Atire a primeira pedra quem nunca foi afetado pelo estresse ou pela ansiedade. Dor de barriga, noites mal dormidas, ausência de apetite (ou uma fome descontrolada) e por aí vai. E sabe qual é uma das reações mais comuns desencadeadas pelas questões psicológicas? As lesões na pele.
A tal "alergia emocional" foi a responsável, segundo a influencer Mayra Cardi, por várias bolinhas que se espalharam por seu corpo nos últimos dias. Em um relato nas redes sociais, ela creditou as marcas ao momento estressante que está enfrentando, já que confessou recentemente aos fãs ter vivido um relacionamento abusivo quando era casada com Arthur Aguiar – ele rebateu as acusações e disse não ser um abusador.
Afinal, alergia emocional existe? A dermatologista Clarissa Prati, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Estado (SBD-RS), e a médica Fernanda Nichelle, pós-graduada em dermatologia e diretora da Clínica MAC – Medicine Aesthetic Clinic, explicam tudo sobre a ligação entre erupções cutâneas e situações de estresse. Veja a seguir!
Verdade ou mentira?
Sim, alergia emocional existe. Não há um diagnóstico especificamente com esse nome na medicina, porém, as especialistas confirmam que manifestações na pele de fundo emocional são comuns no consultório – ainda mais em tempos de pandemia, que trouxe instabilidade em diferentes áreas.
– Há pacientes que têm a tendência genética de desenvolver alterações devido ao estresse. E as emoções podem desencadear uma reação ou ainda piorar doenças preexistentes, como dermatite atópica e psoríase – explica Clarissa Prati.
Os gatilhos
É mais comum situações que geram picos intensos de estresse, como perda de emprego e morte de um familiar, acarretarem problemas na pele. Só que o acúmulo da ansiedade dia após dia também pode ter impacto a longo prazo. As mulheres costumam ser mais suscetíveis à alergia emocional, e são elas que mais procuram ajuda nos consultório, ressalta a médica Fernanda:
– Os homens geralmente vão levando, só buscam o médico em casos extremos. Na pandemia, temos visto ainda muita queda de cabelo em mulheres, além da dermatite. Acho que esses quadros por estresse devem se agravar ainda mais nos próximos meses em razão da crise financeira que está se instalando.
Como identificar
Coceira pelo corpo e vermelhidão na pele são sinais comuns da alergia emocional, embora não haja um padrão para todos os casos. E existe uma explicação médica para esses eczemas. De acordo com Fernanda, quando a pessoa passa por uma situação com abalo psicológico, ocorre a liberação de catecolaminas, o que faz a pele ficar ruborizada, com vermelhidão e sensação de coceira. Junto disso, o corpo enfrenta o aumento do cortizol, o hormônio do estresse, que orienta cascatas inflamatórias no corpo.
– Por isso, vem a coceira difusa no corpo, muitas vezes com máculas e placas na pele de cor avermelhada. Às vezes, as lesões aparecem por causa da própria coceira, da unha em contato com a pele – diz Fernanda.
Papo com o médico
O diagnóstico, explica a dermatologista Clarissa, é feito com base na história clínica e no exame físico. Há casos em que é preciso retirar um pedaço da lesão para análise, o que ajuda a descartar alguns tipos de doenças.
– Em geral, uma boa conversa com o paciente e examinar a lesão já é o suficiente. Falando com a paciente, muitas vezes vemos que tem por trás um familiar doente, uma perda, as questões econômicas, preocupação, estresse com filhos em casa – avalia a vice-presidente da SBD-RS.
Quando a alergia emocional é identificada, o início de um tratamento multidisciplinar se torna uma opção. A ajuda de um psicólogo ou psiquiatra foca no raiz do problema e pode evitar o aparecimento das lesões cutâneas novamente.
Como tratar
O tratamento costuma ser feito com remédios orais e pomadas para a pele. Dependendo do caso, podem ser receitados anti-inflamatórios e antialérgicos. A dermatologista Clarissa dá ainda algumas dicas para tentar evitar o agravamento dessas lesões na pele. Mesmo no confinamento, manter a rotina de skincare é essencial, explica:
– Precisa fazer a limpeza da pele com o sabonete específico para rosto e corpo e manter a hidratação. Essa rotina estabelece uma organização melhor da barreira cutânea e diminui o potencial risco dessas erupções que coçam. Além disso, modular a ansiedade com a prática de atividades físicas pode ajudar também.
Procure um médico
Mesmo na pandemia, as médicas ressaltam a importância de não deixar de consultar com um especialista da área para obter um diagnóstico preciso. A telemedicina se tornou uma opção em tempos de coronavírus e pode ajudar a frear um quadro inflamatório que tem tendência a se agravar conforme a coceira aumenta e as lesões se espalham pelo corpo.