*Texto por Luiz Américo Camargo, crítico gastronômico e autor do livro Pão Nosso
No início do ano, aqui em São Paulo, vieram à baila notícias sobre o fim das atividades de restaurantes tradicionais da cidade. Particularmente, a cantina Gigetto, na ativa desde 1938, e o japonês Shintory, aberto em 1975. Obviamente, houve pesar. As razões do fechamento foram distintas. Enquanto o primeiro vinha enfrentando dificuldades em preservar a saúde do negócio, o segundo não resistiu ao assédio do mercado imobiliário. Com todas as diferenças de contexto, a verdade é que ambos já não mostravam tanto apelo junto ao público.
O fato me fez lembrar de uma história narrada há poucos anos por uma amiga. Ela foi à banca comprar a derradeira edição de um jornal paulistano, que ao longo dos anos viu suas operações se tornarem inviáveis. Comentou com o jornaleiro: “Pena, não?”. O rapaz perguntou: “Há quanto tempo a senhora não comprava este jornal?”. Ela respondeu: “Nem sei. Anos”. E ele: “Se todo mundo que está se lamentando tivesse comprado mais, hoje ele estaria aberto”.
A observação do jornaleiro foi crua e precisa. Se não visitamos um lugar, se não compramos um serviço ou um produto, não temos como nos queixar. O empreendedor vive da freguesia (e conservá-la por perto é uma luta diária).
Já é dificílimo manter um restaurante aberto por um ano, o que dirá por décadas. É preciso sorte, competência e muito trabalho para envelhecer dignamente – e não apenas entrar em decadência. A longevidade depende de muitos fatores: gestão, cenário econômico, gostos e preferências, acasos... Poucos conseguem. E talvez os exemplos citados já não tivessem condições de cativar seus comensais e enfrentar a concorrência (eu acho mesmo que não).
Portanto, se você venera as memórias de um estabelecimento, então visite-o. Se realmente gosta de um prato, não espere que ele vire peça de museu, devore-o agora. Compareça, mas também exija qualidade (até porque, se cozinha e salão estiverem ruins, vai ser difícil salvar a casa). É a contribuição que está ao nosso alcance – além do quê, se vai dar certo ou não, é de responsabilidade dos proprietários. Mas é melhor isso do que chorar pelo restaurante antigo fechado.