
Morreu nesta terça-feira (13), aos 98 anos, em Salvador, o médium espírita Divaldo Franco. Ele era um dos principais nomes do espiritismo brasileiro nas últimas décadas.
O médium ficou conhecido tanto pelo trabalho doutrinário quanto por ações sociais de grande alcance, sendo frequentemente considerado como o sucessor natural de Chico Xavier, que faleceu em 2002.
A trajetória de Divaldo se confunde com a história recente do espiritismo no país. Ao longo de mais de 70 anos, realizou mais de 20 mil conferências em 71 países, publicou cerca de 260 livros e fundou instituições voltadas à assistência de populações em situação de vulnerabilidade.
A Mansão do Caminho, em Salvador, é a mais conhecida delas e ainda hoje acolhe, educa e atende milhares de crianças, adolescentes e famílias de baixa renda.
Quem era Divaldo Franco?
Caçula de 13 irmãos, Divaldo Franco nasceu em 5 de maio de 1927, em Feira de Santana, na Bahia, em uma família católica. Desde muito pequeno dizia ver e ouvir espíritos.
Segundo a biografia oficial, ele relata que, aos 4 anos, teria conversado com a avó já falecida. As manifestações mediúnicas, no entanto, não eram bem recebidas pelos familiares. Durante a juventude, enfrentou resistência da família, que via os relatos espirituais como "demoníacos".
A aceitação do dom veio apenas após um período de paralisia ainda na juventude. Na época, a família buscou auxílio médico sem sucesso, até que uma médium visitou o lar e identificou a origem espiritual do sofrimento.
A partir desse episódio, Divaldo se aproximou do espiritismo e passou a estudar a doutrina codificada por Allan Kardec.
Início da missão espírita
Em 1947, ao lado do amigo Nilson de Souza Pereira, Divaldo fundou o Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador. Poucos anos depois, em 1952, criaria o projeto que se tornaria sua grande obra social: a Mansão do Caminho.
Localizada no bairro Pau da Lima, a entidade começou como um pequeno centro de acolhimento e se expandiu até se tornar um complexo educacional e assistencial, com escolas, oficinas profissionalizantes e atendimento médico gratuito.
Até hoje, o espaço é mantido com recursos da venda de livros mediúnicos, gravações de palestras, doações e parcerias institucionais.
Divaldo nunca teve filhos biológicos, mas era reconhecido como pai por mais de 600 jovens que passaram pela instituição ao longo das décadas.
"Tio Divaldo, como carinhosamente é chamado, foi também um pai e educador incansável, tendo adotado mais de 650 filhos, que cresceram nas antigas casas-lares da Mansão do Caminho. Por tudo isso, recebeu mais de 800 homenagens de instituições culturais, sociais, religiosas, políticas e governamentais, pela sua total doação às causas humanitárias", afirma a publicação da Mansão do Caminho.
Escritor, orador e pacifista
A mediunidade de Divaldo também foi marcada por uma produção intensa. Ele psicografou livros atribuídos a dezenas de autores espirituais, como Joanna de Ângelis, e somou mais de 10 milhões de exemplares vendidos, traduzidos para 17 idiomas. As obras abordam temas como reencarnação, moral cristã, saúde espiritual e relações familiares.
Além da literatura, o médium viajou o mundo em conferências e seminários. Falou em universidades, fóruns inter-religiosos e eventos públicos em cinco continentes. Também representou o espiritismo em reuniões na ONU e em instituições ligadas aos direitos humanos e à paz mundial.
Em 1998, Divaldo criou o movimento ecumênico Você e a Paz, com edições anuais em Salvador e outros municípios. O evento reúne representantes de diversas religiões para divulgar mensagens de fraternidade, diálogo e não violência. A iniciativa já foi realizada em mais de 75 cidades de 14 países.
Reconhecimento em vida
Além das obras, a atuação de Divaldo Franco também ultrapassou os círculos religiosos. Em 2019, sua trajetória foi retratada no cinema com o filme Divaldo: O Mensageiro da Paz, estrelado por Bruno Garcia. No mesmo ano, recebeu homenagens em diversas casas legislativas pelo legado social e espiritual.
Com mais de sete décadas de atuação, Divaldo passou a ser visto como a principal figura do espiritismo no Brasil após a morte de Chico Xavier.
Embora evitasse comparações, era considerado por muitos como “o maior médium em atividade do país” até seus últimos anos.
Vinda a Porto Alegre

Em outubro de 2023, Divaldo Franco esteve no Rio Grande do Sul para uma palestra no Centro de Eventos da PUCRS, em Porto Alegre. Em entrevista a Zero Hora à época, o líder religioso falou sobre dificuldades vividas pela humanidade, como as guerras:
— É um momento muito grave, resultado das desinteligências entre as nações. A criatura humana ainda não compreendeu que a guerra não leva à edificação do bem. Mesmo as conquistas bélicas, que podem se transformar em recursos futuros, nunca perdem o caráter de destruição, fomentando o ódio — disse Franco.
Últimos dias
Divaldo lutava contra um câncer de bexiga desde novembro de 2023. Morreu em Salvador às 21h45min de terça-feira (13), vítima de falência múltipla dos órgãos.
Conforme o desejo do próprio, o velório ocorreu em ato público no ginásio da Mansão do Caminho, das 9h às 20h desta quarta-feira (14). Já o enterro será às 10h de quinta (15), no Cemitério Bosque da Paz, também na capital baiana.
*Produção: Murilo Rodrigues