Se não aconteceu com você, ainda sim é provável que já tenha escutado o relato de alguma conhecida que, após suspender o uso das pílulas anticoncepcionais, viu a oleosidade da pele piorar e, como consequência, o surgimento de mais espinhas. Para algumas, o efeito dura apenas alguns meses, enquanto para outras não retorna ao normal facilmente. E há ainda quem experimente o efeito contrário: ao parar, sente a pele melhorar. Para explicar este fenômeno, conversamos com a ginecologista Simone Vaccaro (@drasimonevaccaro) e com a dermatologista Juliana Boza.
Parar de tomar a pílula anticoncepcional piora a acne?
A resposta é: depende de qual pílula a paciente estava tomando, explica Simone. As pílulas que contêm somente progestogênios/progestonas, que são uma formulação sintética que tenta se aproximar do nosso hormônio natural progesterona, costumam, na verdade, aumentar a acne e a oleosidade da pele.
Já as pílulas que, somadas a estes sintéticos, também apresentam etnil-estradiol, uma formulação similar ao estrogênio, têm como característica a melhora da pele porque bloqueiam a composição masculina do organismo da mulher. São essas que, quando interrompidas, a paciente sente maior oleosidade e surgimento de espinhas. Isso porque contam com uma ação anti-androgênica, que equilibra as oscilações hormonais, e são inclusive indicadas para quem tem maior propensão a desenvolver acne. Por elevarem a proteína SHBG no corpo, diminuem a circulação da testosterona no organismo, o que causa os efeitos antes mencionados.
— A pele fica mais bonita, com menos oleosidade, o cabelo cai menos. Por outro lado, e aí vem uma grande questão, também diminui a libido, a musculatura, aumenta a propensão ao ganho de gordura localizada. É esse binômio que estamos sempre brigando com relação à pílula anticoncepcional. É um preço alto que se paga. Além de câncer de mama e problemas tromboembólicos, que estudos científicos comprovam que podem acontecer — lembra a ginecologista.
Para ela, o uso de anticoncepcional para melhora da pele não é uma indicação.
— Hoje temos metodologias com menos riscos, feitas por dermatologistas, que não precisam ser com o uso do hormônio sintético — opina.
Quando a pele volta ao normal?
A paciente que interrompe o uso deste último tipo de anticoncepcional libera testosterona, antes retida, na corrente sanguínea, explica Simone, causando a "confusão" de sintomas, que tende a durar cerca de quatro meses, de acordo com a médica.
— Nos primeiros quatro meses, é muito intenso. Vem muita oleosidade, queda de cabelo, acne, a paciente se sente estranha, mas depois há uma tendência de estabilizar e, com o passar do tempo, equilibrar — garante a ginecologista.
Outra questão importante é que, sem a pílula, a ação da tensão pré-menstrual - a famosa TPM - , se intensifica. Neste período, por conta das alterações hormonais pós-ovulação, faz parte da fisiologia de algumas mulheres o surgimento de espinhas pontuais, diz Simone. Além disso, a médica lembra que a acne tem uma relação direta com a dieta - alimentação rica em gorduras e açúcares favorece o surgimento das inflamações na pele.
E quem usa DIU hormonal?
Quem faz uso do método conhecido como DIU, sigla para dispositivo intrauterino, experimenta a mesma relação hormonal de quem utiliza a pílula anticoncepcional que contém a formulação sintética de progesterona, diz Simone. Por isso, pode sentir uma piora na oleosidade da pele, bem como o surgimento de espinhas.
O que fazer?
Parei a pílula anticoncepcional e começaram a surgir muitas espinhas, o que fazer? A dermatologista Juliana explica que o tratamento da acne inclui uso de sabonetes específicos e produtos de uso tópico e por via oral.
— A escolha do melhor tratamento irá depender de como está a pele e demais características de cada paciente. A piora pode iniciar com aumento de oleosidade e surgimento de cravos. Quanto antes iniciar o tratamento, melhor o resultado — reforça.
Fique atenta!
Se, além da acne, aparecerem outros sinais de hiperandrogenismo após a pausa da pílula anticoncepcional, como aumento significativo de pelos, queda de cabelo e irregularidade menstrual, pode haver algum distúrbio endócrino associado, lembra Juliana. Por isso, é importante procurar por uma investigação laboratorial. A Síndrome dos Ovários Policísticos costuma ser um dos principais diagnósticos nestes casos.