos podem pegar no colo seu novo companheiro sem medo de matá-lo por conta disso.
Dicas sanitárias
Contudo, seguem aqui algumas orientações que não perderam a validade com o tempo:
- Passear em parques em tenra idade ainda requer cuidados pelas mesmas razões dos tempos passados, que é evitar contato com animais soltos que eventualmente podem estar doentes;
- A grama desses ambientes contém ovos de parasitas trazidos de fezes de animais sem tutela e, consequentemente, sem tratamento. Se o filhote pisar nessa grama e levar esses ovos ao focinho, poderá dar início ao ciclo;
- Essa forma de contágio também ocorre em gramas contaminadas com fezes de animais portadores de viroses intestinais, o que é mais sério ainda;
- Da mesma forma, ter contato direto com animais adoecidos — filhotes ou adultos — é outra fonte de preocupação e deve ser evitado rigorosamente;
- Quando filhote, evite juntar seu mascote com outro, mesmo que este tenha tutor: você não sabe o histórico desse animal e o nível de engajamento do tutor com a saúde dele;
- Se visitar um amigo cujo mascote esteja doente, deve-se evitar não apenas o contato direto, mas também com tudo aquilo que cerca o indivíduo adoecido, como a cama, o comedouro e até mesmo, as pessoas;
- O tutor pode funcionar como "ponte" da doença do seu pet para outro e, por esta razão, essa pessoa deve evitar pegar outros animais no colo enquanto não souber a origem do mal que abalou a saúde do seu mascote.
Filhotes
Mamíferos filhotes, e isso vale para cães, gatos e até humanos, requerem maior cuidado em função do sistema imune ainda em desenvolvimento. Atenção com a aglomeração animal, ela é até recomendada, mas só naquele grupo de parentes e amigos cujo histórico é conhecido, assim como a saúde de seus pets. Este acaba sendo um ambiente mais seguro para socializar seu mascote sem o medo de ele perder a vida por não estar com todas as vacinas em dia.