Para além das texturas, sabores e aromas, o universo da gastronomia possui a incrível capacidade de se expandir em diversas nuances. Não são só os ingredientes e insumos que estão diretamente envolvidos com a apresentação e produção de pratos elaborados. Todo o ambiente envolvendo a experiência gastronômica costuma girar na ideia de tornar aquele momento único. Para isso, diversos estabelecimentos estão buscando destacar ainda mais essa singularidade, e um dos nichos que tem se sobressaído é o de produção de louças especiais.
Aos 31 anos, Janine Laux é hoje proprietária do Ground Cerâmica, que fundou em julho de 2020, em plena pandemia da covid-19. O contato inicial com a produção desses materiais que têm como matéria-prima a argila, se deu através de uma amiga, que realizou um workshop na área e a indicou. Logo em seguida, Janine se viu encantada pelo mundo do artesanato e produções manuais. O foco, claro, é a produção de louças em cerâmica, que passam por canecas, copos, xícaras, bowls, pratos, pires, conjuntos, jarras e outros produtos que variam em suas formas, tamanhos e cores.
No início do processo, no entanto, a ceramista encontrou muita dificuldade para poder produzir suas peças autorais, já que, na confecção de produtos de cerâmica, é necessário queimar os materiais a altas temperaturas, atingindo entre 950ºC e 1300ºC. Foram esses percalços que fizeram com que Janine entrasse totalmente de cabeça na área, fazendo a compra de seu próprio forno especial e investido em uma mudança total de vida.
– A pandemia contribuiu para que eu desse um salto tão rápido para dentro da cerâmica. Foi um ato de coragem, uma aventura que eu me joguei, e fluiu muito, porque eu consegui encontrar na cerâmica uma conexão de várias coisas que eu queria – conta a ceramista.
Hoje, a proprietária do Ground consegue dedicar sua carreira profissional inteiramente à produção de peças e louças de cerâmica. E isso só acontece porque a demanda por materiais especiais e únicos como esses tem crescido cada vez mais. Entre as peças mais requisitadas no Ground, estão as louças de café da manhã, como copos, xícaras, pequenos pratos e outros utensílios.
– Toda essa questão de ser feito à mão transmite uma energia, e as pessoas sentem isso também. O fato de que todas são feitas à mão, elas não ficam iguais. Cada peça é um pouquinho diferente da outra, tem um toque, tem algo ali. E acho que isso nos conecta também com a nossa ancestralidade – explica a ceramista.
A qualidade dos produtos e sua singularidade passaram a ser requisitadas não só por pessoas comuns, mas também por restaurantes e estabelecimentos gastronômicos. Para Janine, essa procura está diretamente relacionada com a conexão que produtos produzidos com cerâmica possuem com a natureza.
– A cerâmica é uma coisa viva. Ela é uma peça feita à mão, carregando uma energia preciosa. Quem usa, normalmente se conecta com isso e vive uma experiência diferente, por usar uma peça como essa, porque mesmo sendo uma argila que se transformou em algo inanimado, ela segue com vida. É muito fácil de perceber isso quando a gente vai usando – destaca.
Por conta disso, Janine já lançou projetos personalizados para restaurantes e eventos, que vão além do catálogo básico da ceramista. As formas, cores e tamanhos são pensados especialmente para casar com a proposta de cada projeto e cada estabelecimento. É possível encontrar produtos feitos por Janine na doceria Divino Doce, no restaurante Boaz Cozinha e Bar, no Refúgio Bar e Café, além de outros estabelecimentos, com peças personalizadas, com logotipos e outros desenhos.
No processo de desenvolvimento, Janine procura explorar a variedade de utilidades, além das cores e formatos. É necessário realizar testes e observações, para que elas sejam confortáveis e práticas de manusear no dia-a-dia. As alças de cada produto são testadas, para que a experiência de utilizar cada xícara, copo ou caneca se torne uma experiência agradável, além, é claro, de deixar as refeições ainda mais bonitas.
Mas ela ressalta: o processo de produção no mundo da cerâmica é lento e requer muita paciência, tanto da pessoa que o produz, quanto de quem o encomenda. A confecção das louças pode levar até duas semanas, para que os produtos sejam moldados e queimados, assim como o forno utilizado possa passar pelo processo de resfriamento e, assim, seja aquecido novamente.
– Hoje em dia, a gente vive em um mundo tão agitado, onde tudo é para ontem, e na cerâmica isso simplesmente não tem como. Eu tento passar bastante para as pessoas isso, de que a gente precisa aprender a esperar. A peça pode ficar inclusive mais bonita se a gente deixar o processo ser um pouco mais lento – ressalta.
Para além das produções, Janine ainda procura compartilhar seu conhecimento através da realização de workshops, onde as próprias pessoas podem produzir suas peças. Atualmente, o curso principal é voltado para o kit de café da manhã, onde os alunos passam a tarde junto com a ceramista, produzindo um prato, um bowl e um copo. Ele é pensado tanto para pessoas que já têm experiência com cerâmica, quanto para quem nunca produziu algo na área. Em outras palavras, é o tipo de curso ideal para qualquer pessoa que goste de se conectar com a natureza e botar a mão na massa – literalmente.