É chocante, mas a pizza, tecnicamente, não nasceu na Itália. Não que isso importe ou faça a gente olhar diferente para a redonda, só que verdade seja dita: ela não tem cidadania europeia.
O livro A História da Alimentação, organizado por Jean-Louis Flandrin e Massimo Montanari, narra o caminho e o processo evolutivo dessa iguaria surgida há 6 mil anos, época que atendia pelo nome de "pão de Abrahão", costumeiramente encontrada nas mesas de hebreus e egípcios.
Evidentemente que ainda não era nada perto do que temos hoje, o tempo encarregou-se de fazer com que as pessoas fossem aperfeiçoando a receita e o modo como nos relacionamos com ela.
Só lá por três séculos antes de Cristo que os fenícios deram uma incrementada na receita, como quem diz: "muito bom esse teu pão fininho, mas vou botar um recheio aqui em cima pra ver como fica". E então acrescentaram carne e cebola.
Já ganhou uma cara mais próxima da que conhecemos hoje. Nessa mesma época, com a nova roupagem, caiu facilmente nas graças dos turcos, encorpando ainda mais o time de fundadores.
Foi assim que no século 11, durante as Cruzadas, desembarcou no porto de Nápoles. Daí os italianos, malandramente, olharam para aquele pão fininho e redondo, por vezes puro, noutras com acompanhamentos que, para eles, não fazia muito sentido, e deram um tapa no look incluindo no preparo um trigo de melhor qualidade, além da joia da coroa de toda a pizza: o queijo (e um pouco mais tarde o tomate).
Faltava ainda um último ingrediente, que era cair nas graças dos americanos, responsáveis pelos lançamentos das grandes tendências do mundo moderno. E foi ao final da Segunda Guerra que eles deram as primeiras mordidas e difundiram fortemente essa paixão mundial, transformando a pizza num grande hit.
Pode ter certeza de que nem hebreus, egípcios, turcos, italianos tampouco os americanos desfrutavam cada mordida utilizando garfo e faca. Neste sentido, evoluímos para pior. Está muito claro que foi inventada para comer com as mãos, não decepcione seus criadores!