Conhecido como o fotógrafo pessoal de Erico Verissimo, Leonid Streliaev tem no currículo dezenas de exposições reunindo as cerca de 300 fotografias que fez de um dos maiores escritores brasileiros. Nenhuma mostra se compara a que está estampada no Muro da Mauá, em Porto Alegre, e cuja cerimônia de inauguração ocorreu nesta quarta-feira (8), na Feira do Livro de Porto Alegre.
— É a primeira grande exposição da minha vida. Grande no tamanho, porque ficou gigante — diz o fotógrafo.
Batizada de A Porto Alegre de Erico, a exposição a céu aberto é composta por 10 painéis erguidos pelo projeto Novo Muro da Mauá, dirigido por Rafaella Ferreira, e que percorrem 750 metros, entre o fim da linha do Trensurb e o estacionamento do Cais Embarcadero. Cada tela exibe montagens feitas com fotos do autor de O Tempo e O Vento (1949-1961) e de lugares da cidade que, de tão emblemáticos, serviram de cenários para alguns de seus livros.
Ao olhar para o lado direito da avenida, em direção ao Guaíba, quem atravessa o trânsito intenso da Mauá poderá contemplar fotos da Igreja das Dores, do Jardim da Hidráulica, além dos bairros Petrópolis e Cidade Baixa, entre outros lugares. Também há frases de Erico retiradas de obras como Olhai Os Lírios do Campo (1938) e O Resto é Silêncio (1943).
A exposição no Muro da Mauá é inspirada no livro que Leonid e Josué Guimarães, autor de É Tarde para Saber (1977), lançaram na década de 1980, A Porto Alegre de Erico. Enquanto o escritor ficou responsável por selecionar trechos de obras de Erico, o fotógrafo ilustrou as páginas com suas imagens. Para a exposição, contudo, foram selecionadas fotografias diferentes, até então inéditas e escolhidas a dedo no acervo gigantesco que Leonid mantém envolvendo a obra e a vida de Erico.
Segundo seu retratista mais íntimo, o escritor era um homem que gostava de ter por perto os mais diferentes tipos de gente. O próprio fotógrafo se distinguia entre aqueles que eram convidados a comparecerem na casa da família Verissimo.
— Eu era o cabeludo, o malucão — diz.
Após a morte de Erico, em 1975, Streliaev saiu de carro pelo Rio Grande do Sul para retratar cenários que remetem à saga de O Tempo e o Vento. A viagem durou três meses e resultou no livro O Rio Grande de Erico (2005), que teve nova edição em 2021. O fotógrafo se considera um bom intérprete das palavras do homem com quem conviveu quase estreitamente.
— O resumo da obra do Erico é a seguinte: cenários reais e personagens imaginários. Faço uma tentativa de interpretar suas palavras. Uma humilde tentativa.
A Porto Alegre de Erico estampará o Muro da Mauá até fevereiro do ano que vem, quando uma nova fase ilustrará com outras imagens o muro de concreto que percorre uma das avenidas mais importantes da Capital.