Atire a primeira pedra quem nunca sonhou com lábios carnudos a la Angelina Jolie. Se a genética não ajuda, há outros caminhos para chegar lá: o “bocão” está cada vez mais comum entre as famosas graças ao preenchimento labial. A lista daquelas que optaram pelo procedimento é longa e inclui nomes como Anitta, Luísa Sonza, Rafa Kalimann e Marília Mendonça.
— Está cada vez mais popular, principalmente de uns três anos para cá. Faz parte do padrão de beleza desejado atualmente — avalia a dermatologista Analupe Webber, presidente da Sociedade de Dermatologia – Secção RS.
Os dados do último censo divulgado pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), de 2018, já apontavam esse maior interesse: o preenchimento cutâneo, incluindo o labial, foi o segundo procedimento não cirúrgico mais realizado pelos médicos, atrás apenas da aplicação de toxina botulínica, o botox. E essa alta na procura acabou esbarrando ainda num cenário de pandemia, o que colocou a face mais em evidência em razão das videochamadas, pontua a cirurgiã plástica Lívia Zart Bonilha:
— Nos voltamos muito para o rosto em 2020. As pacientes costumam trazer exemplos de famosas, mas até mais puxando o lado negativo. “Não quero ficar que nem essa aqui, com boca de pato”. Na maioria, há um medo de beirar o artificial.
A seguir, tire suas dúvidas sobre o tema com as especialistas.
Como funciona o procedimento?
É realizado em consultório e dura, em média, entre 30 e 60 minutos. O preenchimento é feito com ácido hialurônico, por meio de agulhas ou cânulas para injetar a substância. Para aliviar a dor, é usado um anestésico tópico, em pomada – também pode-se optar pela anestesia local.
— Há vários tipos de ácido hialurônico, com diferentes efeitos. Alguns deixam o lábio mais hidratado, luminoso. Outros reforçam o contorno, podem ajudar a diminuir rugas perto da boca ou só dão mais volume mesmo — explica a cirurgiã. — Avaliamos as possibilidades conforme a ideia da paciente, não há um padrão.
Uma sessão costuma ser suficiente, porém, caso queira mais volume ou até mesmo salientar o contorno, pode-se repetir o procedimento semanas depois.
— Não há limite ou nada do tipo, é muito do alinhamento entre paciente e médico. Precisamos cuidar a proporção entre o lábio superior e inferior — diz Analupe.
A duração do preenchimento é, em média, de 12 a 18 meses.
Qualquer mulher pode fazer?
Não. Há contraindicação para pessoas com doenças autoimunes, problemas de coagulação e em tratamento quimioterápico. Grávidas e lactantes também não são aconselhadas a realizar o preenchimento. Por ser um procedimento minimamente invasivo, não são necessários exames prévios, apenas uma avaliação clínica do estado de saúde. A cirurgiã explica ainda que não há maiores riscos para pacientes saudáveis com doenças controladas, como diabetes e hipertensão.
— Também não há limite de idade. A partir de 18 anos, a mulher pode realizar, apesar de ser incomum receber jovens assim no consultório. Percebo mais interesse nas mulheres a partir de 20 e poucos. Também há um grupo grande de mulheres maduras, até depois de 70 anos, que buscam recuperar o volume perdido, o contorno e outras coisas que incomodam — diz.
Quando é indicado pelo médico?
Analupe ressalta que em casos de cicatrizes na face, assimetria, paralisia facial e defeito congênito o médico pode indicar a realização do preenchimento. Mas, em sua maioria, o procedimento é feito para satisfazer os desejos estéticos da paciente, o que deve servir de alerta, segundo a médica:
O procedimento deve ser uma decisão bem pensada, não podemos banalizar.
ANALUPE WEBBER
dermatologista
— Colocar um lábio não é comprar uma roupa. Quando atendo uma menina muito nova, eu questiono, explico que podem ocorrer complicações, é um procedimento médico. Já nas mulheres maduras é diferente, porque há uma perda natural do volume dos lábios por causa do envelhecimento. O preenchimento dos lábios é importante no rejuvenescimento total da face.
Como é a recuperação?
De cinco a sete dias após o procedimento, o inchaço desaparece. Logo após o preenchimento, é indicado colocar compressas com bolsa de gelo na região. Fora isso, a rotina segue normalmente e não há necessidade de repouso. Nos três primeiros dias, além do inchaço, a pessoa pode sentir desconforto ou apresentar algum hematoma.
— Se houver dores mais fortes, inchaço demasiado ou hematomas que vão aumentando é preciso entrar em contato com o médico — esclarece a dermatologista.
Há riscos?
Sim. Apesar de ser considerado de baixo risco, qualquer procedimento pode apresentar complicações. Entre as mais comuns, estão as inflamações e reações alérgicas. Em casos graves, apesar de raros, é possível ocorrerem oclusões vasculares que podem resultar em necrose e paralisia temporária.
— Com um profissional habilitado aplicando a técnica correta, usando um material de boa qualidade e tomando todos os cuidados, as complicações são raras. E, se aparecem, são passíveis de tratamento médico — defende Analupe. — É um procedimento de baixo risco desde que todas essas questões sejam seguidas à risca.
Uma dúvida constante é sobre a perda de sensibilidade do lábio. Embora seja uma complicação rara, explica a cirurgiã, há maior risco para quem deseja um grande volume na região:
— Quanto mais ácido hialurônico, maior a chance de impactar a mobilidade e a sensibilidade. Mas não é algo comum de se ver.
E se eu não gostar?
É possível reverter o procedimento. Caso a paciente não goste do resultado ou precise retirar o preenchimento em função de complicações, pode-se aplicar uma substância para dissolver o ácido hialurônico injetado na região.
— Não é simples. Pode necessitar de várias sessões e ser dolorido. Podem ocorrer efeitos colaterais, enfim, por isso sempre digo que o procedimento deve ser uma decisão bem pensada, não podemos banalizar — avalia Analupe.
Quais profissionais fazem?
Entidades médicas defendem que apenas dermatologistas e cirurgiões plásticos são aptos a fazer. Mas resoluções editadas em 2019 e 2020 pelo Conselho Federal de Odontologia autorizam dentistas a realizarem determinados procedimentos estéticos. O embate está na Justiça e ainda não há decisão sobre o tema.