O ano poderá trazer boas notícias para alguns espaços culturais públicos de Porto Alegre.
Os recursos financeiros continuam bastante escassos, como é tradição, mas as movimentações do meio mostram que os gestores municipais e estaduais estão indo atrás de soluções que frequentemente envolvem parcerias com o setor privado.
Na Secretaria Municipal da Cultura, o caminho trilhado passa pelas contratualizações, marca da atual gestão da prefeitura. O cobertor ficou mais curto em 2020 – o orçamento da pasta é de quase R$ 47 milhões (no ano passado, fechou em R$ 49 milhões). Entretanto, o secretário Luciano Alabarse não reclama:
– As demandas da cultura são inesgotáveis. Se eu tiver R$ 100 milhões, vou ter onde gastar. O que aprendi nesses três anos é que, seja qual for o valor, preciso multiplicar através de parcerias, patrocínios, e é isso que a gente tem tentado.
Suas prioridades para o ano incluem entregar, até novembro, uma ala da Usina do Gasômetro que abrange o Teatro Elis Regina e a Sala P.F. Gastal (a inauguração total está prevista para março de 2021) e também o Teatro de Câmara, cuja reforma está sendo realizada pelo Opinião como uma contrapartida do edital de concessão do Auditório Araujo Vianna. Na linha das contratualizações, está a busca de parceiros para gerir equipamentos como a Pinacoteca Ruben Berta e a Cinemateca Capitólio.
Além disso, estão confirmados eventos tradicionais, como Porto Alegre Em Cena, Semana de Porto Alegre (de 19 a 29 março), Festival de Inverno (literatura), Festival de Arte e o evento de Natal que estreou em 2019.
A secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araújo, olha para seu segundo ano na pasta com bons olhos:
– Vai ser bem mais tranquilo. No ano passado, nos primeiros meses, fizemos um trabalho braçal, separando as secretarias, vendo a questão de pessoal e espaços físicos, que nos tomou bastante energia.
As empresas perderam muito do interesse, principalmente nos últimos anos, quando a crise foi agravada
BEATRIZ ARAÚJO
Secretária de Estado da Cultura
Para além do orçamento fixo, que banca as despesas básicas, a Sedac busca investimentos por meio de leis de isenção fiscal, emendas parlamentares e editais públicos. No ano passado, a pasta conseguiu aumentar o teto de captação do Pró-Cultura (que contempla dois mecanismos de fomento, a Lei de Incentivo à Cultura e o Fundo de Apoio à Cultura) de R$ 35 milhões para R$ 41 milhões, mas só conseguiu captar R$ 31 milhões. Parte dessas verbas é esperada para 2021.
A boa notícia nesse front é que a Assembleia Legislativa aprovou a redução da contrapartida das empresas que patrocinam via lei de incentivo.
– Desde 2012, essa contrapartida foi instituída em 25%, e isso desacelerou bastante o mercado. As empresas perderam muito do interesse, principalmente nos últimos anos, quando a crise foi agravada. Era uma demanda antiga de todos aqueles que trabalham com a lei de incentivo. Significa que agora vamos ter uma demanda muito maior, então esses R$ 41 milhões tenho a expectativa de utilizar todo (esse valor). No ano passado, conseguimos aumentar o limite para R$ 41 milhões, mas só conseguimos usar 31 milhões por falta de interesse das empresas em patrocinar os projetos culturais – destaca a secretária.
Confira a seguir alguns dos espaços com reformas a caminho e destaques da programação alinhavada para 2020.
Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs)
A prioridade do museu em 2020 é a reforma do terraço, dos quatro torreões e melhorias no sistema de climatização. Para isso, conta com a liberação de R$ 5,6 milhões, prevista para o primeiro semestre de 2020. Outros objetivos são a implantação do Plano de Prevenção e Proteção Contra Incêndio (PPCI), ações de acessibilidade e a consolidação de um programa editorial, com produção de livros, catálogos e outras publicações.
