Por Jéssica Barcellos, Especial
Tim Maia é o protagonista de diferentes histórias que marcaram não só o público, mas também quem trabalhou no Planeta Atlântida em 1998. Os Mamonas Assassinas só precisaram de um show, realizado na primeira edição, em 1996, para marcar a história do evento para sempre. Quem também deixou lembranças em inúmeras ocasiões foi a banda Charlie Brown Jr. e seu icônico vocalista Chorão, a banda Jota Quest, Zeca Pagodinho e a roqueira Rita Lee. Reunimos histórias quase desconhecidas, mas que foram vividas e testemunhadas por parte da enorme equipe que atua nos bastidores e faz o Planeta acontecer.
De Tim Maia a nudismo no show
Eugênio Corrêa, sócio da DC Set Group e um dos criadores do Planeta Atlântida:
"São tantas histórias que fica difícil até de selecionar. A primeira não pode deixar de ser com o Tim Maia, porque ele realmente foi uma pessoa de outro planeta! Era necessário ter um jeito especial para tratar com ele, e como já havia trabalhado com ele antes do festival, já sabia como lidar. Em todos os outros shows, buscava ele no aeroporto, mas no Planeta realmente não tinha como, porque já estava há semanas em Atlântida, já que nos primeiros anos me envolvia com praticamente tudo — desde os contratos com a carrocinha de pipoca até os maiores artistas. Bom, quando ele desembarcou, ficou muito impressionado que eu não estava no aeroporto para recebê-lo. Mas a nossa produção estava lá, explicou a situação e conseguiu levá-lo para o hotel-fazenda onde ele ficaria hospedado na praia. Só que ele não sossegou enquanto não apareci no hotel, e disse que não faria o show se eu não fosse até lá. Então, tive de abandonar tudo o que estava fazendo e ir lá pegá-lo pela mão para que fizesse o show. Coisas de Tim!
Teve ainda a vez em que tivemos de correr atrás de uma modelo que aceitasse ficar nua no show da Rita Lee, em 1996. Naquela época, ela fazia um show que tinha uma participação da Adriana Calcanhotto nua na música Miss Brasil 2000. Mas houve algum tipo de desentendimento entre as artistas um pouco antes da apresentação, então a Rita me avisou que a Adriana não participaria e que precisávamos de alguém para fazer uma espécie de strip-tease no show. Foi difícil naquela época achar alguém que topasse, mas, no fim, conseguimos!
Outra coisa bacana de revelar é que, em todas as edições do Planeta Atlântida, o Jota Quest sempre pede um camarim maior. E tem um motivo bem específico: eles transformam em uma verdadeira discoteca! Antes da apresentação, ninguém pode ter acesso além da banda, mas, depois, eles recebem os amigos que têm aqui.”
O batizado do Jota Quest e o boteco do Sant’ana
Gustavo Sirotsky, diretor artístico do Planeta Atlântida:
"O nome do Jota Quest surgiu dentro do festival, em 1998, em Santa Catarina. Na época, a banda ainda se chamava J. Quest e era parte do line-up do evento. Os meninos da banda estavam na barricada assistindo ao show do Tim Maia, e os seguranças foram tirar eles da área que era proibida. Foi quando o Tim gritou algo do tipo ‘deixa a rapazeada do Jota aí na boa’. Os seguranças deixaram e, no final, o síndico ainda mandou um abraço pra galera do Jota Quest. Depois disso, Rogério Flausino e seus companheiros rebatizaram o grupo! Outro episódio bacana aconteceu em 2003, quando o Paulo Sant’Ana, que era muito fã do Zeca Pagodinho, comentou que queria ver o show de pertinho. Na época, meu pai, Renato Sirotsky, fez um carinho e atendeu ao pedido dele, colocando uma mesa e uma cadeira de plástico em cima do palco, num cantinho, para que ele pudesse curtir alguns dos momentos da apresentação tomando chope, em clima de boteco."
Quando Tim Maia foi pontual
Macgyver Zitto, diretor técnico do Planeta Atlântida:
"Tive o privilégio de testemunhar histórias incontáveis. O que acontece no backstage fica no backstage, mas esse episódio do Tim Maia foi muito marcante pra mim. O Planeta é conhecido por todos como um festival pontual, e um dos meus papéis dentro da estrutura do evento é solucionar qualquer tema ligado à área técnica e manter tudo dentro do cronograma. Eis que o Tim Maia atrasou em mais de 10 minutos a sua saída do palco (nossa tolerância é zero) na Saba, e após inúmeros alertas para terminar o show, que foram ignorados por ele, desliguei o som no palco e no sistema que o público ouvia. O artista saiu tão bravo comigo que disse que não compareceria ao segundo show, que estava previsto para duas semanas depois, em Florianópolis. O Eugênio Corrêa conseguiu contornar a situação, e o Tim Maia voltou atrás com uma única condição: que eu não poderia estar lá. Ele não sabia, mas eu continuei tratando todos os detalhes em sigilo com a produção dele e estava lá, sim. Até que, quando faltavam minutos para esgotar o tempo dessa segunda apresentação, ele me viu, cumprimentou e terminou pontualmente aquele que seria um de seus últimos shows.”
