No dia em que conheceu a família da pretendente Natália Comaschi Copeli, o jovem Expedito Biagio Copeli arremessou uma bituca de cigarro e acabou acertando-a exatamente no decote da futura sogra. A história é contada por ele com muito entusiasmo para explicar o início do relacionamento do casal, que vive em Farroupilha e está junto há 53 anos.
— No primeiro dia em que fui lá, queimei as "teta" da sogra — narra Expedito, aos risos.
Parece que as situações engraçadas e o humor estavam mesmo destinados a integrar a vida dos dois para sempre. Para dar vazão à veia humorística aguçada, a dupla buscou um grupo de filó (encontros que cultivam as veias folclóricas italianas ligadas à música, à dança e à gastronomia). Foi a partir da participação no Nei Tempi dei Filó que a dupla chamou atenção de um grupo de videomakers interessado em fazer uma versão gringa do viral Coisas que Porto Alegre Fala.
Simulando situações corriqueiras e domésticas, Natália e Expedito falaram para as câmeras palavras e expressões que integram a rotina de qualquer descendente de italiano. "Vai se tchavar", "cramento", "bruta béstia", "calça de brim" e "bucho" são algumas delas.
Coisas que a Serra Fala foi uma série de quatro vídeos lançados nos idos de 2012, incluindo uma incursão pelo Litoral e uma produção temática da Copa de 2014. A dupla já não protagoniza mais vídeos, mas segue sendo reconhecida em qualquer lugar por onde anda, principalmente em Farroupilha.
— É só sair, ir numa janta, que o pessoal se agarra em nós, quer tirar foto — conta Natália, 73 anos.
— Tivemos numa festa esses dias e chamaram o "casal Copeli". As pessoas já começaram a pedir "tem bucho hoje?" — diverte-se Expedito, que também tem 73.
Basta passar alguns minutos dentro da casa dos dois para perceber que a encenação dos vídeos é fortemente embasada na realidade. Expedito e Natália estão sempre se cutucando com provocações bem-humoradas e adoram contar causos engraçados.
As paredes da sala são forradas com fotos antigas de família e imagens de santos católicos. Ah, e qualquer visita que apareça por lá não vai conseguir ir embora sem antes sentar à mesa para um café regado a grôstoli, queijo e salame, como em qualquer lar gringo que se preze.
Mesmo sem atuarem em vídeos atualmente, o casal segue visitando diversos espaços por conta de sua popularidade. Isso acaba mantendo neles o legado que acreditam ser um dos mais importantes do Coisas que a Serra Fala.
— É muito importante mostrar para crianças como os avós delas falavam antigamente — defende Natália.
Outros virais
No trânsito
Uma jovem recém habilitada a dirigir resolve sair para dar uma volta de Chevette pelas ruas de Caxias do Sul. Só que ela escolhe seu pai – um senhor muito gringo e engraçado – para servir de copiloto. É ele quem protagoniza os melhores momentos do vídeo, dando as orientações para a filha se dar bem no trânsito. Entre as expressões utilizadas pelo gringo, que é o dono do carro, estão "tu tá roçando tudo as capoeira", "vai mais pra lá, tu tá muito aqui na barranca", "como é que non vai parar se a preferencial é dos ôtro", "quase pisou em cima dos cordón" e "tu vai me bater esse auto".
No meio rural
Falou em frio, falou em "tempo difícil" para quem vive da agricultura no meio rural. Personagem de uma reportagem que registrava a rotina do trabalho com as vacas numa manhã gelada, o jovem Cassiano, de 17 anos, viralizou ao narrar sua experiência com um sotacón maravilhoso. "Parecia urréia caí do céu, uma chuvinha calma de pedrinha branca, bem fininha. As vacas já não queriam entrar na estrebaria, é frio, os teto racham e dão coice. Agora é um tempo difícil".
No BBB
Ele queria mesmo era ser escolhido para participar do Big Brother Brasil, mas acabou ficando famoso por conta do vídeo caseiro mandado ao programa.
Cristian, candidato de Antônio Prado, já começa a gravação (estranhamente locada no meio do mato) denunciando os hábitos dos gringos da Serra ao se apresentar dizendo de quem é filho e citando os nomes completos.
Ele afirma que quer entrar no programa por causa do prêmio de mais de um milhão de reais, "que é muito dinheiro para nós aqui do interior". Pedindo desculpas pelo nervosismo, ele se define como "esquentado, ciumento, brabo e bom" e usa o termo "digamos" de maneira engraçada.
No aperto
O drama de um menino apertado para fazer o número dois (o narrador usa um termo bem menos bonito no vídeo) num lugar sem banheiro. Escondido embaixo de um "caretón" no meio da colônia, ele é flagrado pela câmera do irmão enquanto tenta decidir se se alivia ali mesmo ou segura mais. "Ai, tá saindo", sofre o gringuinho.
A jornada do anel
Três primos e a brilhante ideia de tirar o anel usado por um deles com uma esmirilhadeira. Com um "roteiro" desses, óbvio que esses guris de Cotiporã iriam fazer sucesso na internet. O mais engraçado é o menino que pretende se libertar do anel. Sem fingimentos, ele deixa bem claro que está morrendo de medo e dá as coordenadas aos amigos para não ter o dedo acidentalmente decepado. "Devagarrrrr", ele repete várias vezes. Além de "acalca pôco, é?", e "água, água". No final, orgulha-se: "Fui hôme, né?".
Tipos de "coRida"
"Tu tá gravando, Sabrina?" ou "Um beijo pras colega delícia". Essas frases, pronunciadas com um legítimo sotacón gringo, viraram quase mantras cômicos há cerca de cinco anos. As expressões abrem e fecham, respectivamente, o vídeo que o garoto veranense Magno Sanches fez com um grupo de colegas para uma aula de educação física. Na gravação, ele lista as diferenças entre a corrida de velocidade, o cooper e a maratona.