As datas comemorativas não existem à toa. É sempre um bom motivo olharmos o dia da comemoração e brindar. No último 13 de setembro foi celebrado o Dia Nacional da Cachaça. A bebida típica brasileira, que já teve sua produção proibida no país e já foi usada como sinônimo pejorativo, é, na verdade, um destilado com grandes apreciadores e que, junto com ela, leva história na taça de degustação.
Com matéria-prima aos montes no território brasileiro, temos histórico de produção desde 1520. Ela caiu no gosto popular, começou a ser concorrente das bebidas portuguesas, como a bagaceira, uma aguardente de vinho obtida a partir da destilação do bagaço de uva, e o vinho do Porto. Assim, os colonizadores tentaram restringir a produção, a venda e até o consumo de cachaça com a cobrança de impostos. A proibição, então, ocorreu em 1659. Com o veto, um grupo de fazendeiros formou a Revolta da Cachaça, em 13 de setembro de 1661, que foi um dos primeiros movimentos contra a coroa portuguesa, que ascenderam no processo de Independência do Brasil.
Depois do recado – não mexe na minha cachaça! –, a bebida foi se popularizando, aprimorando o processo de produção, as técnicas e os tipos de envelhecimento.
Hoje, a aguardente brasileira tem um grande espaço no cenário mundial de bebidas. E cachaça é coisa nossa! Assim como Champagne só é produzido em uma determinada região francesa, cachaça só é produzida no Brasil, os demais destilados de cana dos outros países são chamados de aguardentes.
Mestre destiladora e sócia da Casa Vasco, bar de cachaça em Porto Alegre, Larissa Teixeira reforça que conseguimos ter o plantio de cana-de-açúcar em todo o território brasileiro, cada lugar com sua peculiaridade e suas condições climáticas, mas com possibilidade de produzir uma boa matéria-prima. Outra coisa que faz a diferença é o processo artesanal, de baixa produção, buscando a qualidade no produto final.
Produção da cachaça
O método de elaboração consiste em duas etapas. A primeira é fermentação da garapa (suco da cana-de-açúcar) e, posteriormente, a destilação desse fermentado. Durante o gotejamento, é imprescindível fazer a separação dos líquidos destilados, onde se separa a cabeça, o coração – sendo o único ideal para consumo – e a cauda da bebida, que deve ser descartada.
A cabeça representa uma média de 10% do volume total da bebida, com concentração de álcool de 50% a 70%, no qual se encontra metanol e outros com compostos não benéficos. O coração, que não tem esse nome à toa, é a aguardente própria para consumo, em que se encontra o etanol e alguns compostos secundários, e representa 80% do volume do destilado, com concentração de álcool de 38% a 50%. E, por fim, a cauda, com os álcoois de 38% a 14% de volumetria. O passo a passo bem feito da destilação é o que diferencia os produtos de qualidade.
– Um dos grandes diferenciais das cachaças é a nossa diversidade, todo o nosso território, que é extenso e muito rico. Conseguimos envelhecer a cachaça em mais de 30 tipos de madeira diferentes. Nesse processo, exploramos de forma sensorial muito mais aromas e sabores – comenta Larissa.
Amburana, Jequitibá, Ipê Roxo, Jaqueira, Itaúba e Grápia são alguns exemplos das nossas lenhas que podem ser usadas no envelhecimento das bebidas.
O uso de blends com madeiras brasileiras é outra possibilidade, oferecendo certa complexidade nas cachaças, agregando ao produto final.
Lá em casa, sempre teve cachaça, tanto para abrir o apetite como para digestivo. A mãe, que é uma apreciadora nata, agora ganhou incentivo do meu primo Juan, que está entrando no mundo da destilaria, até já falamos, brincando em ter um pequeno alambique para testes. Tomar uma cachacinha é valorizar o que é nosso, é beber cultura, é contar história. Para mim, as de madeiras brasileiras são as melhores! Terroir, origem e propriedade.
Um brinde à cachaça!