Caixas de cerveja empilhadas, escadas de mão movidas de lá para cá, sofá passando e marteladas: os últimos ajustes para a reabertura do bar Opinião, em Porto Alegre, estavam sendo realizados quando a reportagem visitou o local na quarta-feira (4). Após 17 meses com as atividades suspensas, o espaço volta a receber público nesta sexta (6) à noite com o projeto Acústico Opinião. Sobem ao palco Yas Speransa e Esteban, que se apresentarão para uma casa com capacidade acanhada, é verdade; porém, marcando o primeiro passo importante para a retomada.
Quem for ao Opinião nesta sexta (6) vai deparar com um espaço remodelado. A casa recebeu manutenção enquanto esteve fechada, o que abrange da iluminação do palco até um novo Plano de Prevenção e Proteção contra Incêndios (PPCI), aumentando a capacidade do espaço para 1,7 mil pessoas em tempos não pandêmicos. Todo o bar, agora, dispõe de sprinklers.
Há uma nova escada externa, na frente da bilheteria, que leva até a grande novidade desta retomada: o Inferninho. Localizado onde fica o mezanino, o novo espaço servirá para receber eventos menores, de até 400 pessoas. Contando com cabine de DJ, LEDs coloridos e uma pista de dança, além do patrocínio de uma marca de cerveja, o Inferninho fechará o mezanino com cortinas — que serão removidas em shows maiores na casa.
— O mezanino era mais um complemento antes. Agora vai ter vida própria — sublinha Cláudio "Magrão" Fávero, fundador do bar e sócio-diretor da Opinião Produtora, que também opera o Pepsi On Stage e o Auditório Araújo Vianna, também em Porto Alegre.
O projeto Acústico Opinião, que dá o pontapé inicial na retomada do estabelecimento, traz artistas locais para se apresentarem em um formato mais intimista e reduzido, para um público sentado de até 200 pessoas. Os shows irão ocorrer nas noites de sexta e sábado até o dia 28 de agosto. Neste sábado (7), será a vez de Jota Pê Rocha e Tonho Crocco. Reunindo artistas novos e consolidados do Rio Grande do Sul, de diferentes ritmos — rock, MPB, rap, samba etc. — o projeto ainda trará nomes como Frank Jorge, Tati Portella, Rafa Machado, Lenzo Rizzo e Jacques Maciel, entre outros.
A casa será tomada por mesas, remetendo ao Opinião dos anos 1980, como recorda Magrão. Cada ingresso para o projeto dá direito a uma mesa com quatro lugares, vendidos apenas em conjunto. O sócio-diretor compara os protocolos do evento aos aplicados em restaurantes: uso obrigatório de máscara (com exceção para consumo na mesa), medição de temperatura na entrada e circulação restrita — por exemplo, não poderá haver gente dançando na pista ou se aglomerando. Haverá QR code para a realização de pedidos pelo celular.
— Um restaurante com um baita de um show — define o empresário.
Para tirar o pó
No dia 14 de março de 2020, a Festa 80 Na Medida embalou o Opinião com hits da década do Fofão e das ombreiras. Foi a última vez que a casa recebeu público. Dois dias depois, a produtora anunciou a suspensão dos shows que realizaria naquele mês por causa da pandemia. A expectativa era de reabrir em seguida, que a situação iria logo passar. Quem sabe em setembro já estariam operando plenamente. Porém, os meses foram passando e nada.
— Achávamos que ligeirinho estaria tudo sob controle. Esse engano acabou sendo crucial para tudo, tanto mentalmente quanto financeiramente. Trabalhamos com expectativas de retorno que não se concretizaram — relata Magrão.
Além dos remarcações e cancelamentos de apresentações, o custo da manutenção do espaço começaria a pesar. Foram necessárias negociações com fornecedores, bancos, renovações de contratos, entre outros. Segundo Magrão, não houve demissão no quadro de cerca de 40 funcionários sob o regime CLT. Para isso, houve ajuda da Medida Provisória 936, que prevê reduções salariais nas quais o governo deve compensar parte da perda do trabalhador com o pagamento da parcela de seguro-desemprego, à qual o colaborador teria direito caso fosse demitido.
