Há 11 anos, o dia 13 de setembro é celebrado em todo Brasil como o Dia Nacional da Cachaça, data instituída pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados. Mas, a história desta data começa muitos anos antes.
Em 1649, quando o Brasil ainda era uma colônia portuguesa, os produtores de cana-de-açúcar e alambiques decidiram se revoltar contra a corte real. Os comerciantes eram constantemente perseguidos por comercializar a bebida, que competia diretamente com a bagaceira portuguesa, importada para a América Latina.
Conta a história que, em 13 de setembro daquele ano, os produtores, revoltados, conseguiram tomar o poder no Rio de Janeiro, dando origem à Revolta da Cachaça, que duraria cerca de cinco meses. Quase quatro séculos mais tarde, esta história de resistência é celebrada no Dia Nacional da Cachaça pelos diversos produtores espalhados pelo Brasil, que mantêm viva a tradição de uma das bebidas mais clássicas do país.
Na cachaçaria gaúcha Weber Haus, localizada em Ivoti e uma das mais reconhecidas no Brasil, a fabricação da bebida tem sido passada por cinco gerações da família. A excelência na produção se dá pelo processo cuidadoso na seleção de madeiras para o envelhecimento e em todo método adotado para sua elaboração. Não à toa, Guilherme Calin, proprietário da Cachaça da Chica, optou por fazer a parceria de sua marca com Evandro Weber, da Weber Haus, que já dura 17 anos. E, para conhecer um pouco mais sobre essa bebida tão amada pelos brasileiros, nós fomos conhecer a produção da Weber Haus e entender algumas curiosidades sobre a cachaça.
COMO A BEBIDA É FEITA?
A produção da cachaça inicia com a fermentação do caldo de cana, onde as leveduras transformam o açúcar em álcool. Após, é feita a destilação, que é quando as cachaças alambiques se diferenciam de cachaças industriais. O álcool que evapora passa por uma condensação. Os primeiros 10% do volume total possuem alto teor de substâncias que fazem mal ao organismo – essa parte é chamada de ‘cabeça da cachaça’.
Nas cachaças alambique, esse volume é descartado, assim como os 10% finais, chamados de "cauda", que possuem pouco teor alcoólico. Assim, sobram os 80%, o "coração da cachaça", que é a parte boa da pinga. Depois de transformado mais uma vez em líquido, o coração pode ser engarrafado, armazenado ou passar pelo processo de envelhecimento, que acontece por, pelo menos, um ano.
O GOSTO FINAL DEPENDE APENAS DO TEMPO DE DESCANSO?
Mito! O gosto e a coloração da cachaça não dependem somente do tempo em que o líquido fica descansando. As características sensoriais são resultados que dependem de onde a bebida ficará armazenada, do tipo de madeira que barril é feito, a abertura dos poros desta madeira, do tempo de envelhecimento e do ambiente em que o barril será armazenado. Ou seja, são muitas variantes que podem afetar o resultado final!
Na Weber Haus, os mais de dois mil barris são feitos de uma das sete madeiras de carvalho europeu, canela sassafrás, carvalho americano, bálsamo, grápia, cabreúva, amburana, ou a junção de algumas delas. As cachaças permanecem em processo de envelhecimento por diferentes períodos, variando de um a cinco anos e, às vezes, chegando a mais de dez. Segundo Evandro, a empresa se prepara para lançar ainda este ano uma cachaça envelhecida por 21 anos.
A BUSCA PELO RECONHECIMENTO INTERNACIONAL
Neste 13 de setembro, Evandro e Guilherme revelam que a comemoração da data será um pouco diferente. Há alguns anos, os produtores da cachaça têm buscado o reconhecimento da bebida ao redor do mundo com a Indicação Geográfica (IG) do Brasil. Para isso, grande parte das embaixadas que integram o Instituto Brasileiro da Cachaça (IBRAC) devem pautar a data falando sobre o tema.
– Estamos tentando fazer o que o México fez com a tequila: fazer um instituto que rege todas as regras legais da cachaça no mundo. Estamos conquistando cada dia mais a IG e os acordos bilaterais entre instituições com os países, para reconhecer a cachaça como a bebida única, típica nacional do Brasil – conta Evandro.
Em 2001, a cachaça se tornou a primeira Indicação Geográfica do Brasil. Essa medida foi elaborada com base em um acordo no âmbito da Organização Mundial do Comércio. Hoje, o trabalho conjunto do IBRAC e do governo brasileiro já resultou no reconhecimento da cachaça como produto protegido no Chile, no México, nos Estados Unidos e na Colômbia. Agora, a busca é para que a bebida conquiste ainda mais espaço no cenário global como a iguaria brasileira.
Hoje, a Weber Haus exporta para 25 países diferentes, além de estar entre as cachaçarias mais premiadas do Brasil. A cachaça número um da empresa é a de amburana, mas a elaboração da cachaça envelhecida nas sete madeiras também tem dado o que falar. Ao visitar a fábrica, em Ivoti, passamos pela degustação e, seria injusto elencarmos apenas uma como a melhor de todas. A Cachaça da Chica, que tem como base o coração da Weber, tem como seu carro-chefe a cachaça de jambu com mel, mas a envelhecida em barris de carvalho também é uma das mais pedidas.