Inaugurada em 2015 depois de 15 anos fechada, a Cinemateca Capitólio era uma demanda histórica do meio audiovisual gaúcho. Entidades do setor se uniram para concretizá-la, com o patrocínio da Petrobras. O fato de ser uma construção coletiva ajuda explicar a comoção atual para a coordenadora de Cinema, Vídeo e Fotografia da SMC e diretora da Cinemateca, Daniela Mazzilli:
— A cinemateca é uma ferida em processo de cicatrização no imaginário coletivo da cidade, principalmente no meio audiovisual. Foram 15 anos de obras, projetos, de gente perguntando "Vai ficar pronto?". Era um sonho de todo um mercado, construído com muito amor e empenho das entidades:
Hoje consolidou-se como um oásis para quem aprecia cinema de arte ou simplesmente busca uma alternativa às salas comerciais. A média de público é a maior do Estado, com 30 espectadores por sessão, contra 16 nas demais salas. Para a prefeitura, esse número pode ser ainda maior.
— A justificativa é que hoje a cinemateca opera aquém da sua capacidade e de seu potencial. Disseram que tem 30 mil espectadores e pode ter 50 mil. É um desconhecimento. Há uma crise do público indo a salas de cinema, considerando o valor e o acesso por streaming – rebate a presidente da APTC, Daniela Strack.
Como o nome indica, a cinemateca é a guardiã da memória audiovisual do Estado, com um acervo de filmes, roteiros, fotografias, cartazes e outros materiais doados nos últimos anos. Sua conservação exige instalações apropriadas e um corpo técnico qualificado. Essa é a principal questão, como explica Daniela Mazzilli:
— A gente tem um problema no Brasil como um todo de mão de obra qualificada e certificada para manutenção e manuseio das películas fílmicas. A Cinemateca Brasileira veio seguidamente a Porto Alegre capacitar a equipe que opera no acervo. Haveria mais pessoas capacitadas?
Política
A Cinemateca Capitólio também é a sede da Coordenação de Cinema e Audiovisual da prefeitura. Com a contratualização, a equipe de 10 pessoas que gere o espaço, mas também cuida das políticas do meio para todo o município, seria deslocada para um local ainda não definido. Para o secretário de Parcerias Estratégicas, Thiago Ribeiro, a mudança seria boa:
— A Coordenação tem que se preocupar com a política audiovisual como um todo. Hoje ela se comporta como coordenação da Cinemateca. Não tem um minuto para pensar políticas audiovisuais de forma mais ampla. Não tem nenhuma forma de sessão de cinema em regiões mais carentes.
Ribeiro também explica que um dos principais objetivos é desburocratizar operações cotidianas como compra de lâmpada, reparos e até funcionamento do café — atualmente desativado.
— O fato da cinemateca estar fornecendo serviços vistos como positivos não significa que não possa melhorar. O prédio precisa, por exemplo, de investimentos na renovação da rede elétrica. Existe também um local reservado para uma cafeteria, hoje mal aproveitado – diz Ribeiro.
A diretora da Cinemateca Capitólio não nega que há caminhos para melhorias, afirmando que o espaço para o acervo, por exemplo, é pequeno. Mas a burocracia para consertos ou aquisições de equipamentos nunca foi um problema:
— Essa operação sempre foi bastante simples. Obviamente a gente sempre gostaria de que as coisas fossem mais rápidas, mas isso é inerente ao processo. A cinemateca opera perfeitamente, temos ar-condicionado, elevador, limpeza.