Há 20 anos, os moradores de Porto Alegre foram aos cinemas e passaram boa parte da projeção de O Homem Que Copiava apontando para a tela com um sorriso no rosto ao reconhecer um pedaço da Capital durante as andanças do personagem André, vivido por Lázaro Ramos. O longa-metragem de Jorge Furtado foi lançado em 13 de junho de 2003 e tornou-se um clássico não só no Estado, mas no Brasil inteiro.
A história do operador de fotocopiadora foi escrita e dirigida por Furtado e, além de Lázaro, ainda teve no elenco Leandra Leal, Luana Piovani, Pedro Cardoso e Júlio Andrade. Ao interagirem com a cidade, eles marcaram estes diversos pontos da Capital no imaginário gaúcho — dificilmente, alguém que passe pelas escadarias da ponte móvel não vai lembrar da cena dos personagens pulando delas em um banco de areia. E este é só um exemplo.
A reportagem de GZH saiu pelas ruas de Porto Alegre em busca destes locais para, duas décadas depois, mostrar o que mudou, o que continua igual e ver se ainda existe algum resquício do filme pela cidade.
A gráfica
O local em que André trabalhava no longa realmente existia na cidade — e ainda existe! Porém, com nome diferente. Enquanto no filme o espaço se chama Gomide, a gráfica de verdade leva o nome de A Bayadeira e fica na Avenida Osvaldo Aranha, número 1.000, no bairro Bom Fim.
O local teve mudança de proprietários — em 2010, saiu o casal Jones da Silva Marona e Maria Alice Marona e entraram André Ricardo da Silva e Lilian Rodrigues Becker, também companheiros — e também se modernizou, transformando-se totalmente, tanto interna quanto externamente. O que ficou da época foi o funcionário Jorge Ricardo de Oliveira, encadernador que trabalha na loja há mais de 40 anos.
Para o filme, a gráfica passou por grandes alterações feitas pela direção de arte, comandada por Fiapo Barth. Foi necessário trocar o nome do espaço na fachada, por exemplo, bem como alterar a parte interna, para que a loja funcionasse aos propósitos da narrativa.
A ponte móvel
É da escadaria da ponte móvel que Feitosa (Andrade) pula para a morte, enquanto chama André (Lázaro) de "cagalhão". A escadaria em si pouco mudou, mas o monte de areia no qual as estacas que matam o bandido ficam escondidas não está mais lá.
O restante do local segue bem parecido com o que era 20 anos atrás. Porém, ao comparar a cidade de cima da ponte, é possível ver alguns novos edifícios pela cidade.
Lotérica
A lotérica Gato Preto II, na qual André entra para fazer um jogo de loteria para trocar a nota falsa de R$ 50 e, para distrair a atendente, pergunta sobre a imagem de anjo que ele carrega consigo, não existe mais. O espaço, que ficava na Avenida Farrapos, agora é uma loja que vende rolamentos.
O apartamento e o clube Gondoleiros
A residência de André era na esquina da Avenida Presidente Franklin Roosevelt, bem em frente ao clube Sociedade Gondoleiros, no bairro São Geraldo. O prédio em que o protagonista vivia segue lá, com poucas mudanças. Já o clube mudou. Agora, o espaço abriga uma empresa de coworking, mas o tradicional barquinho com os gondoleiros foi mantido. Porém, o monumento já não é mais branco e azul, mas, sim, todo dourado.
+"O Homem Que Copiava" mostrava Porto Alegre pelos olhos de Jorge Furtado há 20 anos
+Como foi o dia em que a ponte móvel fechou para gravações de "O Homem Que Copiava"
Cais Mauá
Um dos pontos mais marcantes de O Homem Que Copiava é o Cais Mauá. É por lá que André e Silvia (Leandra) fazem confidências, juras de amor e, finalmente, beijam-se. No local em que o beijo ocorre pouca coisa mudou, mas é possível ver algumas diferenças. Agora, menos navios estão por lá.
Praça
Dentro do Cais Mauá, que segue no meio de um imbróglio para a sua revitalização, a praça Edgar Schneider já não recebe mais visitas e, atualmente, o mato alto dificulta o acesso. Porém, foi ali que, duas décadas atrás, André e Silvia protagonizaram uma das cenas mais interessantes de O Homem Que Copiava — inclusive, a imagem deles sentados aos pés da escultura As Moças da Fonte, do alemão radicado em Porto Alegre Alfred Hubert Adloff, foi utilizada para ilustrar o cartaz da produção. Hoje, as estátuas estão deterioradas, escondidas atrás do muro da Mauá, rodeadas por árvores que já apresentam marcas do tempo.
A loja
O local em que a personagem Silvia trabalhava se chamava, coincidentemente, Silvia. A loja de moda feminina, porém, existia com outro nome: Casa Elsa. A direção de arte, inclusive, teve de mexer na estrutura da fachada, mudando o letreiro para o nome idealizado para o filme.
Hoje em dia, a mesma família segue dona do local, mas ele mudou de nome também, após uma reforma, pouco depois das filmagens do longa. Agora, a loja se chama Tásken. O endereço é o mesmo, bem na esquina da Avenida Venâncio Aires com a Rua General Lima e Silva, na Cidade Baixa.
Cláudio Negreiros de Souza, que trabalha como porteiro da empresa há 24 anos, recorda que fecharam a loja por cerca de uma semana e diz que deu bastante bagunça, mas que foi divertido acompanhar as filmagens.
— Volta e meia, estou ali na frente e o pessoal passa e pergunta: "Aqui que foi gravado O Homem Que Copiava, né?". E eu respondo: "Foi aqui mesmo". Ainda tem bastante comentário sobre o filme. E o chambre que o Lázaro compra ficou por anos guardado aqui na loja. Depois, foi vendido (risos) — recorda Souza.
O restaurante
A mesa número 4 do restaurante e lancheria Guga's tem um porta-retratos com um frame de O Homem Que Copiava, em que aparece André e Silvia sentados no local, em cena gravada ali. O proprietário, Gilberto Costantin, que tem orgulho do seu estabelecimento ter servido de locação para o filme, lamenta que todos as fotos que fez com sua máquina analógica não puderam ser reveladas.
— Dizem que os atores usavam uma coisa nas roupas para queimar as fotos. Não sei se é verdade — confabula.
Mas existem bons registros do filme no local. Inclusive, ele próprio aparece de relance em algumas cenas, entregando lanches no balcão. E fica todo feliz quando relembra que o longa chegou a ser exibido nos Estados Unidos — o que o coloca como uma estrela internacional, não é? Costantin recorda que todo o segundo andar do estabelecimento se tornou camarim para os artistas, que se trocavam e tiravam um cochilo entre uma cena e outra, durante os três dias que o espaço foi alugado pela equipe.
Localizado na Avenida Protásio Alves, 154, no bairro Rio Branco, o Guga's em si não mudou muito desde a época de gravação do filme. Apesar de não receber clientes no balcão, o bar mantém o mesmo clima de 20 anos atrás, além de servir um cardápio digno, com uma a la minuta de primeira — a reportagem provou, é claro, e entendeu o motivo da escolha do espaço.
— E o pessoal reconhece ainda hoje que aqui foi gravado o filme. Reconhece mais hoje do que lá atrás, na verdade — diz Costantin, que é dono do local há 27 anos.