A Feira do Livro de Porto Alegre começou com apenas 14 barracas em 1955. A cidade tinha pouco mais de 400 mil habitantes, e a vida se concentrava nos arredores da Rua da Praia, ainda sem o calçadão conhecido por todos. Escritores como Cyro Martins, Erico Verissimo, Mario Quintana e Dyonelio Machado passaram pela Praça da Alfândega – e suas obras podem ser encontradas ainda hoje nas bancas. Mas quem são os livreiros mais novos e antigos do evento?
Em termos de antiguidade na Feira do Livro, a livreira Jussara Nunes Martins, de 72 anos, pode se orgulhar de ser uma recordista. Participa do evento há 58 anos e estreou ainda adolescente, em 1966. Atualmente, é proprietária da Nunes Martins, que ocupa espaço na seção infantojuvenil.
— A Distribuidora Nunes Martins sempre esteve presente aqui. Antes disso, trabalhei por mais de 30 anos na Feira do Livro pela antiga Livraria do Globo — explica Jussara, que conheceu pessoalmente e trabalhou ao lado de alguns dos mais importantes escritores do RS.
— Trabalhei na Globo e tinha contato com Erico Verissimo, Mario Quintana, Carlos Nejar, Josué Guimarães e Luiz Coronel. Depois com o Fabrício Carpinejar, que era uma criança e cresceu lá — detalha a livreira, dizendo que foram tempos maravilhosos.
Perguntada sobre qual era o seu escritor favorito, Jussara não hesita em apontar Mario Quintana, de quem guarda várias dedicatórias, algumas de anos como 1973 e 1984, em livros publicados pelo poeta.
Também possui exemplares antigos de Zero Hora com a edição sobre os 80 anos dele e com reportagens sobre da morte do escritor, em 1994.
— O Quintana era o mais falante, inclusive eu viajava junto quando ele tinha de autografar seus livros em Caxias do Sul ou Rio Grande — detalha.
Jussara compartilha algo que não chega a ser um segredo: Quintana carregava uma grande tristeza em sua carreira.
— Ele tinha uma frustração de não ter entrado para a Academia Brasileira de Letras — diz.
Foram três tentativas. E outros postulantes foram os eleitos.
Em relação às características de Erico Verissimo, autor de O Tempo e o Vento, a livreira puxa pela memória o que recorda:
— O Erico era mais calado, assim como o Luis Fernando (filho do escritor). Mas sempre circulava pela Globo.
Se Jussara tem muita história para contar e já testemunhou de tudo na praça, por outro lado, a Editora Zouk, que tem sede no bairro Floresta, é a representante caçula do evento. Está apenas em sua segunda participação.
— Sempre foi um sonho participar da Feira do Livro. Sou frequentador desde antes de trabalhar com livro. O evento é um movimento cultural fantástico em Porto Alegre e serve de referência para o Brasil inteiro — afirma o livreiro João Xavier, 43.
Xavier conta que administra a Zouk há 10 anos na companhia da esposa e sócia Karina Xavier, 43. Mas a editora foi fundada em 1998. O casal comanda o estande e atende os visitantes em um dos corredores da Feira.
— Vendemos literatura, crítica literária e de arte; filosofia, pedagogia e sociologia — enumera ele.
Questionado sobre o significado do nome da editora, Xavier explica que foi dado pelo antigo proprietário.
— Pesquisamos o nome e descobrimos que, em algumas línguas da América Central, Zouk significa "festa" — revela.
Um dos objetivos da editora ao participar do evento foi se tornar mais conhecida do público e ganhar visibilidade.
— Publicamos muito autor daqui de Porto Alegre, literatura do Rio Grande do Sul e do Brasil todo — menciona.
Em relação ao grande público verificado na atual edição da Feira, o livreiro percebe uma espécie de fortalecimento do evento.
— Em 2022 foi surpreendente, porque foi o primeiro ano efetivo pós-pandemia e ocorreu nossa estreia. Este segundo ano está tão bom quanto o passado, mesmo com a chuva. O porto-alegrense abraça, e o pessoal do interior também. Todo mundo abraça a Feira do Livro — conclui.