O câncer de pele, mais comum entre os tumores, está diretamente relacionado à radiação ultravioleta, mas não exclusivamente ligado a longas horas sob sol forte.
A exposição aguda, aquela que ocorre especialmente no verão, é a mais óbvia e, por isso, foco maior de campanhas e alertas de cuidado. Contudo, a exposição crônica exige igual atenção, justamente por ser imperceptível, mas não menos perigosa – trata-se de pequenas mas frequentes quantidades de sol que se toma diariamente em áreas expostas ao longo da vida, durante um passeio na rua a pé ou de bicicleta em dias muito quentes ou até mesmo a prática diária de exercícios físicos a céu aberto.
Juliano Cé Coelho, oncologista clínico do grupo Oncoclínicas e pesquisador clínico da unidade de pesquisa em oncologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, ressalta ainda questões genéticas, como o fenótipo europeu (pessoas loiras de pele e olhos claros), como agravante das condições para o desenvolvimento do câncer de pele, e rechaça uma prática que, embora proibida, ainda ocorre de forma clandestina em alguns estabelecimentos de beleza:
— Camas de bronzeamento artificial podem colaborar para o tumor de pele.
A soma desses fatores faz com que Rio Grande do Sul e Santa Catarina sejam, proporcionalmente ao número de habitantes, os Estados campeões nos casos de câncer de pele no Brasil, de acordo com os especialistas ouvidos por GaúchaZH. A herança europeia faz com que o fenótipo de grande parte dos gaúchos seja de pessoas de pele, cabelo e olhos claros. Segundo o último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 83,2% da população gaúcha é branca, índice acima da média brasileira, de 47,5%. Além disso, agrega-se o fato da camada de ozônio ser mais fina na região Sul, fazendo com que a incidência solar sobre essa área do país seja maior.
Outro agravante que explica a infeliz liderança no ranking é de caráter comportamental: ao contrário de outras regiões do país, onde é possível ir para a praia durante todo o ano, os gaúchos têm apenas os três meses do verão para aproveitar o sol. Com a vontade de aproveitar ao máximo a estação, acabam passando dias inteiros à beira-mar, provocando queimaduras que colaboram para o câncer de pele.
Dia D é neste sábado (07/12)
Foi em 2014 que a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) deu início a um movimento de conscientização chamado Dezembro Laranja, que faz parte da campanha nacional de prevenção ao câncer de pele.
— Os objetivos são dois: lembrar que o câncer de pele não é raro e que vale a pena ser diagnosticado precocemente — salienta Maurício Conti, dermatologista da SBD.
Sempre no último mês do ano, a entidade médica realiza ações para informar a população sobre as principais formas de prevenção, sustentada no tripé horário, vestuário e protetor solar. Ainda assim, apesar das constantes recomendações de dermatologistas ao longo dos anos, a maioria das pessoas parece ignorar o que é dito pelos médicos e continua a se expor ao sol por horas a fio, principalmente no pior período do dia, entre 10h e 16h.
— As pessoas não cumprem com o que pedimos porque o câncer de pele é uma doença que demora muito tempo para cobrar sua conta. Você vai se bronzear hoje sem protetor, mas o tumor só vai aparecer daqui a 20, 30 anos. Mas, além do câncer, o sol provoca envelhecimento ainda mais rápido — afirma Conti.
Leandro Ferraz, que se curou do câncer de pele há mais de 15 anos, admite que ele próprio pensava assim quando adolescente:
— Ia para a praia sem nada para me proteger no corpo. Chegava às 8h e saia às 20h. Era uma exposição maior, mas demorou uns 20 anos para aparecer em mim.
As pessoas não cumprem com o que pedimos porque o câncer de pele é uma doença que demora muito tempo para cobrar sua conta. Você vai se bronzear hoje sem protetor, mas o tumor só vai aparecer daqui a 20, 30 anos.
MAURÍCIO CONTI
Dermatologista
Neste ano, o dia D da campanha será neste sábado (7/12), das 9h às 15h, em todo o Brasil. No Estado, serão 10 pontos de atendimento, sendo dois na Capital e os demais no Interior (confira abaixo).
— Se for verificado que o paciente tem suspeita de câncer de pele, essa campanha tem como obrigação não abandoná-lo e providenciar agendamento para que ele siga sendo tratado – completa Conti.
Em 1991, a apresentadora Ana Maria Braga comoveu o Brasil ao revelar publicamente a descoberta de um tumor de pele. No ano passado, ela engajou-se na campanha Dezembro Laranja e, durante o programa Mais Você, da TV Globo, falou sobre o drama que enfrentou:
— Tomei muito sol numa época que não tinha protetor solar. A gente passava coisas para ficar com aquele bronze. Misturava tudo que era marrom com urucum. Aquilo fritava. Essa falta de informação me levou a ter câncer de pele. Até hoje tenho problema de pele.
Ana Maria também declarou que poderia ter enfrentado problemas piores se não tivesse dado a devida atenção para doença:
— Tive a sorte de não ter uma metástase. As pessoas não acreditam que câncer de pele mata, mas o assunto é muito sério, disse.
Onde ir
- Em Porto Alegre, o atendimento ocorre no Ambulatório de Dermatologia Sanitária, na Avenida João Pessoa, 1327, e no Posto de Saúde IAPI, na Rua Três de Abril, 90, no bairro Passo da Areia.
- Na Região Metropolitana, o atendimento será no Ambulatório do Hospital Universitário da Ulbra, em Canoas.
- No Interior, haverá os seguintes postos: Centro Clínico da Universidade de Caxias do Sul; Ambulatório de Especialidades Médicas do Centro Clínico Univates, em Lajeado; Ambulatório de Dermatologia, em Passo Fundo; Centro de Especialidades Municipal de Pelotas; Ambulatório do Hospital Universitário de Rio Grande; Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul; e Policlínica Municipal de Uruguaiana.
8 dicas de proteção contra o câncer de pele
- Usar chapéus, camisetas, óculos escuros e protetores solares.
- Cobrir as áreas expostas com roupas apropriadas, como camisa de manga comprida, calça e chapéu de aba larga.
- Evitar a exposição solar e permanecer na sombra entre 10h e 16h.
- Usar filtro solar diariamente e não somente em horários de lazer ou de diversão. Utilizar um produto que proteja contra radiação UVA e UVB e tenha um fator de proteção solar (FPS) 30, no mínimo.
- Reaplicar o produto a cada duas horas ou menos, nas atividades de lazer ao ar livre. Ao utilizar o produto no dia a dia, aplicar uma boa quantidade pela manhã e reaplicar antes de sair para o almoço.
- Observar regularmente a própria pele, à procura de pintas ou manchas suspeitas.
- Manter bebês e crianças protegidos do sol. Filtros solares podem ser usados a partir dos seis meses.
- Consultar um dermatologista uma vez ao ano, no mínimo, para um exame completo.