Dois Filhos de Francisco (2005), que a RBS TV exibe neste sábado (27), às 13h55min, cumpriu a trajetória de sucesso desenhada antes mesmo de sua estreia e potencializada por seus méritos. Foram 5,3 milhões de espectadores no cinema, 600 mil DVDs vendidos e quatro troféus no Grande Prêmio Brasileiro: melhor ator (Ângelo Antônio), ator coadjuvante (José Dumont), atriz coadjuvante (Paloma Duarte) e som.
Esperava-se um público enorme – hoje é a 13ª maior bilheteria nacional – porque o diretor Breno Silveira resolveu contar como foi o nascimento de uma dupla sertaneja muito bem sucedida, Zezé di Camargo & Luciano, que vendeu mais de 40 milhões de discos. Mas o filme é tão bem narrado, tão bem interpretado e tão pungente que, no boca a boca, deve ter conquistado até quem tapa os ouvidos ao gênero.
O longa foi uma produção da Conspiração Filmes (a mesma que depois bancaria Gonzaga – De Pai pra Filho, do mesmo diretor). A história começa em 1962, em Sítio Novo, localidade de Pirenópolis, no interior de Goiás. Francisco (Ângelo Antônio) é um pequeno agricultor apaixonado por música caipira. Depois que sua mulher, Helena (Dira Paes, rainha das nuanças), dá à luz Mirosmar (Dablio Moreira), o pai bota uma ideia fixa na cabeça: quer mais um filho para formar uma dupla sertaneja.
— O Francisco é um sujeito que não desiste do sonho, que não abandona a esperança. Ele não é um vencedor à americana. Muita gente vai julgá-lo como um pai tirano, maluco. Porque o ser humano é assim, bom e ruim — disse à época, em entrevista para mim, Breno Silveira.
Pois, inspirado pelo canto do galo, Francisco obriga Mirosmar e seu irmão Emival (Marcos Henrique) a comer ovo cru para que fiquem com a voz estridente.
Mas esse é o mesmo homem que, muitos anos mais tarde, vai gastar seu dinheiro comprando fichas para telefonar às rádios pedindo a canção É o Amor (1990), o primeiro sucesso de seus filhos Mirosmar, o Zezé di Camargo (vivido na fase adulta pelo gaúcho Márcio Kieling, com incrível semelhança física e delicada atuação), e Welson, o Luciano (Thiago Mendonça), 11 anos mais moço. A premiada Paloma Duarte encarna Zilu Godói, hoje ex-esposa de Zezé.
Bem conduzido na sua alternância entre humor e tragédia, drama e números musicais, Dois Filhos de Francisco cativa de vez o coração do espectador na cena em que os guris tentam a sorte na rodoviária de Goiânia. É quase uma epifania, dentro e fora da tela. É lá, também, que surge outro personagem memorável: o empresário enganador encarnado por José Dumont.
Fica a dica para este sábado.