Programação
Entre abril e julho: 12ª Bienal do Mercosul
Segundo semestre: está prevista uma ampla exposição de arte moderna e contemporânea baseada na coleção do empresário gaúcho Paulo Sartori, de Antonio Prado, com curadoria de Paulo Herkenhoff. Também estão no programa exposições individuais de nomes importantes das artes visuais gaúchas: Carlos Tenius, Lia Menna Barreto, Rogério Nazari e Yeddo Titze. As salas negras receberão produções recentes de Bethielle Kupstaitis e Camila Proto. Além disso, haverá mostras coletivas de acervo do Margs.
Museu Julio de Castilhos
O museu mais antigo do Estado, com 117 anos recém feitos, aguarda a chegada de R$ 10,5 milhões que serão usados para uma reforma geral e ainda para a construção de um prédio anexo para a reserva técnica. O equipamento foi priorizado pela Sedac devido à situação precária do imóvel. Os recursos foram obtidos pela SMC em 2019 via edital do Fundo de Defesa de Direitos Difusos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, e a expectativa é de que a Caixa Econômica Federal aprove o repasse até novembro. As obras devem começar em 2021.
Programação
Março: opereta Chiquinha Gonzaga, do artista Samir Gonzaga, dirigida por Joana do Carmo; performance Quem Está Aí?, do Coletivo Via Expresso, baseada na história da esposa de Julio de Castilhos, Honorina.
Maio: programação Noite dos Museus, com visitas mediadas na reserva técnica.
Agosto: programação especial do Dia do Patrimônio.
Setembro: exposição Mulheres na Guerra Civil Farroupilha.
Casa de Cultura Mario Quintana e MACRS
Depois da revitalização da Sala Eduardo Hirtz, em março do ano passado, chegou a vez da Sala Paulo Amorim. A Sedac aguarda a liberação de R$ 450 mil, obtidos via emendas parlamentares, para entregar a sala renovada até o fim de 2020. O outro cinema da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), Norberto Lubisco, ficará para 2021.
O Museu de Arte Contemporânea (MACRS) trabalha para que a nova sede, no quarto distrito, fique pronta em 2022, no aniversário de 30 anos da instituição. Enquanto isso, foca na organização da reserva técnica na CCMQ e também na agenda de exposições no sexto andar da casa. Um dos destaques é a mostra resultante da pesquisa Mulheres em Acervos, que ocupará todos os espaços expositivos da CCMQ de 18 de março a 5 de julho.
Programação
A Casa completa 30 anos em 25 de setembro e começa a se preparar para a ocasião. Em breve, será lançado um selo alusivo ao aniversário, bem como produtos com a marca da CCMQ (camisetas, canetas, lápis, canecas, entre outros à venda na Arteloja, no térreo). Também está previsto o lançamento de um novo site no endereço ccmq.com.br. Além disso, o plano da Sedac é orientar a programação da CCMQ para a literatura. Seguem na grade do espaço projetos como a Casa Expandida, Teatro de Rua na Travessa, Cirquintana e Casa Dança.
Pinacotecas municipais
No segundo semestre, a gestão da Pinacoteca Ruben Berta deve passar às mãos da organização da sociedade civil (OSC) contemplada no edital lançado nesta semana. Portanto, a Coordenação de Artes Plásticas do município programou apenas o primeiro semestre.
Programação
Março: série de sete exposições que resgatam a obra de artistas mulheres, na Sala da Fonte, que começará com Judith Fortes. A iniciativa vem acompanhada de uma campanha de aquisição de obras de artistas mulheres para o acervo.
Abril: Exposição de Mara Alvarez, artista homenageada do Prêmio Açorianos de Artes Plásticas 2019, na Pinacoteca Ruben Berta.
Junho: Exposição em homenagem ao centenário de Carlos Scliar (1920-2001), na Pinacoteca Aldo Locatelli
Museu da Comunicação Hipólito José da Costa
Em 2020, o museu tem a perspectiva de obter sustentabilidade financeira por meio da locação de um espaço até então ocioso ao Banrisul. A secretária Beatriz Araújo espera que a parceria seja oficializada no primeiro semestre do ano. Além disso, o Banrisul deverá financiar uma programação permanente no Hipólito. Outras iniciativas são a organização de reservas técnicas que guardam os acervos, em variados estados de conservação, além de programas de capacitação.
Programação
Junho: será realizada a Semana Hipólito da Costa, com atividades relacionadas à reflexão sobre o jornalismo, por meio de uma parceria com a Associação Rio Grandense de Imprensa.