Chegando ao sexto mês de 2020, o palco do bar Opinião já teria recebido o hardcore do CPM 22, o power metal da Sonata Arctica, o reggae do The Wailers, o jazz e R&B de Thundercat, o rap de Black Alien, entre outros artistas e sonoridades. Isso sem contar as festas que agitariam o espaço. Mas não houve música, tampouco público: a tradicional casa de shows porto-alegrense está fechada desde março por conta da pandemia de covid-19. Entre os proprietários, a expectativa é retomar as atividades ao longo do segundo semestre.
A história do Opinião começa em 1983, quando os amigos universitários Alexandre "Alemão" Lopes e Cláudio "Magrão" Fávero montaram o bar na Rua Joaquim Nabuco, na Cidade Baixa. Quatro anos depois, a casa se estabeleceria no atual ponto da José do Patrocínio. O que começou como bar se estendeu a outras células de atividades com a Opinião Produtora, que gerencia também a casa de espetáculos Pepsi On Stage e o Auditório Araújo Vianna.
Com o passar dos anos, o Opinião se tornaria um palco sagrado do Estado: nomes internacionais de peso – entre outros, Bob Dylan, Deep Purple, Morrissey, Mercedes Sosa e Motorhead – tocaram ali. Sem contar os nacionais, entre eles Skank, Titãs, Los Hermanos e Charlie Brown Jr., e os locais, como Cachorro Grande, Ultramen e Fresno. Agora, não há banda. A casa tem em seu interior apenas caixas com cervejas destinadas a um público que não apareceu – metade delas venceu o prazo de consumo em maio.
Segundo calcula Magrão, fundador do bar e sócio-diretor da produtora, são 625 caixas de cervejas no estoque, mas por volta de 300 caixas estão vencidas — o prazo das demais expira em setembro. Ele ressalta que a distribuidora se dispôs a repor as bebidas – caso contrário, haveria um prejuízo R$ 90 mil. Havia também R$ 5 mil em alimentos que foram doados para instituições. Uma das consequências da pandemia para estabelecimentos fechados: o vencimento de produtos perecíveis.
Magrão faz coro com a resignação que se tornou consenso entre agentes do setor de cultura e entretenimento:
– Nossa atividade foi a primeira a ser fechada e, com certeza, deve ser a última a reabrir. Encontramos alguns complicadores, que são independentes da redução do público. Há muito contato num show ao vivo. As pessoas vão para a frente do palco, se aglomerarem em um balcão.
O Opinião completa 37 anos em outubro com um histórico de adversidades superadas ao longo das décadas, entre as quais Magrão cita o Plano Bresser, o Plano Cruzado 1 e 2, o confisco das poupanças no governo do presidente Fernando Collor. O empresário afirma ainda que o país atravessa uma crise econômica desde 2015 que, para o entretenimento, foi agravada pela falta de segurança pública e pela Lei Seca.
Para este ano, a perspectiva era de recuperação no setor. Segundo Magrão, a casa estava com agenda cheia, contando com shows com ingressos esgotados. Entretanto, veio a pandemia.
– O problema não é você ficar fechado, o problema é não ter a possibilidade de pensar quando poderá reabrir. Ninguém está preparado para aguentar cinco ou seis meses. Já estamos no terceiro. Isso acaba frustrando as expectativas – lamenta.
Magrão estima que o Opinião tenha entre 35 a 40 funcionários sob o regime CLT. Há também os trabalhadores intermitentes, convocados provisoriamente conforme a necessidade. De acordo com o empresário, a Medida Provisória 936 – que prevê reduções salariais nas quais o governo deve compensar parte da perda do trabalhador com o pagamento da parcela de seguro-desemprego, a qual o colaborador teria direito caso fosse demitido – está auxiliando segurar o quadro. Agora, Magrão está na expectativa da prorrogação desse decreto.
– A gente está fazendo um enorme esforço para não demitir ninguém. Com esse decreto e mais alguns ajustes em relação aos salários mais altos, conseguimos manter todo o nosso quadro mesmo com a operação fechada – relata.
Perspectiva de retomada
O bar Opinião integra o Movimento Marketing Live RS, que reúne empresas para discutir caminhos para a retomada de eventos. Magrão conta que têm sido realizadas reuniões com o governo do Estado e que protocolos de segurança estão sendo estudados. Segundo o empresário, há um otimismo para a retomada de atividades se dar em agosto ou setembro.
– Talvez com uma capacidade diminuída e uma série de fatores de prevenção, como álcool gel e máscara. As pessoas precisam se sentir seguras no seu local, senão não vale a pena abrir – avalia. – Ninguém está desesperado em voltar de qualquer maneira. Queremos reabrir de uma maneira legal e convincente para todo mundo.
Magrão crê que a tranquilidade do público para comparecer a eventos só deve ocorrer quando houver uma vacina para a covid-19:
– É uma nova fase, uma nova vida. As pessoas todas estão aprendendo com isso. Temos que aprender juntos. É um momento de união. Uma força-tarefa tanto do lado de quem oferece entretenimento quanto de quem vai. Temos que pensar mais numa economia colaborativa.
Para o empresário, o público está carente de shows, algo que as lives não dão conta de suprir. Ele afirma que qualquer atração que se apresentar no Opinião em sua reabertura será positiva, até para quebrar a barreira do isolamento. Contudo, um projeto gaúcho tornaria a retomada mais especial.
– Nós sempre nos preocupamos muito com a cena local, a que está mais sofrendo agora. Nada mais legal do que você reabrir abrir com um projeto que colocasse o Rio Grande do Sul em primeiro lugar – sublinha.
Shows adiados do Opinião *
- The Wailers – de 19/3 para 13/8.
- Liniker & Os Caramelows – de 26/3 para 2/7.
- Matuê – previsto para 27/3, sem nova data definida.
- Classical Queen – de 28/3 para 17/7.
- Masego –previsto para 31/3, sem nova data definida.
- City And Colour – previsto para 1º/4, sem nova data definida.
- Spy vs Spy – de 2/4 para 5/11.
- Vitão – de 3/4 para 27/11.
- Vanguart – de 4/4 para 4/7.
- Sonata Arctica – de 7/4 para 10/11.
- Rael – de 9/4 para 8/10.
- Deicide – previsto para 12/4, sem nova data definida.
- Poesia Acústica – de 17/4 para 24/10.
- Filipe Ret – de 25/4 para 05/9.
- CPM22 – de 7/5 para 3/12.
- Silva – de 9/5 para 28/11.
- Thundercat – previsto para 13/5, sem nova data definida.
- Black Alien – de 14/5 para 6/8.
- O Teatro Mágico – de 23/5 para 15/11.
- Duda Beat – de 28/5 para 1º/10.
- Letrux – previsto para 5/6, sem nova data definida.
- Matanza Ritual – de 27/6 para 29/8.
* As apresentações podem estar sujeitas a novas alterações de datas.