"Quem vê close não vê corre". A frase comumente utilizada por influenciadores pode até já ter saturado, mas ela resume muito bem uma das sequências que compõem O Homem Que Copiava, que está completando 20 anos neste 13 de junho. Ela se passa na icônica ponte móvel de Porto Alegre. Porém, para que isso pudesse ocorrer, foi necessário passar por um processo trabalhoso e demorado — e, tudo isso, por uma hora de tempo de gravação.
— O Hitchcock dizia que "quando filmar em Paris, enquadra a Torre Eiffel" — explica o diretor, Jorge Furtado. — E eu pensei: "Se vou filmar em Porto Alegre, vou filmar a nossa ponte móvel. Quem mais tem uma ponte móvel que passa um navio por baixo?". Tinha de colocar isso no filme de algum jeito. Enfiei aquela história da ponte e foi a cena mais difícil de filmar da minha vida até hoje.
E não é para menos. Na parte final do longa, André, personagem de Lázaro Ramos, sobe a ponte móvel do Guaíba para entregar uma mala de dinheiro para Feitosa (Júlio Andrade). Quando o bandido descobre que, na verdade, estava sendo ludibriado pelo mocinho, inicia-se uma perseguição sobre um dos cartões-postais da Capital — com direito a içamento do vão móvel e um navio passando ao fundo.
Para a realização da sequência, que dura pouco mais de dois minutos, porém, foram necessários meses de negociação com a concessionária responsável pela ponte — na época, a Concepa —, para conseguir que a até então única entrada de Porto Alegre para quem vem do Sul ficasse fechada por uma hora. A equipe de O Homem Que Copiava conseguiu a liberação para gravar no espaço. Porém, em um domingo — mais especificamente no dia 21 de outubro de 2001 —, do meio-dia às 13h.
A equipe toda teve de fazer exames médicos para subir na torre que tem na ponte, carregando nada menos do que cinco câmeras. Tudo para não perder o momento em que o navio iria passar. Afinal, como diz Furtado, não se pode dizer para um navio passar de novo — era uma única chance. A ponte, então, foi fechada e se formou um engarrafamento de cada lado.
Para evitar que houvesse qualquer problema, a produção posicionou um helicóptero do lado que entra em Porto Alegre, caso fosse necessário socorrer e levar para algum hospital da Capital alguém que estivesse passando mal ou em trabalho de parto. Além disso, recreacionistas foram colocados nas duas pontas da ponte para entreter as crianças e oferecer lanches.
— Foram meses e meses de preparação e aquela filmagem louca, com todo mundo correndo para dar certo. E quando terminamos, a gente falou "tá valendo, pode fechar". Nos encostamos na calçadinha que tem e todo mundo nos xingando: "Vagabundo, vai trabalhar" (risos). "Vocês não têm nada para fazer? Vão trabalhar, seus vagabundos". Gente, foi uma trabalheira, se vocês soubessem o trabalho que deu (risos). Foi bem complicada aquela cena, mas ficou incrível — diverte-se Furtado.
No final, deu tudo certo. Porém, a produção não poderia imaginar que faria uma publicidade imensa, do tamanho de um navio, mesmo que sem querer.
— O navio que passou era da Petrobras, que é patrocinadora do filme. Então, passa aquele navio e, gente, é o maior merchandising. Eu nunca vi ninguém fazer um merchandising assim (risos). Passa um navio com o patrocinador — relembra o diretor.
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O pulo
Apesar de não terem sido gravadas no mesmo dia, as cenas que sucedem a sequência da correria na ponte mostram André e Feitosa partindo para a escadaria da ponte. Ali, o protagonista havia preparado uma armadilha para o seu inimigo (que era um ex-amigo): ele colocou estacas no meio da areia em que ambos costumavam pular.
Feitosa sempre se orgulhava de pular de uma parte mais alta do que André, enquanto o minimizava chamando-o de "cagalhão". Para Júlio Andrade, a cena em questão é tão emblemática quanto foi complicada de ser feita. Segundo ele, um grande time foi envolvido para conseguir criar o momento da melhor maneira possível — de dublês a efeitos especiais, com caixas empilhadas para amortecer a queda.
— Claro que eu não pulei da parte mais alta. Foi da parte mais ou menos, mas já foi uma adrenalina incrível, suficiente para nunca mais esquecer. E é uma cena tão legal e tão emblemática que até hoje as pessoas que se lembram e me encontram na rua querem falar de O Homem Que Copiava e me chamam de cagalhão. "Cagalhão!". Então, esse "cagalhão" foi um "cagalhão" que ficou para a história. E eu tenho o maior carinho por essa cena e por esse filme — recorda Andrade.