— Levamos quase dois anos para começar a trabalhar de novo. Em qualquer empresa, com zero de faturamento, é uma catástrofe. As pessoas tiveram empatia porque acreditam na instituição. Uma série de shows foi transferida, que vamos entregar. Ainda vamos fazer muita festa aqui — assegura o empresário.
O técnico de iluminação do Opinião, Thiago Koefender, lembra que chegou a fazer massa caseira durante a pandemia para obter uma ajuda financeira. Mais conhecido como Boca, ele tem 39 anos e trabalha há sete na casa. Empolgado com o retorno, diz que foi um choque ficar sem fazer aquilo que gosta durante tanto tempo.
— É uma felicidade imensa poder voltar a trabalhar, rever os colegas. É como uma família. Sinceramente, quero me aposentar aqui trabalhando na iluminação do Opinião — destaca Boca, entre um ajuste e outro nas luzes.
Também afinando os últimos detalhes estava o DJ Luis Barbosa, que vislumbra um novo Opinião. Define que o espaço está recomeçando do zero. Ao 46 anos, sendo 12 trabalhando para a produtora, ele também teve que se virar nos 30 na pandemia.
— Não havia aniversário, festa ou formatura. Tive que vender doces e salgados, ajudar em oficina mecânica e até em serviço de obra. Fui para um lado profissional completamente diferente do que sou, tive que me reciclar — relata DJ Barbosa.
Durante o período, a produtora chegou a promover uma live para celebrar os 37 anos do bar, que serviu de embrião para o projeto Opinião Acústico. Porém, o formato nunca foi atrativo para os proprietários, tampouco o drive-in ou outras reinvenções. Entende-se que o DNA do Opinião seja o calor humano. Tendo sido palco de artistas locais, nacionais e internacionais — incluindo artistas de porte, como Bob Dylan e Morrissey —, a casa se consagrou como uma "Bombonera do Rock", sendo um ambiente que vira uma panela de pressão dependendo do show.
— Quem já teve a oportunidade de assistir a uma partida lá (estádio do Boca Juniors, em Buenos Aires) sabe que aquela pressão é tão intensa que transforma o ambiente em algo espetacular. Só que em vez de termos 22 jogadores de futebol, aqui há o artista no palco — explica Magrão.
Na reabertura dessa Bombonera, haverá um formato completamente diferente do que a casa está acostumada a receber, sem dança ou explosões catárticas do público. Porém, o empresário ressalta que essa retomada é importante para a saúde mental, não financeira, até porque os custos operacionais não se pagam.
À medida que houver liberações dos governos estadual e municipal e que a vacinação for avançando, espera-se que o espaço possa ir reabrindo aos poucos até voltar a ter casa cheia. Se tudo der certo, a expectativa agora é de que o espaço possa estar funcionando a pleno a partir de março de 2022 — aliás, os shows internacionais passaram para o ano que vem.
Andreia Saar, 50 anos (13 de Opinião), visitou algumas vezes o espaço durante os 17 meses para tratar de questões pontuais. A gerente administrativa sempre encontrava o silêncio e a escuridão do local, o que para ela não é o normal da casa.
— Na última terça (3), quando o pessoal estava fazendo montagem de som e tocou o primeiro barulho para fazer os testes aqui dentro, foi uma emoção tão grande que cheguei a chorar — confessa Andreia.
Para Magrão, a reabertura da casa simboliza que a fase extremamente crítica da pandemia está começando a ser superada:
— A vida vai voltar ao normal. Toda essa dor que a gente passou vai ter um marco. Mesmo que não seja com a casa cheia, acaba projetando coisas legais para o futuro. Opinião está pronto, remodelado. Agora precisa só tirar o pó (risos).
Acústico Opinião - Esteban e Yas Speransa
- Opinião (José do Patrocínio, 834), em Porto Alegre.
- Abertura da casa: 20h. Início dos shows: 21h.
- Ingressos: a partir de R$ 52,50 pelo site sympla.com.br. Desconto para quem estiver vacinado contra covid-19 (é necessário apresentar carteira de vacinação).