Mamonas só de cuecas na piscina
Karina Fernandes, produtora-executiva do Planeta Atlântida:
"Só o primeiro Planeta, de 1996, já tem um monte de histórias para contar, que envolvem desde a equipe fazendo todas as credenciais à mão na madrugada anterior ao evento, até a gente transformando a Saba, que, na época, era um espaço bem mais rústico. E não tem como falar sobre a primeira edição sem citar os Mamonas. Os meninos eram muito legais, simples e deslumbrados com tudo o que estava acontecendo. Naquela época, eles estavam estouradaços, faziam show praticamente de manhã, à tarde e à noite. E, quando eles chegaram no hotel, ficaram impressionados com a estrutura, principalmente com a piscina enorme que havia lá. Só que eles não tinham levado calção de banho e queriam muito entrar na piscina, e aí me imploraram para mergulhar de cueca mesmo. Tive que deixar, né? Então, eles ficaram um tempão lá se divertindo, só de cuecas, em Xangri-lá. Semanas depois, estava de férias com algumas amigas, e uma delas acordou dizendo que tinha sonhado que os Mamonas tinham sofrido um acidente de avião. Minutos depois, nos demos conta de que não era um pesadelo. Ela havia dormido com a TV ligada e tinha escutado a notícia, que infelizmente era verdade, durante o sono. Foi difícil acreditar porque, menos de um mês antes, havíamos presenciado aquelas cenas tão divertidas.”
O frio na barriga da Comunidade Nin-Jitsu
Lelê Bortholacci, comunicador da Atlântida:
"Entre todas as minhas passagens pelo festival, seja como público ou comunicador, a que mais me marcou foi em 2001, quando atuava como empresário da Comunidade Nin-Jitsu. Naquele ano, a banda foi escalada para encerrar o evento na Saba, o que era uma novidade, já que não era comum ter uma atração gaúcha fechando um festival do tamanho do Planeta. Aceitamos o convite com a maior alegria, mas ao mesmo tempo ficamos muito tensos, com medo de que a galera não ficasse até as 4h da manhã para ver um grupo local. Ficava andando pelo festival pra checar se o público estava se movimentando para ir embora, mas o que vi foi o contrário: as pessoas escoradas, esticando as pernas, descansando para ficar até o final. Quando os guris subiram no palco foi lindo, maravilhoso, um momento de êxtase: tinha uma multidão de mais de 40 mil pessoas esperando e mais um time de grandes nomes atrás do palco impressionados vendo tudo aquilo.”
Memórias dos camarins
Bia Wetzel, coordenadora de logística do Planeta Atlântida:
"Lá se vão 25 anos de história, construção e aprendizado. Esses dias encontrei o primeiro fax que enviei para a RBS, era o orçamento do evento que daria origem ao Planeta, estávamos em 1995. De lá para cá, a vida e o Planeta aconteceram. Fomos de um evento feito a poucas mãos, onde todos participavam de quase tudo, para este que é o maior evento do sul do país e que reúne anualmente milhares de pessoas. Viramos um marco, um divisor, um rito de iniciação. O Planeta cresceu e nós também. Começamos com uma produção com o credenciamento feito no pátio da casa que era hospedagem e escritório para uma central de credenciamento que envolve uma equipe capacitada, sistemas e aplicativos. De Mamonas e Djavan para cá, infinitas lembranças. Antes do show, no camarim, Tim Maia mandou me chamar, queria receber e pagar toda a banda e equipe antes de subir no palco. Lá vamos nós recolher o dinheiro para atender, e logo volto com o cachê. Ele me diz: ‘Vamos pro ônibus, chame todos, eu mesmo pago’. E assim foi. Fez um show memorável.”
A noite em que correram atrás do Chorão
Rafinha Menegazzo, comunicador da Atlântida:
"Uma das situações mais engraçadas e queridas que vivi foi em uma das transmissões do Planeta Atlântida Rio Grande do Sul, quando entrávamos ao vivo fazendo a cobertura não só na rádio, mas também nos telões do festival. Vários dos comunicadores ficavam na saída do palco, esperando terminar o show para fazer as entrevistas. Eu sempre me colocava à disposição para entrevistar os artistas com quem eu tenho afinidade e, dessa vez, estava felizaço, porque tinha sido escalado para entrevistar a banda Charlie Brown Jr. E aí, quando o show estava no final, a equipe da TV me avisou no ponto que eu entraria ao vivo em 10 segundos, disse para já ir fazendo a introdução, porque o Chorão já ia chegar ali, então entrei no ar. Mas a banda estava com aquela adrenalina do show, o Chorão meio alterado de tanta emoção, e acabou se enganando e saiu correndo para o lado oposto de onde eu estava esperando. A produção teve de sair correndo atrás dele, até que ele deu toda a volta no palco e veio na minha direção me dar um abraço, ensopado de suor, pedindo desculpas por ter ido para o lado errado.”