Lançado no Rio Grande do Sul em 20 de setembro de 2013 — no restante do Brasil, a data de estreia foi uma semana depois, no dia 27 —, o filme O Tempo e o Vento completa exatamente 10 anos neste Dia do Gaúcho. E, mesmo que o longa-metragem tenha divido opiniões, entre os que adoraram a produção e os que o criticaram como adaptação da obra de Erico Verissimo, alguns elementos foram unânimes. Um deles, sem dúvida, foi a interpretação de Thiago Lacerda como Capitão Rodrigo Cambará.
Em conversa com GZH, o ator, que conta sobre a sua relação com a cidade cenográfica de Santa Fé, em Bagé, e como levou um pedaço vivo dela consigo para o Rio de Janeiro, também fala sobre a experiência de dar vida a um dos protagonistas de uma das sagas mais celebradas da cultura gaúcha. De acordo com o carioca que foi adotado pelo Rio Grande do Sul, quando foi escalado para viver o Capitão Rodrigo, ele compôs o personagem pensando em dar a sua personalidade, mas também referenciando o que veio antes dele.
— Quando assisto ao filme, eu fico feliz porque percebo o Capitão, eu vejo o Capitão no filme. Acredito que o Erico está lá. O que eu pretendia com o meu Capitão era registrar, na minha contação de história, o respeito que eu tenho pela obra do Erico, o respeito que tenho pela história do Rio Grande do Sul, pela história do povo do Rio Grande do Sul, do Brasil. E queria também fazer uma homenagem pessoal ao Tarcísio (Meira, intérprete anterior de Rodrigo Cambará), que sempre foi uma referência. E eu fico muito feliz com o resultado — explica Lacerda.
Capitão Rodrigo com características "equinas"
Na hora da criação de seu Capitão Rodrigo, Lacerda pretendia trazer algo inédito, explorar mais a questão imagética. E, por isso, decidiu imprimir uma energia animal para o personagem:
— Quis que o meu Capitão Rodrigo caminhasse, parasse e se portasse como um cavalo, dando essas características mais equinas para o personagem.
Submerso na cultura gaúcha, o artista detalha que a sua relação com o Estado é antiga — quem não se lembra do seu icônico Giuseppe Garibaldi em A Casa das Sete Mulheres (2002), não é? — e ressalta que por aqui fez muitos amigos e, também, que o solo gaúcho é muito importante para a sua carreira.
— É uma história de adoção, mesmo. Eu fui adotado pelo Estado, pela cultura, pelo povo gaúcho, e é recíproco. De uma certa maneira, adotei a cultura, adotei o Estado, adotei a mitologia de fronteira. É uma relação de aceitação, de acolhimento, de interesse mútuo. Eu me sinto em casa quando estou no Rio Grande, eu me sinto realmente acolhido, bem-vindo, me sinto respeitado — salienta o ator.
Diretor e elenco não sabiam da trajetória de Cris Pereira na comédia
Dentro de O Tempo e o Vento, um dos personagens com quem o Capitão Rodrigo de Thiago Lacerda mais interagiu foi Juvenal Terra, que viria a ser seu cunhado na ficção. Este é um ponto já conhecido da história de Erico Verissimo; porém, tem um elemento que, ainda hoje, uma década após o lançamento do filme, surpreende o público: o intérprete do irmão de Bibiana.
O personagem é vivido por Cris Pereira, que foi escalado para viver Juvenal sem que Jayme Monjardim e o restante do elenco soubessem de sua longa carreira como comediante. E, assim, durante as gravações, foi uma surpresa para todos quando começaram a descobrir a sua veia cômica e o sucesso que ele fazia em solo gaúcho com seus personagens famosos, como Jorge da Borracharia.
— Até hoje, pessoas que me seguem ficam surpresas. "Mas quem tu eras no filme?", me perguntam. Quem começou a me acompanhar faz pouco tempo vê que o Cris é o Jorge da Borracharia, o Gaudêncio, os personagens de comédia, mas não é só isso, cara. O Cris, além de humorista, além de comediante e de roteirista, é um ator que trabalha em gêneros, tanto na comédia quanto no drama — explica o intérprete de Juvenal Terra.
Essa veia de humor, de fato, era algo que os colegas não estavam esperando.
— O Cris foi um uma grata surpresa, um colega de set divertido, com jogo vivo, com um pé no humor que era um pouco inesperado para mim. A gente estabeleceu uma conexão imediata, uma cumplicidade forte. A gente bateu muita bola, trocou muito, e eu tenho certeza de que o Juvenal dele foi influenciado, de uma certa maneira, pelo meu Capitão, e o meu Capitão, de uma certa maneira, foi influenciado pelo Juvenal do Cris — elogia Lacerda.
Repercussão do filme poderia ter sido ainda maior, afirma Cris
Cris reforça que o seu grande amor não é a comédia, mas, sim, a arte. Por isso mesmo, apesar de se manter como um trabalhador do humor, vislumbra novos desafios, como um novo filme ou um espetáculo mais sério, tal qual o desafio de O Tempo e o Vento. Sobre a adaptação da obra de Erico Verissimo, o único lamento que o ator carrega é sobre o sucesso da produção:
— Eu só acho que a repercussão poderia ter sido ainda maior, porque é uma baita obra e ficou bacana demais o filme. É que nem um vídeo que tu fazes achando que todo mundo vai assistir e a galera não assiste como tu imaginas. Mas, depois, lá na frente, bomba. E eu acredito que, com O Tempo e o Vento, vai acontecer isso, porque ficou uma obra muito maravilhosa.
Lançado em 2013, o filme teve um orçamento pomposo, estimado em R$ 15 milhões. Levando cerca de 710 mil espectadores aos cinemas, obteve uma renda aproximada de R$ 7,7 milhões. O Tempo e o Vento está disponível na Netflix, e a versão estendida do longa-metragem, editada como minissérie, pode ser vista no Globoplay.