Em março deste ano, antes de retirarem o mundo da tomada, participei de um dos encontros mais relevantes sobre o empoderamento da mulher no mundo moderno, mais especificamente na indústria gastronômica: o Parabere Fórum, em Istambul.
Minha apresentação tinha como fio condutor a mudança que me impus há mais ou menos três anos, quando, costumo dizer, tive a minha pandemia pessoal. Acredito que tudo que estamos vivendo hoje, também me atendo ao mundo da cozinha neste caso, e que agora impõe a todos nós uma reflexão e invariavelmente uma mudança, será fundamental para definir o novo tom da nossa expressão.
Se, antes de tudo isso acontecer, parecia que os prêmios, as estrelas, as listas e seus rankings cansativos se tornavam cada vez mais importantes no dia a dia das nossas cozinhas, acredito que, a partir de agora, a realidade tende a ser outra.
O fato é que neste momento não há como dizer que existe – para a nossa sorte – a alta, a baixa ou a média gastronomia! Nossa única chance resume-se a salvar a boa gastronomia. Com humildade, com reverência, menos pompa e circunstância, e mais batatas! Uma das frases que utilizei na minha palestra e que felizmente se espalhou como pólvora pelo meio gastronômico foi: “vamos parar de tirar fotos com pessoas famosas e voltar a tirar fotos com as batatas”? Mas o que eu estava querendo dizer com isso realmente? Que é preciso acordar. Que não é possível mais colocar o ego dentro do prato ao invés de bons ingredientes. Que o pequeno produtor precisa cada vez mais do nosso olhar, precisa ter rosto, voz e importância. Que uma batata plantada, colhida com suor e transportada com carinho merece todo o nosso respeito. E que voltar a tirar foto com as batatas, de alguma maneira, define um novo caminho e nos traz a esperança de volta.
Esperança de acreditar que a comida voltará a cumprir o seu papel de protagonista dentro das nossas cozinhas e dos nossos pratos. E que isso poderá efetivamente salvar a melhor parte do bolo...