*Alerta de spoilers.
Popularmente, acredita-se que “um raio não cai duas vezes no mesmo lugar”. Mas sabe-se que não é bem assim. Em alguns casos, inclusive, é possível que ele atinja a mesma pessoa em dois lugares distintos. Embora o ditado refira-se a situações naturais e não controláveis, também serve como resumo da história de Steven Avery, que volta ao catálogo da Netflix para a segunda parte de Making a Murderer, série documental lançada em 2015 e que fez muito sucesso à época.
Dono de um ferro-velho no Condado de Manitowoc, em Wisconsin, nos Estados Unidos, Avery foi encarcerado injustamente em 1985. Sujeito que corresponde ao estereótipo de caipira americano, ele foi libertado em 2003, 18 anos depois, graças a um exame de DNA que colocou atrás das grades o verdadeiro culpado por estuprar Penny Beerntsen nos arredores do lago Michigan.
Livre, Avery processou o departamento de polícia e a promotoria do condado, cobrando uma indenização de US$ 36 milhões pela condenação indevida. Persona non grata pelos responsáveis por cuidar da segurança da população de Manitowoc, Avery tornou-se símbolo do controverso e eticamente questionável sistema jurídico americano. Em 2005, ele voltou ao banco dos réus, acusado desta vez pelo homicídio de Teresa Halbach, cujo carro e restos mortais foram achados em seu ferro- velho. No automóvel, manchas de sangue compatíveis com o de Avery também foram encontradas.
A primeira temporada do documentário Making a Murderer narra a batalha de Avery para, mais uma vez, comprovar sua inocência, embora o tema central da série seja questionar como a justiça americana opera. Dividido em 10 episódios de aproximadamente uma hora, a atração possui um formato pouco usual para o gênero.
A produção é o resultado de 10 anos de trabalho das diretoras Moira Demos e Laura Ricciardi, que tiveram acesso livre aos familiares e advogados do réu. A série reproduz imagens do julgamento, depoimentos de parentes de Avery e de Teresa Halbach, testemunhas, policiais, promotores, moradores da região, advogados e de um integrante do júri que condenou Avery à prisão perpétua sem direito à liberdade condicional.
Nesta segunda leva de episódios, que chegou à Netflix na sexta-feira (19), o seriado acompanha as tentativas de comprovar a inocência de Avery e de seu sobrinho, Brendan Dassey, que tem problemas cognitivos e foi apontado como cúmplice no homicídio de Teresa Halbach. Nos novos capítulos, Kathleen Zellner, especialista em reverter condenações injustas nos Estados Unidos, surge como advogada de Steven, enquanto Laura Nirider e Steven Drizin cuidam da defesa de Brendan Dassey, tentando mostrar que a confissão dele, à época com apenas 17 anos, foi involuntária.
Em 2016, uma petição com mais de 300 mil assinaturas online pedindo o indulto para Steven Avery e Brendan Dassey foi enviada à Casa Branca. O então governo de Barack Obama argumentou que apenas crimes da esfera federal poderiam ser perdoados pelo presidente.