Neste ano foi diferente! Não foi como o planejado, infelizmente. O domingo de Dia das Mães é uma das primeiras datas que vejo no calendário novo, porque, em alguns anos, o aniversário da mãe ocorre junto. Em 2024 é ano da dobradinha. O churrasco na casa do tio Artur teve que esperar.
Minha família mora em Garibaldi, cidade da Serra Gaúcha, e uma das primeiras que sofreu complicações com as chuvas fortes. Desde terça, dia 30 de abril, o acesso à cidade estava bloqueado, agora liberaram algumas pistas para abastecimento de mantimentos, combustível e para área da saúde. Eu, que moro em Porto Alegre, precisei evacuar pelas inundações e estou abrigada na casa de uma amiga, que prestou resgate com segurança. Estamos bem, estamos seguras.
Depois de me organizar e de me estabilizar, fui para o front. Fazer acolhimento das famílias resgatadas, que, além de perderem tudo dentro de casa, ainda viram os familiares ficarem para trás. Famílias que carregam junto a angústia da informação. Estão vivos e como estão?
Uma mistura de sentimentos por estarem salvas, conscientes que precisam estar bem para recomeçar e, ao mesmo tempo, desesperadas de não saber como está quem ficou do outro lado da Guaíba. Troquei contato com as famílias que acolhi, pois a ideia é ficar monitorando e auxiliando, vão precisar de ajuda por bastante tempo, inclusive para buscar emprego. Escutei: “o condomínio que trabalho deve pensar que eu morri, porque estou sem conseguir dar notícias desde quarta".
Todos os gaúchos tiveram que mudar seus planos para essa data! Estamos todos mal de cabeça, e quem está melhor ajuda como pode. Já estamos emocionalmente abalados, fisicamente cansados, por dias e dias de resgates e com notícias de que ainda teremos mais chuva.
O brinde foi trocado por abraços e por palavras de conforto de que vamos passar por isso. A comemoração é por estarmos vivos e seguros. O tim-tim deu espaço para a chamada de vídeo e os sorrisos seguem sendo nossa esperança de que dias melhores virão.
Finalizo essa coluna com os olhos cheio de lágrimas, por ter revivido a tensão e o medo dos últimos dias. Mas muito agradecida pelos meus estarem bem e por ter uma baita rede de apoio em Porto Alegre. Privilégio, sim! E, toda a minha solidariedade para quem, infelizmente, perdeu suas mães e entes queridos nessa tragédia. Também, para aquelas mães que estão com suas filhas em abrigos, com medo da violência e que não largam a mão das meninas.
Que o dia 12 de maio tenha sido de conforto! Que tenha sido uma data leve depois de tantos dias pesados. Que tenha sido aconchego como um abraço de mãe. Que renove a esperança que vamos ficar bem e nos reconstruir. E principalmente, que tenha sido de solidariedade, doações, ressignificação e amor pelo próximo.
Em tempo ainda, feliz aniversário, mãe! Temos sim que comemorar por estarmos seguras no meio desse caos. Em breve, toda nossa família estará reunida, ajudando os outros como podemos, e como sempre fizemos.