A penúltima edição presencial do Ocidente Acústico foi a de número mil e, nela, o projeto bateu o seu recorde de público: cerca de 800 pessoas tomaram conta das duas pistas do Bar Ocidente para curtir as bandas gaúchas Ultramen e Graforréia Xilarmônica. Foi histórico. Porém, pouco depois, o encontro, que acontece desde 1998, deparou com um obstáculo entre as suas quintas-feiras musicais: a pandemia.
Assim, desde a grandiosa milésima edição do Ocidente Acústico até agora, apenas outra apresentação aconteceu no local, a 1.001ª, em 12 de março de 2020 — virtuais, foram 14 de lá para cá. Com público presente, o evento — que nada tem de acústico — foi interrompido por um ano, quatro meses e 24 dias. A contagem, porém, termina nesta quinta. O Ocidente volta a abrir as suas portas para um dos projetos mais queridos pelos frequentadores do bar. E pelos músicos, é claro.
Neste reencontro, a edição 1.002 do evento traz Marcelo Gross para cantar os seus sucessos e, também, para apresentar o seu novo álbum: Tempo Louco. E também marca um novo formato. Apenas 50 pessoas poderão assistir ao show, com mesas distantes, máscara obrigatória para circular pelo espaço, janelas abertas e começando mais cedo — o tradicional início às 23h passou para às 21h. Tudo para garantir a segurança de quem for ao local.
Cautela
O cuidado com a saúde dos frequentadores, dos artistas e das equipes é a principal preocupação do proprietário do Ocidente, Fiapo Barth. Para ele, as próximas apresentações do projeto serão uma experiência para ver se o formato funcionará, não colocando ninguém em risco, trazendo retorno financeiro para os artistas, mesmo que com público reduzido, e para o bar.
— Passamos por um longo período morto, em que era deprimente ver a estrutura toda parada enquanto tinha tanta gente precisando. Agora, o cenário mudou um pouco, mas a situação segue complicada. Vamos testar e ter muito cuidado. Mas, como empresário, é uma maravilha ver shows acontecendo de novo na casa. A sensação é de volta às aulas — destaca Fiapo.
Idealizador do Ocidente Acústico, o produtor Márcio Gomes, o Rei Magro, também enfatiza que o retorno do projeto está cercado de cuidados. Ele recorda que o setor de eventos foi um dos mais afetados pela pandemia e estas apresentações de Marcelo Gross — nesta e na próxima quinta-feira (12) —, podem ser "uma luzinha que está se acendendo". E a realidade, até que a luz se acenda totalmente de novo, será assim: priorizando poucos artistas no palco, evitando aglomeração de todas as maneiras. Bandas, por enquanto, terão que esperar.
— Não dá para ser hipócrita, né? Não tem muita alegria no nosso cenário atual, mas, profissionalmente falando, emociona poder retomar um projeto tão querido e que ajuda também os nossos artistas. Fico feliz, choro, fico assustado, mas estou com gás. No nosso setor, trabalhamos sempre com adaptação, resistência e oportunidade — comenta.
Fiapo conta que, sem a possibilidade de realizar as tradicionais festas de sexta e sábado, terá nas atividades culturais uma fonte de renda, algo que não acontecia antes da pandemia. Pelo contrário. De acordo com ele, boa parte das bilheterias das baladas de final de semana eram destinadas para dar suporte para os demais eventos do Ocidente. Mesmo assim, ainda não tem previsão de quando as mais famosas celebrações do local acontecerão novamente.
— Só vou voltar com as festas quando as regras forem muito claras, algo que não é ainda, e o risco for muito baixo ou inexistente. O Ocidente até se inscreveu para participar dos eventos-teste da cidade, mas ainda não obtivemos resposta. Essa é a única expectativa relacionada às festas, que não têm data para retornarem — completa.
Volta para casa
O novo álbum de Marcelo Gross, Tempo Louco, não recebeu esse título por conta da pandemia do século. E o artista também não foi escolhido para reabrir o Ocidente Acústico por causa do nome do disco. Mesmo assim, é curioso que justamente este trabalho, com este título, abra novamente o projeto, 511 dias depois de sua última edição, em um cenário totalmente diferente. Louco.
— Esse show também é a minha volta, depois de um ano e meio sem tocar. É bastante significativo o meu retorno ser na minha cidade-natal, dentro de um dos projetos mais bonitos do Rio Grande do Sul, idealizado pelo Márcio Gomes, o Rei Magro. Eu me sinto voltando para casa — conta o artista.
E esse sentimento de proximidade com o Ocidente que Gross possui é compartilhado por Adriano Braga, gerente de uma loja de vinhos e frequentador do bar desde os seus nove anos, há mais de três décadas, quando ia ao local com seus pais para almoçar. Com o tempo, passou a ter idade para entrar nas festas, no Sarau Elétrico e no "Ocidente Acústico". E a sintonia era tanta com o estabelecimento que, em uma certa noite, ao ficar sabendo de uma vaga para trabalhar ali, logo se ofereceu para o posto. E, para sua surpresa, foi contratado por Fiapo Barth.
No Ocidente, atuou como atendente do bar, na bilheteria e no escritório. Logo, conheceu Márcio Gomes e também começou a trabalhar com ele. Entre diversas atividades, ajudava na passagem de som e no financeiro, acertando os valores que as bandas que participavam do Ocidente Acústico recebiam. De 2004 a 2012 e de 2015 a 2017, Braga era uma das peças que faziam o bar funcionar.
Em noite de folga, em novembro de 2016, foi até uma das festas do tradicional point porto-alegrense. Lá, conheceu a futura esposa, a cirurgiã-dentista Tatiana Maffacciolli. Exatamente dois anos depois, a dupla trocou alianças, e o almoço de casamento... Adivinha? Foi lá, no Ocidente. O próprio Fiapo fez questão de ceder o mezanino do lugar para a celebração. Nesta quinta, tanto Márcio quanto Tati estarão em uma das mesas para prestigiar a retomada.
— Faço questão de estar presente quando posso. Quero que essa casa, que faz parte da minha história e do meu desenvolvimento como pessoa, siga existindo para sempre. Nela, aprendi a lidar com as diferenças e o modo como vejo o mundo, hoje em dia, com muito respeito, deve-se àquele lugar. Para mim, isso tem um valor muito grande — garante Braga, animado para reencontrar a música, os amigos e, claro, o templo sagrado do Bom Fim.
Ocidente Acústico com Marcelo Gross
- Datas: 5 e 12 de agosto (quintas-feiras)
- Horário: casa abre às 19h30min, show começa às 21h
- Endereço: Ocidente (Rua João Telles, na esquina com a Avenida Osvaldo Aranha)
- Ingressos: de R$ 40 a R$ 160, exclusivamente online (www.sympla.com.br)
- Informações: www.barocidente.com.br