A Netflix adicionou no começo de fevereiro a seu catálogo Tim Maia (2014), cinebiografia dirigida por Mauro Lima e baseada no livro Vale Tudo, do jornalista e escritor Nelson Motta. Morto em 1998, aos 55 anos, o cantor e compositor é o personagem de um filme que destaca tanto o brilhantismo musical quanto sua conturbada vida pessoal.
O autor de Chocolate e Descobridor dos Sete Mares é vivido por dois atores: George Sauma na juventude e Babu Santana (então futuro participante do Big Brother Brasil), em uma interpretação visceral, a partir dos anos 1970. É um daqueles filmes que, não importa se a gente tem boa voz ou não, fazem o espectador sair cantando as músicas do protagonista.
E Tim Maia também faz lembrar de outras cinebiografias musicais que retrataram artistas com um lado sofrido e/ou polêmico.
Para seguirmos no Brasil, a primeira dica é Cazuza: O Tempo Não Para (2004), em exibição no Amazon Prime Video, no Google Play e no YouTube. O filme de Sandra Werneck e Walter Carvalho acompanha Cazuza do início da carreira, em 1981, com a banda Barão Vermelho, até a morte em decorrência da aids, em 1990, aos 32 anos. Conquistou mais de 20 prêmios, trouxe fama para o ator Daniel de Oliveira e atraiu 3 milhões de espectadores aos cinemas. No gênero, só perde em bilheteria para o fenômeno Dois Filhos de Francisco, sobre a dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano.
Cazuza morreu pouco antes de a aids levar Freddie Mercury, em 1991, aos 45 anos. Em cartaz no Google Play e no YouTube, Bohemian Rhapsody (2018), o filme de Bryan Singer e Dexter Fletcher sobre o vocalista da banda inglesa Queen, valeu ao ator Rami Malek todos os prêmios possíveis, incluindo o Oscar, e rendeu a maior bilheteria da história para um filme do gênero. Foram US$ 905 milhões arrecadados, que abriram caminho para um festival de rock no cinema. De lá para cá, já tivemos títulos sobre ou inspirados em canções de Elton John, Beatles, Bruce Springsteen, George Michael e David Bowie, só para citar os mais famosos.
Já que falamos em Oscar, eu me arrependeria muito se deixasse de citar Piaf: Um Hino ao Amor (2007), mesmo não estando disponível em plataformas de streaming. Realizado por Olivier Dahan, o filme conta a história da cantora francesa que expressava com sua voz dramática os percalços e as tragédias de sua vida. No papel de Édith Piaf, morta em 1963, aos 48 anos, por causa de um câncer no fígado (ela era alcoolista), Marion Cotillard ganhou o Oscar de melhor atriz.
Foi na França que morreu em 2003, aos 70 anos, após uma luta de 10 anos contra o câncer, a cantora, pianista e compositora americana de jazz e soul Nina Simone, uma reconhecida ativista dos direitos civis da população negra.
Personagem do documentário indicado ao Oscar e presente na Netflix What Happened, Miss Simone (2015), de Liz Garbus, ela enfrentava problemas de saúde mental desde a adolescência, mas só foi diagnosticada com depressão aos 30 anos — mais tarde, descobriu-se que, na verdade, tinha transtorno bipolar. Na sua carreira, Nina colecionou episódios de atrito, como brigas com a plateia e o tiro disparado contra um executivo de uma gravadora, em 1985.
Para fechar, aqui está outro gênio atormentado pela própria mente, o único ainda vivo da lista: Brian Wilson, hoje com 78 anos, justamente o cérebro dos Beach Boys, foi encarnado por Paul Dano, na fase jovem, e John Cusack em um filme que, talvez como a própria banda, merecia mais visibilidade. Em cartaz no Google Play e no YouTube, The Beach Boys: Uma História de Sucesso (Love & Mercy no original, 2014), de Bill Pohlad, intercala momentos dos anos 1960, quando o grupo americano rivalizava artisticamente com os ingleses Beatles, e da década de 1980, quando Wilson estava doente, confuso, abandonado pela família e sob o controle de um psiquiatra abusivo (Eugene Landy, papel de Paul Giamatti).