Na semana de seu aniversário, Porto Alegre ganhou um presente com o qual sonhava há anos. Depois de mais de uma década de obras, readequações infindáveis e projeções de inauguração não cumpridas, a Cinemateca Capitólio será aberta nesta sexta-feira, dedicando suas primeiras atividades àquilo que se propõe a consagrar: a memória audiovisual do Rio Grande do Sul.
A partir das 19h, suas portas estarão abertas ao público. Às 20h30min, serão exibidos o curta O Início do Fim (2005), de Gustavo Spolidoro, rodado nas ruínas do prédio antes de seu restauro, e o histórico Vento Norte (1951), o "Barravento gaúcho" (em referência ao filme de Glauber Rocha). Primeiro longa sonoro local, Vento Norte teve participação de Josué Guimarães no roteiro e foi rodado no Litoral por Salomão Scliar.
A esplendorosa sala de calçada da esquina da Borges de Medeiros com a Demétrio Ribeiro, no centro da Capital, volta a operar com 164 lugares. Além do cinema, e de uma área para guardar o acervo do audiovisual gaúcho, o Capitólio terá outros espaços. Entre eles, uma sala multimídia reservada para cursos e exibições de filmes para até 40 pessoas e um espaço de pesquisa com acesso ao acervo (que poderá ser usada mediante agendamento prévio).
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A sala propriamente dita terá três sessões diariamente, de terças a domingos, com ingressos a R$ 10. No fim de semana de estreia, a programação é gratuita. Serão projetados clássicos dos anos 1960, contemporâneos ao surgimento da moderna crítica de cinema no Estado - cuja primeira geração será homenageada com um debate após a sessão de Alphaville (1965), de Jean-Luc Godard, às 19h de sábado.
- Por enquanto, só temos projetores de 35mm - diz Marcus Mello, coordenador de cinema da prefeitura, cogestora do espaço junto à Fundação Cinema RS (Fundacine). - Mas está no nosso horizonte a instalação de DCP (sistema de projeção digital em alta definição). É um desafio que nos impusemos: se não conseguirmos adquirir um projetor DCP até o fim deste ano, talvez tenhamos de parar a programação, pois hoje é inviável manter uma sala de qualidade, exibindo filmes atuais, sem esse equipamento.
Veja slider comparando o prédio antes e depois:
História de percalços
Inaugurado em 1928, o Cine Theatro Capitólio já abrigou mais de 1,3 mil pessoas, contando os mezaninos. Funcionou a pleno vapor até 1969, quando o prédio foi arrendado e reformado. Na década seguinte, houve nova intervenção. E, depois, a decadência: foi transformado em um cinema pornô.
Nada foi fácil na história da quase centenária edificação. O projeto da cinemateca porto-alegrense que será inaugurada no local nesta sexta-feira data, na verdade, dos anos 1990, quando o prédio foi tombado pelo município. As primeiras obras foram feitas em janeiro de 2001, após o desabamento de parte do telhado. Mas o projeto de restauro completo só se iniciou, de fato, em dezembro de 2004.
A primeira parte dos trabalhos terminou ainda em 2006. A demora na continuação das obras, no entanto, fez com que trechos dados como finalizados tivessem de ser refeitos, até a conclusão, anunciada em 2014, em cerimônia com a entrega simbólica da cinemateca à comunidade. Antes da inauguração, ainda foi preciso adquirir o mobiliário e adequar o prédio ao novo Plano de Prevenção Contra Incêndio (PPCI) - já que a reforma iniciada 10 anos antes estava de acordo com as normas antigas.