Em 2021, os procedimentos minimamente invasivos dominaram a cena da medicina estética, representando mais de 50% do total global, conforme apontado pelo relatório Aesthetic Medicine Market Size & Growth da Grand View Research. Com uma avaliação expressiva de 99,1 milhões de dólares, o mercado global de medicina estética reflete a preferência crescente por abordagens menos invasivas. O estudo ainda projeta um notável aumento de 14,5% no mercado de injetáveis estéticos até 2030.
De acordo com o último levantamento da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS), o Brasil ficou em segundo lugar no ranking considerando todos os procedimentos realizados, entre cirúrgicos e não cirúrgicos, totalizando mais de 1,9 milhões de operações. Ainda segundo a ISAPS, entre os procedimentos não cirúrgicos, que compreendem as fórmulas injetáveis, foram mais de 600 mil aplicações realizadas no país.
Indicado para dar volume aos lábios, melhorar o contorno ou corrigir imperfeições secundárias a traumas locais ou decorrentes do processo de envelhecimento, o preenchimento labial se tornou um dos procedimentos estéticos mais populares no mundo, principalmente entre as mulheres.
Segundo Luís Maatz, cirurgião plástico, especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), a técnica mais utilizada é o preenchimento com ácido hialurônico, substância já presente no nosso organismo.
De acordo com o médico, dentre suas diversas funções, o ácido hialurônico preenche o espaço entre as células da pele, deixando-a firme e lisa, além de aumentar a hidratação, já que o ácido também tem essa função no local aplicado.
Preenchimento labial requer cautela e bom senso
Mas, ainda que o preenchimento labial seja uma opção segura, ele demanda bom senso por parte de quem quer fazer e, principalmente, um profissional qualificado e experiente.
— O objetivo é justamente harmonizar o rosto. Ou seja, cabe ao cirurgião deixar claro que a técnica precisa corresponder com as características do rosto da pessoa. Caso contrário, o resultado poderá ser desproporcional e artificial — destaca o cirurgião Luís Maatz.
Para Débora Latgé, fundadora da Visatgé, consultora de Imagem com foco em Linguagem Corporal e Facial e especialista em Visagismo pela Faculdade Belas Artes, é comum atender principalmente mulheres que pedem uma avaliação antes de decidir pelo procedimento.
— Nesses casos, fazemos um estudo baseado no visagismo, ou seja, analisamos harmonia e estética, considerando a proporção do rosto e a personalidade da paciente.
Segundo a profissional, a premissa é alinhar a identidade visual com a pessoal.
— O preenchimento labial, por exemplo, vai proporcionar lábios mais volumosos, transmitindo uma sensualidade que não condiz com a personalidade dessa pessoa. Essa transformação pode acarretar uma crise de identidade, principalmente se ficar exagerado e chamativo. Por isso, a autopercepção é fundamental para que a pessoa faça procedimentos motivada por uma insatisfação pessoal, e não pela imposição de padrões estéticos — alerta Débora.
Dúvidas sobre o preenchimento labial
Com base em suas especialidades, o cirurgião plástico e a consultora de imagem responderam a oito dúvidas sobre preenchimento labial. Confira:
1. Fica óbvio que fiz o procedimento?
O resultado tem relação com a técnica de aplicação do profissional, com o tipo de substância e a quantidade injetada.
— Na primeira aplicação, o ideal é utilizar apenas 1 ml de produto, para garantir a naturalidade na harmonização dos lábios e evitar o efeito duck lips, ou bico de pato — explica Maatz.
2. O resultado é imediato?
Assim que é feita a aplicação já é possível notar o aumento do volume dos lábios.
— No entanto, o resultado só é percebido após cerca de 20 dias, com o desinchaço total e ação do ácido na região aplicada — garante o cirurgião.
3. Qualquer pessoa pode fazer?
Há casos em que o procedimento não é recomendado, como em mulheres grávidas ou que estejam amamentando.
— Pessoas que possuem algum tipo de doença crônica ou alguma inflamação/infecção nos lábios, como herpes, devem evitar o procedimento — exemplifica Maatz.
Débora reforça que o profissional deve sempre alertar sobre os impactos de imagem que podem ser gerados pela intervenção:
— É importante se aprofundar na personalidade da pessoa e garantir que o resultado fique harmônico com a estrutura do seu rosto e com sua individualidade.
4. Vou sentir dor?
Segundo o médico, o próprio ácido hialurônico tem apresentações que já possuem anestésico em sua composição.
— Mas, ainda assim, é preciso aplicar anestesia local. Sem ela, o(a) paciente sentirá dor.
5. Botox é a mesma coisa que preenchimento labial?
— Popularmente conhecida como botox, a toxina botulínica é produzida pela bactéria Clostridium botulinum que, aplicada no músculo, resulta no relaxamento do local. Tem como finalidade diminuir rugas dinâmicas e marcas de expressão, podendo também ser usada na região da boca, mas não para o preenchimento labial — esclarece Maatz.
6. O preenchimento também corrige assimetria dos lábios?
O cirurgião explica que o procedimento não serve apenas para aumentar os lábios, mas também para corrigir assimetrias e promover contornos mais definidos, trazendo uma melhor harmonia para a face.
Segundo Débora, todas as pessoas têm o rosto assimétrico, ou seja, um lado é diferente do outro, em maior ou menor grau.
— A intervenção é indicada em casos mais extremos, cuja assimetria labial é bastante evidente, e compromete a autoestima e a qualidade de vida da pessoa — pondera.
7. É possível reverter o procedimento?
Sim, já que o ácido hialurônico é reabsorvido naturalmente pelo organismo, dentro de um determinado período. Através da aplicação de uma enzima que inativa o ácido hialurônico, o preenchimento é revertido.
— Porém, o procedimento não deve ser realizado prevendo sua reversibilidade — ressalta Maatz.
8. Qual a duração do preenchimento labial?
A durabilidade média do efeito é de nove a 12 meses.
— Após esse período, é importante fazer uma avaliação e reaplicar o ácido hialurônico para prolongar os efeitos — pontua o médico.
A visagista lembra que o procedimento é um dos menos invasivos e tem a vantagem de não ser definitivo.
— As pessoas mudam ao longo da vida, inclusive suas prioridades. Hoje, o preenchimento labial pode ser o seu maior desejo, mas, em algum momento, é possível que você não se identifique mais com ele. Daí o benefício de o procedimento ser de curto prazo — conclui.