A cidade trazida por Luan Santana a Porto Alegre provocou abalos emocionais em seus 35 mil habitantes, total de público que ocupou o Estádio Beira-Rio neste sábado (14). Foi um festival de romantismo, sofrência, decisões equivocadas em relacionamentos e gritos, muitos gritos.
O cantor sertanejo voltou à capital gaúcha com o Luan City Festival, acompanhado de Guilherme e Benuto, João Gomes e Jorge e Mateus. O evento integra o projeto Luan City, que teve início em 2021 e serviu como show que virou DVD, rendeu EPs e turnês nacionais e internacionais. Outro desdobramento desta era do artista ocorreu em março: ele gravou o DVD Luan City 2.0, no Estádio Mineirão, em Belo Horizonte. Em junho, ele lançou a Fase 1 do novo DVD e, no mês passado, saiu a Fase 2.
A estrutura é digna de um popstar internacional (embora que, em alguns momentos, o som tenha saído um tanto abafado, dificultando a compreensão do que estava sendo cantado): um palco enorme foi instalado no estádio, contando com tons futuristas, turbinado com luzes e led, que se adequam aos temas das músicas. Telões funcionaram em diferentes pontos do Beira-Rio, auxiliando a visão dos habitantes (quem nasce em Luan City é o quê? Luanetense?).
Essa questão dos telões foi importante. No setor da pista, que ocupou o gramado, havia momentos em que a vista do palco era bloqueada pelos celulares dos fãs, que gravavam para, supostamente, ver depois. Ou postar nas redes sociais. Enfim, já é assim há algum tempo nos eventos. Coisas de 2023.
Embora o festival tivesse atrações do porte de João Gomes (estourado com seu piseiro desde 2021) e dos renomados Jorge e Mateus, a atração principal era o prefeito de Luan City. Havia muitas pessoas com bonés e faixas na cabeça com nome de Luan Santana. Muitos cartazes também foram levados. Os gritos pelo cantor eram constantes — antes do show, ouviu-se até alguns aleatórios "Vamo, Luan", naquele sotaque porto-alegrense acentuado. Algumas fãs entoaram o clássico "Luan, cadê você, eu vim aqui só pra te ver!".
Depois de vídeos animados introduzindo o conceito de cidade e trazendo imagens da vida do artista, Luan subiu ao palco às 21h30min, levando o público ao delírio com Deus é Muito Bom. Ele usava uma coroa na cabeça. Em sua cidade, Luan parece ter instituído a monarquia.
Na base do carisma e domínio de palco, o prefeito (ou rei) de Luan City comandava seus súditos, que cantaram fortemente todas as músicas como se suas vidas dependessem disso. Havia uma sintonia muito forte entre o cantor e seu público. No repertório, ele trouxe hits mais recentes no repertório como Mulher Segura, Solteirou, Namorando ou Não e Me Desbloqueia Aí, que integram a era City do cantor. Contudo, também promoveu clássicos de sua trajetória de 16 anos, sem esquecer de Meteoro, Te Esperando, Sinais e Amar Não é Pecado.
Luan promoveu várias trocas com o público. Teve quem jogou ursinho para o palco. Uma fã mais ousada jogou uma calcinha vermelha, que foi recolhida e cheirada por Luan — foi seu momento Wando. Ele empunhou a peça ao interpretar Fantasma.
Após Maldito Girassol, que traz versos como “Um maldito girassol na costela/ Apagou meu nome dela”, Luan perguntou se alguém tinha um girassol tatuado na costela. Uma fã se prontificou, e ela foi chamada ao palco para receber um longo abraço do cantor.
Outra interação curiosa rolou em uma inserção publicitária no show (teve isso). Um dado inflável com seis músicas antigas foi jogado ao público. Seria tocada a canção que estivesse no topo do dado, quando ele voltasse ao palco. Um Beijo foi a contemplada.
Como é praxe em shows do pop nacional, Luan solicitou: “Quem tá solteiro aqui levanta a mão!”. Vários gritos comemorando a condição, talvez com ressentimento. Só que o artista resolveu olhar para uma outra fatia dos solteiros que demanda certo carinho — aqueles que não superaram o término:
— Sempre se fala em solteirice, mas tem gente que sofre. Quem tá sofrendo por amor levanta a mão?
Então, Luan emendou Vingança, que contém versos como “Eu vou pegar todo mundo/ Virar um vagabundo/ Depois que eu ficar com essa cidade inteira/ Aí cê vai lembrar do tanto que eu te dei amor/ E o tanto que você não deu valor”. Convenhamos que essa vingança soa como plano do Dr. Abobrinha, do Castelo Rá-Tim-Bum, mas o público entoou a música com tanta euforia que parecia torcida após um gol em final de campeonato.
Tradicionalmente, artistas visitantes preenchem suas apresentações com menções ao Rio Grande do Sul. Luan gabaritou: ergueu a bandeira do RS, cantou o hino informal que todo visitante canta — Querência Amada — e encheu o Estado de elogios (“Gaúcha são as melhores dançarinas do brasil” ou “RS me ama? Eu que amo o RS”). O cantor vestia uma camisa branca com o brasão do Rio Grande do Sul nas costas, peça que foi feita por sua mãe, Marizete Santana. Ele prometeu leiloar a camisa e doar o valor a uma entidade gaúcha.
Ao longo de mais de duas horas, Luan foi além do sertanejo: promoveu uma apresentação de popstar, com muita pirotecnia (fogos, explosões, uso de drone, vídeos superproduzidos, papéis picados, entre outros) e atenção com seus fãs. Sobretudo, transparecia um sentimento de gratidão. Um show condizente de quem está sendo anunciado para furar a bolha e se apresentar em festivais como Rock in Rio e The Town.
Antes do prefeito
A cidade de Luan foi aberta às 14h. Os primeiros habitantes foram recebidos pela DJ Dani Lima no Beira-Rio. Depois, foi a vez da dupla sertaneja Hugo e Vitor animarem a população.
O festival seguiu com Guilherme e Benuto, dupla em ascensão no cenário sertanejo, que acumula hits como Três Batidas, Haja Colírio, Duas Três, Manda Um Oi, entre outros. Depois foi a vez do pernambucano João Gomes, 21 anos, uma das principais estrelas do piseiro (ritmo derivado do forró).
Ainda, Jorge e Mateus preparam terreno para Luan com um show competente. Uma das duplas mais aclamadas do sertanejo universitário, eles estão em atividade desde 2005 e tocaram as antigas (do tempo que ainda eram bixos) e êxitos recentes (já no doutorado em sertanejo). Eles agitaram o público com canções como Flor, Propaganda, Molhando o Volante e Amo Noite e Dia.
