Seguro e bastante eficiente no controle de fecundidade feminina, o método conhecido como DIU, sigla para dispositivo intrauterino, ainda é muito pouco utilizado em solo nacional. Estima-se que menos de 2% das brasileiras usem métodos reversíveis de longa duração, como o DIU, contra 70% das europeias.
Apesar da sua eficácia superior à tradicional pílula, o método ainda não ganhou força e segue envolto em mitos. Para esclarecê-los, reunimos algumas dúvidas comuns sobre essa forma de contracepção. Confira:
O que é o DIU?
É um dispositivo – também aparece com o nome de sistema intrauterino, ou SIU – em formato de "T", ou "Y" ou de ômega (como se fosse uma ferradura), colocado dentro do útero da mulher, que torna o ambiente uterino nada favorável aos espermatozoides. Há dois tipos de deles: de cobre, sem nenhum tipo de hormônio, e o hormonal, conhecido pelo nome comercial Mirena.
O não hormonal libera cobre no interior da cavidade uterina, como explica o diretor de Ginecologia do Hospital Pérola Byington, André Malavasi, diretor da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo.
— Por uma ação iônica, ele diminui a motilidade dos espermatozoides, que não conseguem subir por que o ambiente fica hostil. E caso haja fecundação, o zigoto, que é o embrião primitivo, não consegue se grudar na parede do útero.
A versão hormonal contém 52mg de levonorgestrel (hormônio semelhante ao que a mulher produz quando ovula) e libera 20 mcg da substância por dia.
— A quantidade de hormônio é muito baixa, mas suficiente para ter efeito local. Para termos de comparação, a pílula do dia seguinte tem o mesmo hormônio, só que em uma dose de 1,5 mg — completa Malavasi.
De onde surgiu?
Conforme Malavasi, a ideia do sistema vem de um conceito árabe bastante antigo que tinha como base a inserção de pedrinhas no útero de camelos fêmeas para evitar a gravidez. Ou seja: um corpo estranho dentro da cavidade uterina seria capaz de alterar a fecundidade.
Qual a eficácia?
Ambos têm uma taxa de falha muito baixa. O DIU de cobre tem falha de 0,6% a 0,8% ao ano, enquanto o Mirena tem de 0,2%, anualmente.
— A pílula comum, quando falamos de uso perfeito, tem falha de 0,3%. Mas no uso habitual, chega a 3%, pois sabemos que a mulher pode ter vômitos, diarreia etc. — diz o médico de São Paulo.
Conheço mulheres que usavam DIU e engravidaram. Pode?
O que pode acontecer é de o dispositivo estar mal posicionado, por isso não agiria de forma efetiva.
— Em qualquer série mundial, mesmo o DIU mais simples, de cobre, é 10 vezes mais efetivo do que a pílula. O que acontece é que o DIU pode ser mal colocado, ficar no canal e não no colo, e a paciente não fazer a revisão. Na maioria dos casos é por que não revisou e ele foi mal colocado ou ele venceu — destaca o professor de ginecologia da UFRGS Valentino Magno.
Outra possibilidade é de mulher já estar grávida na hora do implante, o que pode gerar essa falsa conclusão. Também por isso é recomendado colocar o dispositivo durante a menstruação.
Quanto tempo dura?
Os de cobre podem durar três, cinco e 10 anos. Já o Mirena dura cinco anos.
Dói para colocar ou retirar?
Os procedimentos são, via de regra, indolores e podem ser feitos no consultório.
— Mas isso depende do limiar de dor da mulher — destaca Malavasi
— Pode-se usar anestesia local (para inserção), com xilocaína gel ou sedação leve para aquelas que têm aflição no exame ginecológico, mas isso é exceção — completa.
Por se tratar de um corpo estranho ao organismo, pode haver dor nas primeiras horas e até alguns dias após a inserção. Contudo, Magno afirma que isso é uma reação natural – o útero pode ficar em contração na tentativa de expulsar esse novo corpo. Isso pode ser resolvido com a prescrição de um anti-inflamatório. Os médicos também recomendam a colocação durante a menstruação por dois motivos: o colo do útero está mais aberto, facilitando o procedimento, e a convicção de que a mulher não está grávida.
