Você está naquela fase cheia de espinhas pelo rosto, ou lutando contra a bola vermelha solitária que chama atenção na ponta do nariz. Na melhor das intenções, uma amiga ou familiar indica: "Fulana, vai tomar um sol que passa". Quem aí já ouviu essa recomendação? Pois é, volta e meia a exposição da pele com acne ao sol surge como cura milagrosa para "secar" as espinhas e, assim, fazê-las desaparecer de vez.
Será que funciona mesmo? É isso que vamos descobrir nesta matéria da seção Quero Saber na Revista Donna. Para explicar todos os detalhes, conversamos com a dermatologista Clarissa Prati (@draclarissaprati) e também batemos um papo com a dermatologista Vanessa Santos Cunha, doutora pela UFRGS.
Afinal, sol cura espinha?
A resposta é não. Acne é uma doença e não será curada apenas com exposição solar, mas sim, com tratamento médico. Sabe aquela sensação de que as espinhas "secaram" depois de tomar sol? Ela é verdadeira, pois os raios solares têm poder anti-inflamatório. Porém, não se anime: os riscos de investir no método são muito maiores do que os benefícios.
– A radiação UV pode ajudar a melhorar muitas doenças da pele, como a psoríase e a dermatite atópica, que ocorrem nas camadas média e superficial da pele. Assim, o sol pode até auxiliar um pouco na inflamação mais superficial da acne. Só que uma das responsáveis pelo surgimento da acne é a alteração da produção de gorduras na glândula sebácea. Como o calor do sol estimula essa secreção, a acne irá piorar com a exposição – destaca a médica Clarissa.
Já a dermatologista Vanessa alerta para um "efeito rebote", além da chance do sol causar marcas permanentes na pele:
– Quando paramos de tomar sol, depois do verão, a tendência é uma grande piora do quadro. Há também o risco da produção de cicatrizes, principalmente de manchas escuras. Pegando sol em uma acne inflamada, por exemplo, aquilo pode se tornar uma mancha até definitiva.
E por que as espinhas aparecem?
A genética está entre os principais fatores associados ao aparecimento de espinhas. Segundo a dermatologista Clarissa, a acne tem origem a partir de quatro pontos básicos: inflamação (mesmo na pele em que não se enxergam lesões), influência hormonal (é comum surgir lentamente quando se inicia a liberação dos hormônios sexuais ainda na infância), atuação de bactéria específica (a C. acnes) e alteração na qualidade da secreção sebácea.
– Pode-se ter a pele oleosa, poros mais dilatados e obstruídos, mas não haver acne. Ela se desenvolve em pessoas com tendência genética para tal – explica a médica.
Outra informação importante é que a glândula sebácea geralmente está anexa ao folículo piloso, de onde vêm os pelos. E, apesar de não parecer, temos fios espalhados por todo o corpo, destaca a dermatologista Vanessa:
– Temos por tudo, exceto nas palmas e nas plantas. Fora isso, podemos ter essa inflamação da glândula sebácea em qualquer lugar, sendo mais comum na face e no tronco, principalmente costas e colo.
Como tratar?
A dica é a seguinte: esqueça o sol e foque da ajuda de um especialista. O tratamento prescrito pelo médico vai depender da gravidade do quadro e da resposta ao uso de medicamentos tópicos. Clarissa pontua a necessidade de iniciar os cuidados das lesões assim que elas aparecerem na pele, independentemente da idade do paciente:
– Quanto mais lesões nodulares e císticas, aquelas doloridas, maior a tendência a se pensar em um tratamento sistêmico, como com bloqueadores hormonais, antibióticos, retinóides, pois o risco de cicatrizes é muito maior. Outra coisa importante de salientar é que a acne é uma doença. A skincare é importante, mas, em geral, não é suficiente utilizar apenas cosméticos para lidar com esses quadros.
Quais cuidados devo ter ao expor a pele ao sol?
Seu mantra deve ser aquele cantado por Pedro Bial: use filtro solar. As especialistas pontuam que o uso da proteção deve ser diária, ainda mais para quem tem acne, já que ajuda a diminuir o risco de manchas.
– Hoje em dia, há no mercado vários filtros disponíveis que, inclusive, ajudam no tratamento da acne, controlando a oleosidade da pele, além de protegeram do sol – indica a dermatologista Vanessa.
E mais: a exposição prolongada ao sol é um dos principais fatores de risco do câncer de pele, o tipo mais comum no Brasil. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), todo ano são diagnosticados aproximadamente 180 mil novos casos – ou seja, em média, um a cada quatro é classificado como câncer de pele. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os Estados com maior incidência da doença.
A médica Vanessa explica que a colonização europeia por aqui faz com que gaúchos e catarinenses tenham uma pele mais clara em comparação ao resto do país e precisem redobrar os cuidados com a proteção diária. Há um forte fator genético relacionado ao câncer de pele, no entanto, a dermatologista confirma que doença está associada ao "tomar sol", tanto aquele "torrão" que deixa a pele avermelhada quanto as pessoas de exposição crônica, como os agricultores. Para se proteger, ela indica:
– É preciso evitar o pico de radiação, das 11h às 15h, sempre que se expor ao sol usar filtro solar, tentar ficar embaixo do guarda-sol e usar roupas protetoras.
Preciso tomar sol sem filtro todos os dias. Mito ou verdade?
Esse é um assunto controverso na classe médica e entre os pesquisadores. Há especialistas que indicam a prática, enquanto outros são mais resistentes. A vitamina D realmente precisa dos raios ultravioleta para seu metabolismo adequado pelo corpo, porém, é preciso cautela. Com os riscos da exposição solar prolongada, a dica da dermatologista Clarissa é deixar áreas da pele que não costumam tomar sol (não o rosto, por exemplo) por apenas 15 minutos em evidência, como forma de garantir a segurança.
– A vitamina D é importante para uma série de funções corporais. Expor a pele por esse curto período de tempo ajudará nessa tarefa – explica a médica.
Já a dermatologista Vanessa prefere não indicar qualquer tipo de exposição ao sol sem filtro, por mais curto que o período seja. Segundo a especialista, a absorção solar ocorre em alguma medida pelo couro cabeludo e até através da roupa e isso seria o suficiente para quem vive em um país tropical como o Brasil.
– Claro que em países do hemisfério norte, com um período de dia mais curto, é mais necessário uma exposição voluntária – diz a médica. – Na pandemia, as pessoas estão mais em casa, então é recomendado tomar um sol até por questões de saúde mental, ajuda a deixar as pessoas mais animadas. Mas, não sem filtro, pelo menos no rosto tem que passar. Se caso tenha uma deficiência de vitamina D, vai repor via oral, não há necessidade de tomar sol para isso.