Já a retirada do dispositivo também é considerada indolor e é feita durante uma consulta médica. Magno afirma que a retirada não exige nenhum preparo e o procedimento (em termos de desconforto) equivale ao exame preventivo de colo de útero.
Ele pode sair sozinho?
Pode acontecer, mas a taxa de expulsão varia de 2% a 4%, diz Malavasi. Essa expulsão ocorre, geralmente, dentro dos primeiros 30 dias. Passado o período, é raro haver expulsão.
— Costumamos reavaliar a paciente entre 20 e 30 dias após a colocação para verificar se o dispositivo está bem posicionado — fala Magno, acrescentando que, depois disso, a revisão deve ocorrer anualmente.
Nas revisões, tanto logo após a colocação, quanto anual, a paciente passa por um exame físico. Não há nenhuma norma que exija realização de exames de imagem nesses casos.
— A recomendação da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) é a revisão com o médico. Mas a maioria dos médicos pede ecografia nas revisões para dar mais segurança à paciente, mas não é necessário —garante Magno.
Como fica a menstruação?
Como o DIU de cobre leva a uma inflamação, geralmente, aumenta o fluxo menstrual e a duração dele – problema mais relatado entre queixas sobre o uso do DIU. As cólicas também podem ser mais frequentes. Com o hormonal, pode haver sangramento no primeiro mês, caindo pela metade no segundo e podendo chegar ao fim da menstruação todos os meses.
Eles engordam?
Malavasi é taxativo ao afirmar que nenhum dos dois tem efeito na balança.
Quando a vida sexual pode ser retomada após a inserção?
Não há problemas em ter relações sexuais após a inserção. No entanto, pede-se, pelo menos, 48 horas de intervalo após a colocação.
— Não tem regra, vale o bom senso. Mas como aumenta bastante a cólica, pedimos esse tempo — diz o professor da UFRGS.
Só vale um alerta: como o dispositivo pode estar mal posicionado, Magno recomenda que o casal utilize outro método contraceptivo adicional até a primeira revisão dos 20/ 30 dias.
Como fica a fertilidade após retirar o DIU?
A fertilidade é retomada assim que o dispositivo é retirado. Na prática, a mulher pode engravidar no mês seguinte. Para termos de comparação, ao tomar pílula, esse prazo pode chegar a seis meses após cessar a ingestão.
Quem tem indicação?
Mulheres jovens com ou sem filhos são boas candidatas para colocação de DIU.
— Mulher em qualquer idade e paridade (número de partos) que desejar um método contraceptivo. Mas vale o bom senso: se a pessoa quer engravidar no próximo ano, não vale a pena. Agora, se a mulher pretende gestar dentro de dois anos, já vale — explica Magno.
Além disso, mulheres que sofrem muito com cólica, sangramento excessivo – que leva à perda de ferro – ou outros problemas, como endometriose, podem ter indicação do Mirena para fins de tratamento.
Quem não pode colocar?
As contraindicações são poucas, mas existem. As primeiras são as mais básicas: não estar grávida e nem com infecção no momento do procedimento. Também não é recomendado para mulheres com mioma dentro do útero. Outras situações devem ser discutidas e avaliadas com o médico ginecologista.
Embora não haja proibição, o método não seria indicado para quem planeja engravidar dentro de um período de um ano.
DIU é abortivo?
A ideia dos dispositivos é evitar a fecundação. No entanto, pode haver um escape e uma fecundação, porém, o zigoto (união da célula masculina com a feminina) não vai para frente, pois não consegue se fixar na parede do útero.
— Na própria natureza isso é difícil, não há essa adesão, é quase um mecanismo fisiológico. Agora, se formos considerar que a gravidez começa antes da implantação do embrião, aí o DIU é abortivo — comenta Malavasi.
Há risco de câncer ou outros problemas?
Magno garante que não há nenhuma comprovação que o hormônio usado no Mirena cause qualquer tipo de tumor ou problema vascular. Também não tem risco de trombose.
Quanto custa?
A depender do lugar onde é comprado, o DIU de cobre custa, em média, R$ 200. Já o Mirena, cerca de R$ 1 mil. Já a colocação particular varia bastante: de R$ 1,5 mil a R$ 3 mil. Contudo, Magno afirma que a maioria dos planos de saúde cobre esse procedimento.